terça-feira, maio 30, 2006

Tele-selecção

Mas será que não se podem ver notícias na televisão sem se apanhar com os treinos da selecção, com o calor que faz no estágio da selecção, com as homenagens à selecção, com a governadora civil de Évora a invocar «a democracia, a liberdade e a esperança» a propósito da selecção, com o povo a esganiçar-se com a selecção, com as criancinhas que tiveram autógrafos dos jogadores da selecção, com os jovens com paralisia cerebral que foram ver a selecção?

domingo, maio 28, 2006

Velho mas rijo

Um dos canais de televisao franceses passou no sàbado à noite um programa em que o escritor, ex-ministro da Cultura e antigo resistente gaulista Maurice Druon, que acaba de publicar mais um volume das suas memorias, defendeu sonora e corajosamente Maurice Papon, perante a oposiçao (articulada e civilizada, diga-se a verdade) do socialista Jack Lang, os comentàrios pseudo-sardonicos de um apresentador imbecil e as vaias constantes de uma audiencia "jovem" e "cool". Druon, que esta à beira dos 90 anos, aguentou a pé firme a sua posiçao solitària e defendeu ainda outras ideias "reaccionàrias", como a reinstauraçao da pena da morte em França (à qual se opos durante muito tempo, fez questao de frisar), o bem falar e bem escrever o frances (mais vaias e chufas do publico), o corte radical nos beneficios sociais e a herança colonial francesa. No final, Druon e Lang cumprimentaram-se cordialmente, perante o espanto de uma senhora "feminista" que também entrou no debate, mas esteve quase sempre calada por nao ter capacidade de resposta intelectual, preferindo mostrar-se muito chocada e balbuciar a sua vaga indignaçao sempre que Druon se manifestava, e em especial quando Jack Lang concordava com ele (o que sucedeu mais vezes do que se poderia pensar). A televisao francesa està praticamente colonizada pelo politicamente correcto e pelo "pensamento unico", mas mesmo assim ainda convida homens como Druon e podemos assistir a debates como este. Que a televisao portuguesa possa acolher um programa com estas caracteristicas e com um convidado tao "nao-alinhado" ideologicamente, é pura ficçao cientifica.

sábado, maio 27, 2006

Nos confins do antigo Império

Deixou de ser Timor-Lorosae para se transformar em Timor-Lorosalve-se quem puder.

quinta-feira, maio 25, 2006

Portugal de cautchu

Prepara-se o país para entrar na pior crise de todas: a dos maus resultados do futebol nacional. E eu ralado com o psicodrama do cautchu.

Os livros

Eis as Feiras do Livro de Lisboa e Porto, mais uma vez. Muito pouco cosmopolitas ou animadas por autores estrangeiros famosos, como a de Madrid, por exemplo - escusamos de ir mais longe... -, um espelho do pujante e muito variado panorama editorial espanhol. Que ao menos encontremos bastantes livros com bons descontos, para compensar a pinderiquice habitual das nossas feirazinhas. E mil vezes a intimidade acolhedora dos livros do que o frenesim cacofónico do Rock in Rio - Lisboa.

segunda-feira, maio 22, 2006

Geschichtsmüde

Tenho pensado ultimamente — eu que “sou de História” — naquela palavra alemã, quási intraduzível, que quererá dizer estar cansado da História, de História ou, sobretudo, de estórias da História.
É verdade. Reconheço e sou cada vez mais sensível a esta propensão que as sociedades modernas manifestam em relação ao passado, fenómeno aliás bastante recente, que interpreto como uma forma colectiva de má consciência, à laia de uma espécie de homenagem que o vício prestaria à virtude.
Não que decadência queira forçosamente dizer que exista agora mais baixeza, mais estupidez e mais vulgaridade que noutras épocas — a este respeito todas elas se equivalem —, quero apenas significar que, hoje, são aquelas características que dão o tom.
Aliás, quanto mais os povos falam de si próprios, mais femininos me aparecem. Evocando e chamando, evidentemente, o nome do Pai.

domingo, maio 21, 2006

A comédia da liberdade (2)

