Ariel mata mais branco
Nesta altura em que o primeiro-ministro de Israel agoniza num hospital, e já anda muita gente pelos media a chamar-lhe «homem de paz» e a louvar-lhe os esforços desenvolvidos para a «resolução do problema do Médio Oriente», é oportuno recordar alguns dos antecedentes «pacifistas» e dos «esforços» beneméritos de Ariel Sharon:
- Em 1953, e após haver integrado, oito anos antes, a organização sionista de luta armada Haganah, Ariel Sharon tornou-se líder da Unidade 101, criada para combater os árabes, tendo comandado um operação sangrenta contra a aldeia de Kibya, na Cisjordânia, fazendo explodir 45 casas e matando 69 moradores. As acções terroristas dessa unidade incluíram tantas mortes de civis palestinianos, que foi emitida uma ordem proibindo matar mulheres e crianças.
- Em 1956, Sharon foi acusado pelos seus superiores de insubordinação e desonestidade na campanha do Canal do Suez. Segundo o historiador militar israelita Martin Van Cheveld, da Universidade Hebraica de Jerusalém, os soldados de Sharon avançaram «da forma mais incompetente possível, resultando tal acção numa batalha totalmente desnecessária, que se tornou a mais sangrenta da guerra». Na ocasião, os seus próprios comandados acusaram Sharon de oportunismo desumano, para tentar construir a sua reputação à custa deles.
- No início dos anos 70, e enquanto comandante militar no sul de Israel, Sharon reprimiu os palestinianos na faixa de Gaza, através de deportações em massa de famílias inteiras, chegando a abrir uma larga avenida no meio de um campo de refugiados, destruindo centenas de casas.
- Entre 1977 e 1981, Ariel Sharon foi Ministro da Agricultura no primeiro governo do Likud e organizou o primeiro grande movimento de colonização judaica nos territórios ocupados.
- Durante a invasão do Líbano em 1982, Sharon era Ministro da Defesa de Menachem Begin, e foi o responsável pelo massacre de mais de dois mil civis palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, localizados numa região de Beirute controlada por Israel e pelas milícias cristãs libanesas, que agiram durante anos a fio com procuração de Israel em acções assassinas coordenadas pelo exército judeu. O massacre de Sabra e Chatila provocou uma verdadeira comoção mundial, quando a comunidade internacional responsabilizou o governo de Israel pelos massacres. Foi instaurado um inquérito em Israel ao sucedido, que concluiu que Sharon tinha responsabilidade no massacre, sendo sugeriu que ele deixasse a pasta da Defesa.
- Sharon foi ainda ministro do Comércio e da Indústria entre 1984 e 1990, e supervisionou a gigantesca expansão de colónias judaicas no Ministério da Construção, entre 1991 e 1992.
- Ariel Sharon terá também estado na origem da proibição do escritor inglês John Le Carré de visitar Israel, após este ter escrito o livro «A Rapariga do Tambor», altamente crítico das acções clandestinas desenvolvidas pelos serviços secretos israelitas na Europa, visando a eliminação de militantes palestinianos. (Já agora, ver também o excelente filme homónimo de George Roy Hill que adapta o livro de Le Carré, com Diane Keaton, Yorgo Voyagis, Sami Frey e Klaus Kinski, nem por acaso «demolido» pela maioria da crítica americana à altura da sua estreia nos EUA, em 1984).
Aqui fica este material para a devida reflexão sobre este homem da paz (dos cemitérios) e da resolução (à mão armada) do problema do Médio Oriente.
- Em 1953, e após haver integrado, oito anos antes, a organização sionista de luta armada Haganah, Ariel Sharon tornou-se líder da Unidade 101, criada para combater os árabes, tendo comandado um operação sangrenta contra a aldeia de Kibya, na Cisjordânia, fazendo explodir 45 casas e matando 69 moradores. As acções terroristas dessa unidade incluíram tantas mortes de civis palestinianos, que foi emitida uma ordem proibindo matar mulheres e crianças.
- Em 1956, Sharon foi acusado pelos seus superiores de insubordinação e desonestidade na campanha do Canal do Suez. Segundo o historiador militar israelita Martin Van Cheveld, da Universidade Hebraica de Jerusalém, os soldados de Sharon avançaram «da forma mais incompetente possível, resultando tal acção numa batalha totalmente desnecessária, que se tornou a mais sangrenta da guerra». Na ocasião, os seus próprios comandados acusaram Sharon de oportunismo desumano, para tentar construir a sua reputação à custa deles.
