Milagres para todos

Este podia ser o título do e-mail circular que recebi, contento diversas imagens de publicidade aos milagreiros modernos. Seleccionei uma, dado referir-se a um caso passado no nosso país, para que quem não ande muito atento a estes fenómenos — como eu — tenha uma ideia do ridículo a que já se chegou, apesar de estarmos na tão apregoada “era da informação”.

Alegrai os vossos espíritos! O auto-denominado “profeta” Luís Cláudio proporciona, em Matosinhos, que todos os que quiserem “vejam e recebam o milagre das mãos de Deus”.

Desconfiados? O próprio assegura os seus préstimos divulgando um singular curriculum. Começa por assumir-se como “ex-travesti”, parece que continua a sê-lo, mas agora é travesti de profeta. Depois, “ex-presidiário”, algo que nos tempos que correm quase dava para ser governante, autarca, ou pelo menos dirigente desportivo. De seguida, “ex-bruxo”, quando o mais correcto devia ser “eis bruxo”. Para então revelar que é “ex-portador do vírus da Sida”, isto é, um acontecimento médico; não querendo ser chato, há actualmente testes mais credíveis que “curas divinas”. Por último, diz-se casado com mulher que não tinha útero. Pelo tempo verbal, dá a entender que esta já o tem... Não se espantem de no próximo folheto aparecer “ex-condenado por tráfico de órgãos”. A garantia do “milagre” está, ao que parece, nos “dois filhos” que anuncia. Serão perfilhados?

Quem me enviou este e-mail ironizava que “era mesmo isto que precisava”. Mais a sério, se é que é possível, parece que há muitos portugueses que acham precisar de “profetas” vindos da terra do pau-brasil e de “professores” e “mestres” da África subsariana. Se isto não é um sinal de decadência, um neo-primitivismo, o que é?