Depois da censura da Comédie Française à peça de Peter Handke, levantam-se agora vozes em França a pedir um "castigo" mais exemplar para o dramaturgo austríaco que cometeu os "crimes" de comparecer no enterro de Slobodan Milosevic e declarar que a Sérvia também tinha sido uma vítima no conflito dos Balcãs. Essas vozes "justiceiras" pedem que as peças de Handke sejam proibidas durante um ano nos teatros europeus. Alguém falou em "Europa das liberdades"?

sábado, maio 20, 2006

A comédia da liberdade

A Comédie Française cancelou a apresentação da nova peça de Peter Handke, porque o dramaturgo austriaco compareceu no funeral de Slobodan Milosevic e declarou que a Sérvia era também uma vítima do conflito nos Balcãs. Eis a comédia da liberdade representada em todo o seu esplendor em França.

quarta-feira, maio 17, 2006

Memória e passado

Se me lembrasse, por miúdo, de todos os detalhes do passado, se pudesse consultar à vontade a ementa do vivido, teria talvez menos sede de viver ou de voltar a ouvir histórias algo repisadas que tomam, sei lá porquê — talvez graças ao papel representado pelo próprio esquecimento —, um tom singular, fazendo até ressoar acordes inauditos e melodias excepcionais.
Como se a memória fosse uma mobília que tratássemos de deslocar ou remover, implicando e modificando essa mudança a concordância, o acordo, a harmonia, em suma, a ligação ao conhecido.
O que pode fazer esquecer, por leves momentos, que recordar não passa de pobre indemnização, mero substituto da posse daquilo que já não se possui.

Português às cruzinhas

O ensino do Português é o que sabemos, com as consequências que sabemos… Recentemente, umas inteligências perdidas asseguram-nos que a solução passa pelos chamados testes de “cruzinhas”. É caso para dizer que é pior a emenda que o soneto. A defesa deste sistema é hoje muito bem desmontada por Vasco Graça Moura, que afirma categoricamente que “continuam os equívocos pedagógicos numa área tão sensível. Não sei que luminárias os engendram. Mas sei que não se pode aceitar que os exames de Português obedeçam ao princípio do Totobola.

segunda-feira, maio 15, 2006

Amigos de velha data

Acho curioso como os reencontros com amigos de velha data, ou de infância, têm deixado cada vez mais, para mim, de se traduzir numa verdadeira troca, aceleradora de uma autêntica permuta que, de uma maneira ou de outra, me melhora a alma.
Como se, sob a capa da meia-frase, da palavra sugerida, do gesto aparentemente cúmplice, nada de realmente renovador pudesse já acontecer.
Até parece que tudo foi e está dito. É um descanso. E também um bocejo.

domingo, maio 14, 2006

A queda do Império

Vai por aí uma onda de indignação, uma vaga de protestos e até uma petição na Internet, por causa da venda do Café Império à IURD. Mas a verdade é que o Café Império estava em declínio há muitos anos, que o ambiente era degradado e lúgubre, que já não se comia lá como dantes (a um amigo meu, saiu-lhe uma barata no bife da última vez que lá foi - e foi mesmo a última), que o serviço era mau e descortês, que as condições higiénicas eram lamentáveis. Porque é que se há-de «salvar» o Café Império, se foi o Café Império que se perdeu ele mesmo para os seus frequentadores? Eu não tenho uma suspeita de simpatia pela IURD, que estraga os cinemas, as televisões e agora os restaurantes. Mas o Café Império é que se deixou cair de podre, e a IURD limitou-se a aproveitar a situação. E porque é que só agora, com o negócio consumado, é que as pessoas acordaram para o triste e decadente estado do outrora distinto e florescente estabelecimento?

sexta-feira, maio 12, 2006

Carrilhão

As proporções da teoria da conspiração inventada por Manuel Maria Carrilho são tamanhas, que o prefácio do seu livro «Sob o Signo da Verdade» devia ter sido escrito por Oliver Stone.

quarta-feira, maio 10, 2006

Da janela abaixo

Um ministro que se proclama iberista numa visita ao país vizinho, outro que obriga os portugueses da raia alentejana a irem nascer a solo espanhol, um primeiro-ministro que afirma que as prioridades do seu governo são «Espanha, Espanha, Espanha!». Quanto a mim, estão já reunidas as condições para umas quantas defenestrações.

segunda-feira, maio 08, 2006

A Praia de Carcavelos

(segundo Pessoa)

Ó praia de Carcavelos,
dolente na tarde calma,
cada rusga da polícia
soa dentro da minh'alma...