- No início dos anos 70, e enquanto comandante militar no sul de Israel, Sharon reprimiu os palestinianos na faixa de Gaza, através de deportações em massa de famílias inteiras, chegando a abrir uma larga avenida no meio de um campo de refugiados, destruindo centenas de casas.
- Entre 1977 e 1981, Ariel Sharon foi Ministro da Agricultura no primeiro governo do Likud e organizou o primeiro grande movimento de colonização judaica nos territórios ocupados.
- Durante a invasão do Líbano em 1982, Sharon era Ministro da Defesa de Menachem Begin, e foi o responsável pelo massacre de mais de dois mil civis palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, localizados numa região de Beirute controlada por Israel e pelas milícias cristãs libanesas, que agiram durante anos a fio com procuração de Israel em acções assassinas coordenadas pelo exército judeu. O massacre de Sabra e Chatila provocou uma verdadeira comoção mundial, quando a comunidade internacional responsabilizou o governo de Israel pelos massacres. Foi instaurado um inquérito em Israel ao sucedido, que concluiu que Sharon tinha responsabilidade no massacre, sendo sugeriu que ele deixasse a pasta da Defesa.
- Sharon foi ainda ministro do Comércio e da Indústria entre 1984 e 1990, e supervisionou a gigantesca expansão de colónias judaicas no Ministério da Construção, entre 1991 e 1992.
- Ariel Sharon terá também estado na origem da proibição do escritor inglês John Le Carré de visitar Israel, após este ter escrito o livro «A Rapariga do Tambor», altamente crítico das acções clandestinas desenvolvidas pelos serviços secretos israelitas na Europa, visando a eliminação de militantes palestinianos. (Já agora, ver também o excelente filme homónimo de George Roy Hill que adapta o livro de Le Carré, com Diane Keaton, Yorgo Voyagis, Sami Frey e Klaus Kinski, nem por acaso «demolido» pela maioria da crítica americana à altura da sua estreia nos EUA, em 1984).
Aqui fica este material para a devida reflexão sobre este homem da paz (dos cemitérios) e da resolução (à mão armada) do problema do Médio Oriente.
27 Comentários:
Salve!
O Ariel Sharon nao foi o responsavel pelos massacres, a menos que lhe queiramos atribuir dons de omnipotencia (coisa em que nem o proprio alinaria, estou certo). Ele foi conivente com a presença das milícias, talvez nao tenha tido todos os cuidados, mas a sua afirmacao equivale a de que as vitimas dos ajustes de contas nas favelas do Rio sao da responsabilidade da policia carioca.
Mas isso e a velha falacia rousseauniana e romantica da diluicao social da responsabilidade criminal!
Valete fratres!
Um resumo elucidativo da carreira deste "homem de paz".
Caro Eurico,
Parabéns a ti e a todos pelo novo blogue e um abraço saudoso.
Salve, Jansenista! Olhe que no documentário «Massaker», sobre este tema, que passou este ano no DocLisboa, um dos milicianos libaneses entrevistados, que fazia a ligação com o comando israelita, fala no Sharon e no seu envolvimento directo na acção.
Já se sabe que foi um combatente, Caro Eurico. a questão é que era agora talvez o único com força e vontade para fazer a paz.
Permito-me sublinhar, das Suas próprias palavras: ao lado de quem lutava ele no Sul do Líbano? E contra quem?
Ó amigo Porto, o homem foi mais um carniceiro do que um combatente. Quanto à paz da modalidade Sharon, vou ali e já venho...
Pergunta P. C. Porto: «ao lado de quem lutava ele [o Ariel] no Sul do Líbano? E contra quem?»
Vá lá, as respostas não são difíceis: 1) lutava ao lado dos que ao lado dos seus próprios invasores (que eram ele e os dele) lutavam; 2) contra os que se viam e vêem privados do «direito de retorno» à terra em que nasceram, para que desse direito possam usufruir hordas de estrangeiros que nunca antes visitaram sequer o local a que «retornam».
Fiquei inquieto (estado totalmente invulgar num Jansenista). Fiquei a saber:
1) que há combatentes que não são carniceiros. Caro Eurico, está a falar dos bombeiros?
