quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Da televisão ao dogma

Esta semana, em conversa com um colega bastante mais novo do que eu, e tendo vindo à colação a infame sentença aplicada ao historiador David Irving pelo «crimeideia» orwelliano de «negação do Holocausto», reparei que o meu colega não só não tinha a menor noção da origem da palavra «holocausto», como pensava que a coisa em questão sempre tinha sido assim referida, pelos media e no discurso corrente. Na verdade, a utilização de «holocausto» para significar «o extermínio de 6 milhões de judeus na II Guerra Mundial» só se começou a vulgarizar depois da transmissão, em 1978, da série televisiva com o mesmo nome, realizada por Marvin J. Chomsky e interpretada por Meryl Streep, Michael Moriarty e James Woods, entre outros. Depois, em poucos anos, «Holocausto» passou de título de série para impressionar as massas a dogma de fé para intimidar os gentios, de palavra de quatro sílabas a estenografia da intimidação, de querer dizer «sacrifício pelo fogo» a significar «imolação da verdade».

7 Comentários:

Anonymous Anónimo said...

Qual era a idade do seu colega?

...4, 5 anos?

Isso explicaria muita coisa.

12:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

4,5 anos, a sua idade mental, em suma, ó dolfinho.

3:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Do O.E.D., só para citar algumas referências da época:

''1942 News Chron. 5 Dec. 2/2 Holocaust...Nothing else in Hitler's record is comparable to his treatment of the Jews...The word has gone forth that..the Jewish peoples are to be exterminated...The conscience of humanity stands aghast.

1943 Hansard Lords 23 Mar. 826 The Nazis go on killing..If this rule could be relaxed, some hundreds, and possibly a few thousands, might be enabled to escape from this holocaust.

1945 M. R. COHEN in S. Goldschmidt Legal Claims against Germany p.vi, Millions of surviving victims of the Nazi holocaust, Jews and non-Jews, will stand before us in the years to come.''

Mas presumo que será escusado aconselhá-lo a lêr mais e passar menos tempo em frente à tv de 1978. É pena pois não esparvoava tanto.

2:55 da tarde  
Blogger Victor Abreu said...

Lamento contradizê-lo, mas nunca ouvi nem li a palavra «holocausto» aplicada de forma tão insistente e tão generalizada como após a exibição da série de TV nos anos 70.

5:29 da tarde  
Blogger Pedro Botelho said...

Parece-me que quem está a esparvoar (*) é o prezado Hermenegildo.

É óbvio que ninguém estava a pretender que a palavra tivesse sido inventada na altura em que a série de TV foi feita!

O que acontece é que foi desde essa altura que passou a ser um nome baptismal, escrito com maiúscula, como se designasse uma realidade histórica e para melhor se substituir à sua análise detalhada.

Mas é evidente que a palavra não foi inventada nessa altura, ó ingénuo Hermenegildo!

Veja por exemplo a palavra utilizada (com minúscula, é claro) em... 1919 (mil novecentos e dezanove), a propósito de um peditório para os 6.000.000 (seis milhões) de judeus que estavam prestes a desaparecer da face da terra (meus destaques)...

*********
The Crucifixion of Jews Must Stop!
The American Hebrew
October 31, 1919
page 582
By Martin H. Glynn (Former Governor of the State of N.Y.)

From across the sea six million men and women call to us for help, and eight hundred thousand little children cry for bread.
[...]
Within them reside the illimitable possibilities for the advancement of the human race as naturally would reside in six million human beings
[...]
In this catastrophe,when six million human beings are being whirled toward the grave by a cruel and relentless fate
[...]
Six million men and women are dying from lack of the necessaries of life; eight hundred thousand children cry for bread. And this fate is upon them through no fault of their own, through no transgression of the laws of God or man; but through the awful tyranny of war and a bigoted lust for Jewish blood.
In this threatened holocaust of human life, forgotten are the niceties of philosophical distinction, forgotten are the differences of historical interpretation
[...]
And so in the spirit that turned the poor widow's votive offering of copper into silver, and the silver into gold when placed upon God's altar, the people of this country are called upon to sanctify their money by giving $35,000,000 in the name of the humanity of Moses to six million famished men and women.
[...]
Six million men and women are dying
[...]
Because of this war for Democracy six million Jewish men and women are starving across the seas
[...]
*********

De que é que o prezado Hermenegildo acha que este artigo está a falar quando emprega a palavra "holocausto" (com minúscula)? Do tal "Holocausto" dos judeus pelos nazis? Em 1919?

Ou será simplesmente o habitual leitmotiv cabalístico dos judeus, numa época anterior à oportunidade de ouro (cujos resultados frutificaram na fundação do surrealista estado de Israel, em 1948)?

A menagem é esta: uma coisa é o uso genérico da palavra "holocausto"; outra é a palavra "Holocausto" com maiúscula, como nome próprio do fantasma, para poder excomungar os "Holocaust deniers" sem ter que lhe examinar previamente o ectoplasma...

Era, obviamente, a essa segunda acepção que o nosso amigo Abreu se referia.

Compreendido? Diga de sua justiça. Estamos aqui para o esclarecer.

(*) NOTA: O uso da palavra "esparvoar" trai a identidade do utilizador, prezado Hermenegildo. A menos que queira ser reconhecido, é preferível não arriscar palavras como essa, e ainda por cima utilizada numa acepção não muito correcta...

11:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Pedro Botelho,

Aprecio a crítica e o respeitável instinto pedagógico. Apesar de reconhecer a sua boa vontade, perdoe-me que lhe diga que o conceito de anotonomásia não me era estranho; daí que faça votos para o vêr melhor aplicado.

Mais lhe garanto que não faço idéia quem seja o cavalheiro que o meu caro amigo julga esconder-se por detrás daquele que é o meu nome.

Passe bem pois eu passei, concerteza, a estar mais esclarecido.

12:54 da tarde  
Blogger Pedro Botelho said...

Hermenegidlo de Pina Borges: "[...] não faço idéia quem seja o cavalheiro que o meu caro amigo julga esconder-se por detrás daquele que é o meu nome."

Hahaha, tratou-se de uma brincadeira da minha parte que espero não leve a mal, tanto mais que o direito à antonomásia -- como já dizia Sto. António -- deve ser inalienável.

É que só me ocorreram dois frequentadores habituais deste local capazes de arremessar um termo como "esparvoar". E um deles nunca colocaria chapelinho em "ler". Donde...

8:35 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home