quarta-feira, maio 17, 2006

Memória e passado

Se me lembrasse, por miúdo, de todos os detalhes do passado, se pudesse consultar à vontade a ementa do vivido, teria talvez menos sede de viver ou de voltar a ouvir histórias algo repisadas que tomam, sei lá porquê — talvez graças ao papel representado pelo próprio esquecimento —, um tom singular, fazendo até ressoar acordes inauditos e melodias excepcionais.
Como se a memória fosse uma mobília que tratássemos de deslocar ou remover, implicando e modificando essa mudança a concordância, o acordo, a harmonia, em suma, a ligação ao conhecido.
O que pode fazer esquecer, por leves momentos, que recordar não passa de pobre indemnização, mero substituto da posse daquilo que já não se possui.