2) que o Sr. Pedro Botelho não se importa de viver numa terra violentamente conquistada a pessoas de bem que tinham por única característica serem mouras (a menos que viva no Algarve, que comprámos em parte).
Eu, por mim, vou angustiado fazer as malas e partir à procura de um lar numa terra onde não tenham ocorrido violências dessas, e onde a defesa nacional não tenha tido nunca que empregar carniceiros...
Ao Caro Pedro Botelho:
Eu não vou por essas abstracções, sou mais terra a terra: lutava com os Cristãos que vejo como nossos, contra os radicais islâmicos que se querem tão contrários a nós que nos pretendem extinguir.
Eu amo muito o Ocidente...
A "judiofobia" canta mais alto em algumas mentes equivocadas.
E a propósito, o Ariel, como bom nacionalista, indemnizou os "colonos" que abandonaram os colonatos...
Sabemos bem o que aconteceu aos Portugueses que estiveram em África! Oh! Que pungente solidariedade dos seus compatriotas. Se calhar até é melhor ser-se judeu. Cuidam melhor dos seus.Não é verdade?
Aos amiguinhos dos palestinianos aconselha-se uma estadia em Gaza. Com direito a serem raptados, é claro...Ah,ah,ah!
Os "nacionalistas" portugueses não passam de uns mitomaníacos, só funcionam mesmo em jantaradas.
Sabem, por acaso, o queé que aconteceu no dia 25 de Abril?
Recomendo aos tertulianos dos «jantares das quartas» o seguinte texto: http://www.adl.org/main_Anti_Semitism_International/iranian_threat_faq.htm
Talvez sirva para vos abrir os olhos aos verdadeiros problemas que enfrentamos neste século. Deixem-se desse anti-semitismo bacoco que só reflecte a pequenez intelectual de quem o propugna.
http://www.adl.org/main_Anti_Semitism_International/iranian_threat_faq.htm
O endereço não ficara bem exposto no comentário anterior.
Não sei o que se passa com esta caixa de comenários. Enfim... Sigam o endereço e seleccionem o texto: "The Iranian Threat: Frequently Asked Questions"
Klaus Kinski, cliente de "La Casa del Libro" de Madrid.
O Jansenista said... "que o Sr. Pedro Botelho não se importa de viver numa terra violentamente conquistada a pessoas de bem que tinham por única característica serem mouras (a menos que viva no Algarve, que comprámos em parte)".
Não tenho procuração do Pedro, mas parece-me que o paralelo do amigo Jansenista é um tanto patareco.
Um paralelo mais correcto seria, por exemplo, a ocupação de Portugal, com instalação dos portugueses em campos de refugiados em Espanha e Marrocos, por parte de auto-intitulados descendentes dos Suevos ou Visigodos, sob o pretexto de que o território português lhes teria sido oferecido por uma aparição do deus Wotan nos cumes da Baviera.
Ou por uma invasão do nosso território, com expulsão de muitos nativos e redução dos restantes a cidadãos de segunda, por parte da diaspora libanesa, cujos antepassados fenícios / cartagineses por aqui passaram esporadicamente há alguns milénios, tudo isso à sombra de uma velha promessa do deus Baal, cuja religião se tornaria o cimento aglutinador do novo estado e o passaporte garantido para o «direito ao retorno», ainda que os retornados sacrificantes a Baal tivessem nascido na China, filhos de pais patagões...
O comentário do camarada luterano não é menos patareco do que o meu (o que é dizer muito, porque o meu é intencionalmente patareco, tratava-se de uma "reductio ad absurdum"...). É que o argumento dele parece sugerir que, antes de Israel, existia um Estado qualquer no local: erro, tratava-se de territórios administrados sob mandato da SN (depois ONU) após o colapso turco. Quando muito, aquilo seria turco, mas palestiniano não era...
Também parece sugerir que não havia já judeus na Palestina, que lá viviam desde os tempos bíblicos, que nunca sairam.
Parece sugerir: mas como estou patareco talvez eu não tenha percebido...
E já agora: as violências cometidas contras as populações mouras aquando da Reconquista deixaram de ser violências... só porque se passaram há 9 séculos?
Se vamos questionar a legitimidade das conquistas militares, onde é que os meus amigos recomendam que estabeleçamos a fronteira?
[b]O Jansenista dixit:[/b] "O comentário do camarada luterano não é menos patareco do que o meu (o que é dizer muito, porque o meu é intencionalmente patareco, tratava-se de uma "reductio ad absurdum"...)."
