quinta-feira, junho 29, 2006

A cidade perdida

A minha Lisboa está a desaparecer. Todos os anos, desaparece mais um bocado, desde os anos 80. Desapareceu o Cine-Teatro Monumental (e o Satélite) e o Restaurante Monumental, e o Monte Carlo, que até tinha barbeiro lá no fundo e em cuja tabacaria comprei todas as minhas revistas durante anos e anos; desapareceu a leitaria aqui da esquina, com o dono que tratava todas as clientes por «madame»; e desapareceu também a mercearia do Sr. Domingos; desapareceu a Livraria Quadrante; desapareceu o Circuito Mini-Car; desapareceu a Colombo; desapareceu o prédio do anjo no Saldanha, e o Modelo onde a minha mãe encontrava a D. Laura Alves, ficavam a falar as duas e o meu pai, coitado, cada vez mais impaciente junto ao balcão dos frios; desapareceu o sapateiro de vão de escada que ainda me chamava «menino» quando eu lá ia, já matulão; desapareceram o Berna, o Império, o Apolo 70, o Condes, o Eden, o Castil, o Alvalade, o Odeon, o City Cine, o Cinebloco, os ABCine, as salas de reposição de bairro e os «piolhos»; desapareceu o «Panzer Bife»; desapareceu a Feira Popular; desapareceram as lojas de brinquedos clássicas da Baixa; desapareceu o Império, primeiro o cinema, depois o café. E agora vai desaparecer o salão de jogos Monumental, o do «snooker», dos matrecos, do bilhar e dos «pintas» de azeite no cabelo, calça pata-de-elefante, camisa estrelicadinha e palito a bailar no canto da boca, jogando partidas infindáveis. A minha Lisboa está a desaparecer. Todos os anos, aos bocadinhos.

23 Comentários:

Blogger �ltimo reduto said...

Também desapareceu o Estúdio 444, acho que passo lá pela porta todos os dias sem excepção. E as lojas de brinquedos não foi só na Baixa, também se evaporaram as das Avenidas Novas. A 'nossa amiga' Marina já fazia um novo volume só com estas referências...

1:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É triste, a Lisboa em que nascemos e crescemos, a desaparecer, embora também tenham aparecido coisas boas nela. E há muitos anos, também passei algumas tardes a jogar na sala de jogos Monumental. Porque é que fecha? O edifício, ainda por cima, parece que é classificado.

1:53 da manhã  
Blogger Eurico de Barros said...

Tem razão, Pedro. E o Mundial, também, e o Estúdio do Império, e o Roma, que agora é Forum Lisboa - vá lá, ainda passam lá filmes... e outros ainda.

2:08 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É um apagamento de memória, o que estão a fazer... Para que pensemos que não houve passado, a não ser o rançoso que eles apregoam e que não existiu. Substituem as referências por coisas aberrantes e superficiais, próprias de gente cinzenta sem cultura e acarneirada, numa ânsia de colocar todo o mundo por igual na fealdade e mediocridade que os caracteriza.
São os esquerdóides, são os pseudo-direitistas (os traidores anti-patrióticos do sistema), é toda uma cáfila que vende memórias, família, ideais a quem lhes dê um prato de lentilhas.

Lembro-me do caso do café Tá-Mar, ali para as bandas de Algés. Eu vivia, à época, no Restelo, e ia lá com os amigos muitas vezes. Há uns anos, foi fechado e substituído por uma agência bancária, de um banco que tinha mais duas ao virar da esquina. Fizeram publicidade, dizendo que «os clientes que costumavam ir à Tá-Mar iriam por hábito ao banco»... Bom, sem comentários. A agência ficou largo tempo às moscas.

Só não sei se este exemplo, como muitos outros, será exclusivamente fruto da estupidez endémica desta gente cinzentona, ou se prefigura o apagamento programado de memória e de referências que expus acima.

10:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E desapareceu a papelaria onde comprava os cromos em Carcavelos qd era mais novo.. isso sim não há direito!!
Mudam-se os tempos.. mudam-se as vontades e necessidades. Sinceramente, quando foi a última vez que foram jogar snooker a essa sala?? (que também eu tenho como refência pessoal)ou comer um bife ao Café Império?
É por causa de lá não irem.. e apenas filosofarem sobre os sitios que, eles são mandados abaixo.. Por isso, meu caro Eurico e afins.. vão deixar de ter snooker no Salão Monumental.. pk vocês assim o exigem não indo lá.

MZ ARGENTINA

11:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mais o Cinema Europa, Paris, jardim Cinema...

1:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É tudo uma tristeza. Mas no caso do salão Monumental parece haver ali negociata, o fecho não será por questões financeiras.

2:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Eurico,
Uma correcção: o Odéon não desapareceu, e há-de reabrir (e é por isso preciso que todos façamos qq coisa!!).
Mementos: Falta o Royal. O Apolo 70 tinha umas poltronas deliciosas junto à parede. O Castil parecia-me uma nave espacial. O Star era uma garagem simpática. Os City, ABCine, ACS, 7ª Artes & Cia. eram atrozes. O melhor bife à café era o da Colombo, o de manteiga o do Império. As decalcomanias Action Transfer Letraset, as bandas desenhadas do Flash Gordon, do Tarzan, do Cisco Kid eram no Monte-Carlo, e as do Batman, do Super-Homem, Capitão América eram as da Brasil-América, na Rodrigues Sampaio. O melhor galão com croissant e fiambre, na Granfina. O melhor hamburguer no Apolo 70. O melhor Pêche Melba na Namur. Etc. bago de uva ...

5:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A Namur ainda existe, Sr. Paulo Ferrero.

6:12 da tarde  
Blogger Mendo Ramires said...

Caro Eurico:
Este notável artigo, inspirou-me para um modesto postal, na mesma linha, que acabei de escrever lá na minha solitária Torre.
Abraço.

2:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Solitária torre???
Este Mendo deve estar a gozar...
Com aquelas "estampas" que tem postado, deve ser festa todas as noites.
;)

3:55 da manhã  
Blogger Santos R. Queiroz said...

Não é só Lisboa. É o país inteiro que eles estão a descaracterizar. A palavra de ordem é pôr tudo igual aos EUA.

Ainda restam uns redutos, mas estão em extinção.

8:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Sois todos uns dinossauros incapazes de absorver novas ideias. Tudo mudou menos vós quão velhos do restelo que negam a mudança. Aposto que não usam multibanco e nem tem computador nem compram na internet.....

3:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por favor, meu caro anónimo, eu tenho telemóvel com as mais inimagináveis funções, Net super-rápida, TV plasma e «home cinema», e mais sei lá o quê! O que tem a ver a nossa ligação emocional à cidade que amamos, e ao bairro onde nascemos ou vivemos há muito, com a adesão às novidades tecnológicas?... Ora com franqueza!

4:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sr.Conselheiro Arrôbas,
Eu seique a Namur ainda existe, já não presta é para nada. E Pêcha Melba nem vê-lo;-)

8:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Registo, meu caro. Obrigado.

11:46 da manhã  
Blogger JMTeles da Silva said...

...e desapareceu o 100 da Rua do Mundo...
Alguém se lembra o que era?

2:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O 100 da Rua do Mundo? Não sei o que era. Sei que desapareceram também os russos da melhor pastelaria de Lisboa até aos anos 70 e picos: a Bijou.

2:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Uma casa de «meninas», não era? O meu pai dizia que era famosa em Lisboa.

11:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Minha, não, do meu pai e da geração dele!

11:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pobre cidade! Não tem um presidente da câmara à altura há muito tempo.

1:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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9:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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8:41 da manhã  

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