terça-feira, fevereiro 14, 2006

Nocturno

Nestes dias, tenho-me dito quão imprevisível é o amanhã. A História faz-se no presente; quer dizer, de noite. Nada sabemos, tacteamos. Depois escrevêmo-la e cada qual o faz à sua maneira. O homem é um nocturno.
Penso que está errado tornar-se a “posteridade” e o presente como mundos diferentes. A cada época cabe um gosto do dia, uma multidão que segue a corrente, um sucesso que é coisa social. Tudo o que vai nesse sentido passa depressa; no presente e no futuro. Não estou com Valéry, quando diz que a posteridade está cheia de eruditos. Não. Estará cheia, isso sim, de basbaques e papalvos, néscios que ficam de boca aberta a tudo o que é novidade. De mais a mais, não acredito que o homem seja feito para ceder aos movimentos da História. É apenas o homem de um momento e é bom que desapareça depressa.
Tenho, aliás, sobre o futuro, uma ideia, bem clara; é-me indiferente porque é inevitável. Não me vou excitar com o que se imporá. Também quando a meteorologia anuncia o tempo que vai fazer amanhã não me apetece discutir. [in «Futuro Presente», n.º 59]

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