[b]E agora digo eu:[/b] O comentário do amigo jansenista não foi patareco por ser "reductio ad absurdum", mas sim por ser um "reductio" irrelevante. Mais precisamente, por pretender abolir o tempo e a cultura, sem oferecse I wanted to say, I already said (in an extremely lengthy post).
Scott is a great artist and a humorous writer. I've read his comic for four years, and every time something bad happens, I let out a "Damn you Max Powers!" Yet he does have a pretty intense temper. Scott's comments are fairly typical of what I've seen in the past, when he's become embroiled in a bit of webcomics drama. I am sad this is the first- and probably only- time we'll communicate, as I don't wish to be enemies.
I understand his angry reaction, as I pretty thoroughly dismembered and condemned the list he posted, using direct and uncompromising language. The things I said weren't "nice" and I'd get angry myself is someone said things like that.
Which is the point: Scott did.
He posted a list which he endorsed as both funny and true, which list had no truth in it. All of the reasons it listed were ugly parodies of real people's positions, advanced solely to insult and mock those who disagree. It was ugly, arrogant and claimed that those who disagreed were morally and mentally inferior.
Such ugliness demands a reply.
I didn't write the post to belittle or anger Scott, but to expose the falsehoods of that which he posted. It wasn't personal for me, although I expect it was for Scott. I regret the necessity of having to respond, but that's my duty.
Scott's reply to my post was based purely on emotion, sans evidence or reason. It appears to have been written solely to strike back at me by calling me names and insulting me and adds nothing new to the discussion.
He seems to have missed my main point: his list was ugly and bigoted. It compares those who disagree to slavers and racists. It constitutes an arrogant and ignorant attack on people who do not deserve such intolerance and vilification. It was contemptible and wrong. He should not have posted it, nor endorsed it.
And calling people ignorant, retarded and sex-obsessed merely proves the point again: anyone who opposes the Left's agenda will be scourged and vilified, merely for stating their opinion.
I'd like to be feted and adored like the politically correct, but I'm not dishonest enough to lie about what I believe. It's my burden to be unpopular and vilified, merely for stating the truth. I wish someone else would do this, as I hate personal attacks, but there is no one else. I wish it were otherwise and I wish I didn't have to point these truths out, but someone has to.
Scott found me via a Technorati search for "Scott Kurtz", and the first results people will see cite his list and agree with it and commend him on it. Anyone searching for Scott Kurtz will find many posts that agree an
NOTA: Houve obviamentre um glitch qualquer que misturou coisas diferentes que não me dizem respeito, enquanto o meu comentário estava a ser enviado. Passo a repeti-lo.
O Jansenista dixit: "O comentário do camarada luterano não é menos patareco do que o meu (o que é dizer muito, porque o meu é intencionalmente patareco, tratava-se de uma "reductio ad absurdum"...)."
E agora digo eu: O comentário do amigo jansenista não foi patareco por ser "reductio ad absurdum", mas sim por ser um "reductio" irrelevante. Mais precisamente, por pretender abolir o tempo e a cultura, sem oferecer nada em troca, a não ser (eventualmente) um pouco de maquiavelismo bacoco com aquele sabor a "invariância etológica" tão ao gosto da conceituada politologia jornalística lusitana. Vejamos então: de um lado temos um processo em curso em pleno século XXI em que a cidadania de um estado é concedida, encorajada e subsidiada: 1) automáticamente a todos os filhos e filhas de mãe (mas não de pai) pertencente a uma dada seita semi-racial, semi-confessional, sejam quais forem as suas origens étnicas, nacionais ou geográficas, ou a sua religião ou ausência dela, para lá desse laço matriarcal; e 2) condicionalmente ao reconhecimento por um tribunal confessional dessa mesma seita, a todo e qualquer um, tenha nascido onde tiver nascido e vivido onde tiver vivido, e pertençam os seus progenitores à etnia, nacionalidade ou religião a que pertencerem, que se converta à religião da seita. Do outro lado, temos os que nasceram e continuam a nascer nessa terra, filhos de pais que igualmente aí nasceram, e que não têm sequer o direito de regressar aos locais de onde foram e continuam a ser expulsos. O absurdo é pois inerente à questão, não precisando de «reductio» algum.