E é tão lento o teu soar,
tão como triste da vida,
que cada bolsa palmada
tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto,
com teu bafo de caipira,
és para mim como a Andringa,
soas-me sempre a mentira.

A cada pancada tua,
vibrante no céu aberto,
sinto o musseque mais longe,
sinto os meu brother mais perto...

Se a moda pega...

Depois de levar os «jovens problemáticos» à praia, a polícia leva-los-à também a jantar fora e à discoteca, e depois irá pô-los a casa.

domingo, maio 07, 2006

Esquizofrenia

Polícia vai levar jovens problemáticos à praia no dia do arrastão de Carcavelos

As autoridades levam “jovens” dos bairros dos que nada fizeram a um local onde nada aconteceu para evitar que tudo se repita... Um caso para a urgência de psiquiatria!

sábado, maio 06, 2006

Problema de postura

O Tio Geleias diz numa entrevista ao «Espesso» de hoje que a atarefadíssima vida de Ministro de Negócios Estrangeiros lhe causa muitas dores na coluna vertebral. Mas como é que lhe pode doer aquilo que ele nunca teve?

sexta-feira, maio 05, 2006

Patriotas só na bola

Enquanto o ministro ex-comuna Mário Lino faz profissão de fé iberista a um jornal espanhol e ninguém tuge nem muge nos media «de referência», nem no governo, o seleccionador brasileiro- nacional organiza uma gigantesca bandeira «viva» formada só por mulheres, para apoiar Portugal no Mundial. Será que o «marketing» da bola é mesmo o derradeiro reduto dos patriotas?

O Sol do Saraiva (2)

E não é que o «Sol» do arquitecto é igualzinho ao «Expresso» do Balsemão?

quinta-feira, maio 04, 2006

Sugestão de leitura

História de um feito da Guiné, com informações e documentos fornecidos pelo próprio Alpoim Calvão, e testemunhos orais e escritos de outros participantes na missão.

quarta-feira, maio 03, 2006

O Sol do Saraiva

O arquitecto Saraiva, ex-«Expresso», apresentou hoje o projecto do seu novo semanário, baptizado «O Sol». Tendo em conta que os níveis de leitura da imprensa escrita continuam a descer no nosso país, que o fenómeno dos títulos gratuitos está para ficar e crescer, e que os portugueses cortam logo nos jornais quando a crise aperta, prevejo que o «Sol» do arquitecto Saraiva seja de pouca dura.

Nostalgia televisiva

Serei eu o único que se recorda desta série, embora muito esfumada na memória infantil? Cheguei a ter revistas em quadradinhos do «Rin-Tin-Tin», edições brasileiras traduzidas das originais americanas. Quem se lembra do nome das duas personagens que enquadram o pastor alemão mais famoso dessa época remota, mas tão saudosa, da televisão? (E já agora, dos actores que as interpretavam?).

terça-feira, maio 02, 2006

A verdade sai da boca das crianças

A criança israelita: «O meu pai disse-me que vocês árabes são terroristas animalescos e maléficos!».
A criança palestiniana: «O meu pai não me disse nada. Foi assassinado pelo teu...»

segunda-feira, maio 01, 2006

Vox Populi

Ouvido no domingo, numa pastelaria de Lisboa:

Criança - «Pai, que dia é amanhã?»
Pai - «É o primeiro de Maio, filho».
Criança - «Pra que é que serve o primeiro de Maio?»
Pai - «Para irmos passear e apanhar sol com a mãe e a mana».
Criança - «E pra que é que serve o 25 de Abril, pai?»
Pai - «Para a mesma coisa, filho».
Criança - «Então são bons».
Pai - «Só por isso, filho».