Três cartazes
Numa rua da cidade, três outdoors lado a lado: Cavaco, Soares e Alegre. Três slogans de fundo: «Sei que Portugal pode vencer», «Porque sabe unir os Portugueses», «Livre! Justo! Fraterno!» Os passantes nem reparam. Já não há palavras, por mais sonoras, que incendeiem os espíritos desenganados. Se um eleitor mais ataviado despertasse agora, depois de três décadas de coma democrático, para a mensagem dos políticos, estranharia decerto a apatia de seus concidadãos. Sentiria vontade de lhes tomar o braço e de lhes bradar na cara: "Por que estão vocês assim tão calmos? Não sabem que Portugal pode vencer? Desconhecem que um dos candidatos sabe unir os Portugueses? E que outro é livre, justo e fraterno? Ignoram que começa, enfim, para todos uma nova era?"
Mas não. Não chegou ninguém de Marte. E os que por cá mourejam, calejados de trinta anos, desfilam indiferentes sob os cartazes garridos. Um casal de namorados lambuza-se mesmo nas barbas de Alegre. Um velhote encanecido urina numa árvore aos pés de Soares. Uma mulher, dois sacos de supermercado numa mão, fala ao telemóvel com um amiga sob o olhar sorridente de Cavaco. Parece que o salpicão é mais barato no Pingo Doce. Nenhum dos candidatos conhece estas verdades elementares da existência.
Mas não. Não chegou ninguém de Marte. E os que por cá mourejam, calejados de trinta anos, desfilam indiferentes sob os cartazes garridos. Um casal de namorados lambuza-se mesmo nas barbas de Alegre. Um velhote encanecido urina numa árvore aos pés de Soares. Uma mulher, dois sacos de supermercado numa mão, fala ao telemóvel com um amiga sob o olhar sorridente de Cavaco. Parece que o salpicão é mais barato no Pingo Doce. Nenhum dos candidatos conhece estas verdades elementares da existência.
1 Comentários:
Meu Caro BOS:
Quem tirasse uma fotografia aos cartazezitos alinhados poderia titular:
«TUDO BONS RAPAZES»
O exercício das respectivas actividades públicas não anda longe da "profissão" dos do filme.
Abraço.
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