Disse ainda o Jansenista: "É que o argumento dele parece sugerir que, antes de Israel, existia um Estado qualquer no local: erro, tratava-se de territórios administrados sob mandato da SN (depois ONU) após o colapso turco. Quando muito, aquilo seria turco, mas palestiniano não era..."
E digo eu: Como o meu argumento não sugeria nada disso, em parte alguma, não há erro nenhum e teremos que ficar pelo «pareceu».
Continuou o Jansenista: "Também parece sugerir que não havia já judeus na Palestina, que lá viviam desde os tempos bíblicos, que nunca sairam."
E digo eu: Como também não sugeri nada disso, teremos que voltar a ficar pelo «pareceu».
Alegou ainda o Jansenista: "Parece sugerir: mas como estou patareco talvez eu não tenha percebido..."
E acrescento eu: Ora aí está. Teremos que ficar outra vez pelo «parece». De resto o «patareco» não é ofensivo. Pelo menos na minha intenção.
Perguntou o Jansenista: E já agora: as violências cometidas contras as populações mouras aquando da Reconquista deixaram de ser violências... só porque se passaram há 9 séculos?
Responde o Luterano: Deixaram, na medida em que já não estão em curso, se me perdoa a irreverência da chamada de atenção para o por demais óbvio que tantas vezes nos escapa. Já as aldrabices dos mitos fundadores não deixaram de o ser só porque se passaram alguns milénios. Provas vivas disso mesmo estão na regra de ouro: "melting pot" para o rebanho, "pureza" para o pastor.
Otra vez o Jansenista: Se vamos questionar a legitimidade das conquistas militares, onde é que os meus amigos recomendam que estabeleçamos a fronteira?
Respondo eu: Os amigos não sei. Eu, por mim, sugiro que se estabeleça pelo menos nos mitos fundadores que não podem nem devem ser admitidos como passaporte para a cidadania, nem permanecer sem exame, como diria São Tomás. E mais não preciso de dizer, porque quem sabe, sabe...
Diz o Jansenista: Ele [o Ariel] foi conivente com a presença das milícias, talvez nao tenha tido todos os cuidados, mas a sua afirmacao equivale a de que as vitimas dos ajustes de contas nas favelas do Rio sao da responsabilidade da policia carioca.
Não pode deixar de comentar o Luterano: Amigo Jansenista, o seu paralelo passa a ser razoável no dia em que a polícia carioca, em aberto conluio com um gang de pistoleiros sedentos de sangue, bloqueie com as suas próprias forças uma favela praticamente desarmada e cheia de velhos, mulheres e crianças, envie lá para dentro, por ordem expressa do ministro das polícias, os ditos pistoleiros armados até aos dentes, ilumine toda a cena a partir dos seus próprios helicópteros, permaneça todo o tempo de guarda aos "acontecimentos imprevistos", com ordens, mais uma vez do ministro das polícias (ausente mas contactado pelo telefone), para ignorar as comunicações de observadores das suas próprias forças nos pontos de observação na periferia da favela, e depois arrume os restos do festim a bulldozer, enquanto tenta ocultar o que se passou aos jornalistas. Aí sim, o seu pitoresco paralelo começaria a ter algum cabimento.
Caro Jansenista,
Lamento não ter podido responder mais cedo à sua acusação irónica (e um tanto divinatória) de que "não me importo de viver numa terra violentamente conquistada a pessoas de bem que tinham por única característica serem mouras". Já o fez o Luterano a quem agradeço e com quem concordo plenamente.
Tomo a liberdade de sugerir que uma das suas acusações ao mesmo Luterano me parece... bem, se me permite... um tanto patareca. Isto porque lhe atribui a sugestão de que "não havia já judeus na Palestina, que lá viviam desde os tempos bíblicos, que nunca sairam".
Ora se de vaga sugestão, em vez de granítica certeza, se tratasse, bem poderia o prezado Luterano recolher a Rilhafoles, a menos que nos apresentasse um Matusalém desses, devidamente certificado pelas autoridades tribais da Idade do Bronze, as tais que contam para os registos de propriedade do século XXI.
Ou seja -- e é esta a mensagem que lhe quero passar -- o falecido Sr. Arafat, por exemplo, certamente muito mais semita que qualquer descendente de khazares turcomanos com mais eslavos progressistas que sefarditas conservadores na família, que embarca na Rússia e desembarca na Palestina com direito a cidadania, habitação e subsídio, ou do que qualquer celebridade afro-americana que se torna cidadã de primeira de Israel através de uma simples conversão religiosa reconhecida por um tribunal rabínico, tem todas as probabilidades de contar mais hebreus bíblicos na sua árvore genealógica que qualquer dos outros dois.
