Portas, o cinema e a política de Hollywood
Paulo Portas acabou esta noite a primeira edição do seu novo programa «O Estado da Arte», na SIC Notícias, a falar dos Óscares. Criticou «Syriana» pelas razões certas - a visão primária do mundo por parte de um actor de Hollywood progressista, George Clooney, que co-produz e interpreta este filme de Stephen Gaghan - e elogiou «Colisão», de Paul Haggis, pelas razões erradas - o ser um exemplo do funcionamento do «melting pot» nos EUA. Ora «Colisão» é, na verdade, um filme tão primário como «Syriana», embora o seja na sua visão das relações raciais e sociais numa cidade com as características de Los Angeles. O filme não só mostra que nem todos os componentes étnicos do «melting pot» americano se querem dissolver num mesmo grande e homogéneo caldo (pelo contrário, neste aspecto, o caldo da coesão nacional nos EUA está cada vez mais entornado e ameaçado de azedar pela «guetização» multiculturalista), como também se revela de um didactismo com pés de chumbo e de um simplismo demonstrativo, na maneira como trata e apresenta dramáticamente as situações de tensão social, confronto racial, desconfiança étnica e desigualdade económica. «Colisão» não passa de mais um exemplo da Hollywood progressista a sentir-se justa e auto-satisfeita com a sua representação do real de juntar os pontinhos, de mais um típico «feel good movie» - neste caso, com comichões de consciência social inquieta. Foi por isso, e não por temer premiar «O Segredo de Brokeback Mountain», que a Academia deu a «Colisão» o Óscar de Melhor Filme. Porque se sentiu reconfortada nas sua intensas convicções «sociais», porque lhe passou a mão pelo pêlo da visão do mundo emotivamente «engajada». «Colisão» é um filme tão escapista como os mais básicos que o cinema americano produz. Só que armado ao pingarelho de «significativo», «actual» e «interventivo». Lixo de teorias simpáticas, como diria o nosso Fernando Pessoa. Mas que parecem ter impressionado Paulo Portas.
2 Comentários:
O Portas é um cinéfilo superficial, pouco percebe de cinema. E ainda menos de política.
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