Mesmo que os aspectos éticos da questão -- e sobretudo o problema dos novos mistérios fundadores -- não lhe interessem nada, tenho a certeza de que os breves pontos aqui levantados lhe despertarão alguma curiosidade (as minhas desculpas a todos pelo inglês mas estou com alguma pressa):
"First, the Nov. 29, 1947, “Partition Plan (UN General Assembly Resolution 181) was never ratified by the Security Council, and thus any division of Palestine into Jewish and non-Jewish areas was never legal. Moreover, a UNGA Resolution is only binding if all parties to it agree to be bound by its terms, which in this case did not happen.
"Second, the General Assembly had no right under the UN Charter to take land from one people (Arabs) and give it to another people (European Jews).
"Three, David ben Gurion declared Israeli statehood on May 15, 1948, even though the term of UNGA Res. 181 had not expired. Therefore, the creation of Israel was a land grab contrary to the UN and international law.
"Four, Israel was admitted to the UN on May 11, 1949, only after it agreed to sign UNGA Res. 273, by which it recognized the right of all Palestinians to return to their homes and receive compensation."
10 notas:
1. Agradeço os esclarecimentos, são sempre úteis. Mas mais poder de síntese, por favor!
2. "Mitos fundadores": são admitidos os lusitanos, não são admitidos os israelitas? Dois pesos, duas medidas? Em que é que o nosso é melhor do que o deles?
3. A descrição pitoresca da conivência de Sharon, sugestivamente traçada, iliba-o: os assassinos são os que, podendo não matar, matam, e em parte nenhuma se disse ou diz que às milícias libanesas foi sequer ordenado (por Sharon) que o fizessem (ou até, que tendo sido ordenado, eles não pudessem desobedecer)...
4. Acho curioso invocar-se resoluções da ONU, a mesma ONU que tudo fez para que abandonássemos as províncias ultramarinas... Mas admitindo como boa essa invocação, ela não questiona o reconhecimento, pela ONU, do Estado de Israel. Dito isso, questiona-se a política de nacionalidade de Israel com base em que critério? Um país não pode admitir imigrantes, e, se pode, está privado de nacionalizá-los? Eu conheço pessoalmente não-judeus que, por razões profissionais, foram trabalhar para Israel e se naturalizaram – sem se converterem.
E ainda:
5. O argumento "Matusalém" é óptimo (embora antigamente se chamasse a essa técnica "ignoratio elenchi"). Mas quererá sugerir que a legitimidade nacional não se transmite de geração em geração: então e o "ius sanguinis"?
6. "Os amigos não sei": que ferroada subtil! KO técnico!
7. "Patareco" não é ofensivo? Muito bem!
8. "Maquiavelismo bacoco": ora aqui está o que garante uma troca elevada de pontos de vista...
9. "Reductio" é feminino, e os advérbios em "mente" não são acentuados.
Único aspecto menos agradável numa das respostas:
10. O judaísmo é uma seita?
Se mantém esta opinião, estou esclarecido sobre um dos meus interlocutores. Aguardo a posição do outro.
[O Jansenista em bold]
10 notas:
1. Agradeço os esclarecimentos, são sempre úteis. Mas mais poder de síntese, por favor!
Vou tentar com todo o gosto, mas as suas questões são difíceis.
2. "Mitos fundadores": são admitidos os lusitanos, não são admitidos os israelitas? Dois pesos, duas medidas? Em que é que o nosso é melhor do que o deles?
Respectivamente: 1) não e não; 2) não e não; 3) na medida em que alegra os simples e já não rouba nem massacra.
3. A descrição pitoresca da conivência de Sharon, sugestivamente traçada, iliba-o: os assassinos são os que, podendo não matar, matam, e em parte nenhuma se disse ou diz que às milícias libanesas foi sequer ordenado (por Sharon) que o fizessem (ou até, que tendo sido ordenado, eles não pudessem desobedecer)...
Aceitando que são assassinos os que podendo não matar, matam, há que visar mais alto e precisar que também o podem ser os que podendo não deixar, deixam.
Mas piores ainda do que esses, são os que podendo não deixar, não só deixam como até preparam, uma vez que os lumpen assassinos não entraram à força nem levavam as armas escondidas em alcofas de piquenique...
4. Acho curioso invocar-se resoluções da ONU, a mesma ONU que tudo fez para que abandonássemos as províncias ultramarinas...
Pareceu-me um bom complemento do Pedro Botelho à invocação do "mandato da SN (depois ONU) após o colapso turco" por parte do Jansenista.
Mas curioso porquê? Somos supostos achar que o aquém-mar democrático se devia tornar numa colónia do além-mar mais numeroso? Ou que se deviam expulsar os ultramarinos a quem o menino Jesus não prometeu nada em Ourique?
Noto, se me perdoa o atrevimento, um certo abismo geracional entre nós.
Mas admitindo como boa essa invocação, ela não questiona o reconhecimento, pela ONU, do Estado de Israel.
Certo. O estado-asneira de Israel na Palestina existe sem cumprir os seus compromissos mais básicos, mas deve laicizar-se e proceder ao retorno dos expulsos e suas famílias, devidamente indemnizados conforme o compromisso assumido. E a comunidade internacional deve ajudar a solucionar os dificílimos problemas internos que daí resultarão. Note que a "solução dos dois estados" com um deles transformado numa manta de retalhos inviável e sob controlo asfixiante do outro, é muito mais potenciadora de catástrofes futuras, sobretudo numa zona de total assimetria nuclear.
Não adianta lamentar o leite e o mel derramados. O pecado original é o do grande mito fundador, a ideia de que Deus e a ONU têm, ou devem ter, povos eleitos. E a sua ressurreição à escala global é um resultado directo do outro mito fundador, a noção esquizofrénica de que o maior sofrimento do mundo deve ser, por um lado, imposto por todo o sistema solar e, por outro, cautelosamente guardado no Santo dos Santos, ao abrigo dos curiosos. Queira perdoar o código que não é dos mais subtis, mas que há-de pensar um espoliado palestiniano que não tem o seu sofrimento cotado em bolsa e ainda por cima pode ser acusado de anti-semitismo se quiser ter?
Dito isso, questiona-se a política de nacionalidade de Israel com base em que critério?
Sejamos breves para compensar o laxismo anterior: o critério deve ser o da simples decência, escorada nos principios e leis que guiam a comunidade internacional com algum sucesso (relativo, é claro) desde meados do século XX.
Um país não pode admitir imigrantes, e, se pode, está privado de nacionalizá-los?
Essa é apenas uma vertente do problema. A outra é a da expulsão, guetoização compulsiva e privação de nacionalidade. Claro que com as duas em conjunto, com o objectivo de proceder a uma mudança de população, no nosso tempo de vigência geralmente consensual da Carta das Nações Unidas, privando uns de direitos civis até que resolvam emigrar e importando outros dos quatro cantos do mundo, se cria uma situação imoral e ilícita.
Eu conheço pessoalmente não-judeus que, por razões profissionais, foram trabalhar para Israel e se naturalizaram – sem se converterem.
Ninguém disse que circunstâncias especiais não permitiriam a naturalização de não-judeus. Suponho que se, por exemplo, um sueco não-judeu casar com uma judia israelita na Suécia, emigrar para Israel numa função de interesse para o estado, e aí permanecer durante tempo suficiente, o tribunal (rabínico) o possa distinguir como judeu honorário sem conversão, ao abrigo de algum velho preceito talmúdico que não se aplique aos árabes nascidos na Palestina com cromossomas semitas de velha estirpe local...
5. O argumento "Matusalém" é óptimo (embora antigamente se chamasse a essa técnica "ignoratio elenchi").
Discordo, porque não era uma falácia nem provava nada que não quisesse provar. Era sim uma facécia relativa ao seu "secundum quid" falacioso, prudentemente deixado em suspenso.
Sugeria eu que introduzir na discussão casos de "judeus na Palestina, que lá viviam desde os tempos bíblicos, que nunca sairam" sem comparação com as origens, continuidades e muito maiores números dos outros, só faria sentido se de pessoas individuais estivessemos a falar, coisa obviamente absurda. E, de qualquer modo, uma ou duas andorinhas não fariam a Primavera.
Mas quererá sugerir que a legitimidade nacional não se transmite de geração em geração: então e o "ius sanguinis"?
A formulação da pergunta é capciosa porque não existe uma fonte de legitimidade nacional única, válida para todas as nações, como deve saber. Mas também não existe em mais parte nenhuma uma caricatura de legitimidade como a que Israel se arroga. De resto, gostaria de lhe perguntar como é que classifica um direito "de regresso nacional" que não é sanguíneo nem territorial. Religioso? Cultural? Tribal? Identitário?
Se é "jus sanguinis", mas serve para instalar na propriedade dum palestiano expulso, um esquimó que sinceramente se converta a uma certa religião, então estamos quase a chegar ao País das Maravilhas, onde as palavras querem dizer aquilo que nos apetecer que queiram.
6. "Os amigos não sei": que ferroada subtil! KO técnico!
Queria eu dizer que não estava a falar em nome de nenhum colectivo, mas também é verdade que, na versão subtil (às vezes a subtileza é tanta que nem chega ao nível intencional), não ousaria esperar tão elevada honra só com meia-dúzia de cumprimentos electrónicos.
7. "Patareco" não é ofensivo? Muito bem!
Era mais defensivo do Pedro Botelho, uma vez que o argumento patareco o acusava de indiferença por "pessoas de bem que tinham por única característica serem mouras", mortas há 800 anos, só por ter mencionado a existência de espoliados palestinianos vivos.
8. "Maquiavelismo bacoco": ora aqui está o que garante uma troca elevada de pontos de vista...
Um lapso lamentável. Queria eu escrever "maquiavelismo barroco", no sentido de um cinismo amoral básico, mas rico em rodeios e ornamentos ideológicos.
9. "Reductio" é feminino, e os advérbios em "mente" não são acentuados.
Penitencio-me pela "reductio", mas invoco em minha defesa todos os "......mentes" que se submeteram à regra, com a única excepção do "automáticamente" (que deve tê-lo sido de facto). Ou então caíu algum acento lá de cima, da primeira comunicação jansenista.
Aproveito para notar que, desde há vários séculos, já se separa a vogal "i" do seu valor consonântico, como em "jus" em vez de "ius", mas também acho que o latim à antiga fica mais maquiavélico.
Único aspecto menos agradável numa das respostas:
10. O judaísmo é uma seita?
Geralmente é considerado uma religião, pela sua importância. Mas o contexto do que eu disse era este: "[...] todos os filhos e filhas de mãe (mas não de pai) pertencente a uma dada seita semi-racial, semi-confessional, sejam quais forem as suas origens étnicas, nacionais ou geográficas, ou a sua religião ou ausência dela, para lá desse laço matriarcal".
Que palavra é que sugere? Se não são uma raça/etnia porque é só a mãe que conta e há judeus que não são caucasóides, se não são uma religião porque há judeus ateus ou budistas, se não são uma nacionalidade porque há judeus ingleses e alemães, se não são uma tribo ou uma seita porque os tratamentos são "menos agradáveis", se não se aplica a definição do Dr. Goebbels e dos próprios judeus, que reveste a forma comum "judeu é quem nós dizemos que é judeu", o que é que sugere? "Judeu é alguém com direito à terra prometida, excepto se nasceu na terra prometida mas não é judeu e tem que aguentar ou ir-se embora?"
Se mantém esta opinião, estou esclarecido sobre um dos meus interlocutores. Aguardo a posição do outro.
Também estou curioso.
Estou a ver que esta na moda ser-se skin,mas sera que ja se esqueceram do que fizeram esses porcos nazis?
Tenho vergonha de ter compatriotas portugas que se dissem defensores de uma ideologia tao porca, preconceitosa,racista,xenofoba.
E o maior desgosto e do meu pai ter aderido a essa moda.
Sou portuguesa e defendo o que e nacional,mas nao e a por culpa nos pretos,judeus,ciganos e homoxessuais que resolvemos o mal da nossa sociedade.
A soluçao e amar o que e nosso, e apoiar quem queira fazer algo pelo nosso pais.
Sabem o que foi o nosso pais ate ao 25 de Abril?
Se calhar nao pois estavam a dormir ou acomodados...
"[...] mas sera que ja se esqueceram do que fizeram esses porcos nazis?"
Prezada anónima, porquê tanto ódio? Não percebi a que propósito vêm os nazis nesta discussão sobre o tema "Ariel lava mais branco". Nem por que razão usa os simpáticos recos a quem tanto devemos como insulto.
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