Os piratas de Lapouge
Praia Grande, 3/IX/06
Ao deixar, mais uma vez, a tórrida Lisboa, passando antes de ontem pela Fnac do Chiado, dei com “Os Piratas”, de Gilles Lapouge, em tradução portuguesa acompanhada de gravuras, editado pela Antígona.
Lembro-me quantas vezes, pelos meus doze anos, me entusiasmei e sonhei com as façanhas e aventuras dos piratas, tanto por variadas leituras que fazia, como pelos filmes que via, quase todos de origem anglo-saxónica. Barcos, combates, saques, o brilho dos tesouros, a ética que podia até chegar a código de honra, dos fora-da-lei, e, sobretudo, a liberdade selvagem que se escondia na garra dessas imagens.
Desta feita, agradou-me agora ver o magnífico livro de La Pouge — que, aliás, conheci em Paris, apresentado por um colega brasileiro, o Fernando Dil, e em casa de quem estive nos anos 80 — ilustrado e vertido para português.
Li-o quando saiu em França, exactamente naquela década de 80, e impressionou-me muito, ajudando-me a compreender melhor o que havia no fundo dessa sacudidela: a sombra desesperada do fulgor dos incêndios, o sabor a sal e o cheiro a enxofre das violações, o sonho abrasado de glória, a liberdade do Inferno, o fascínio da Destruição.
Tudo descrito por um francês bem educado, que não deixou que as boas maneiras lhe embaciassem o fulgor do estilo, nem que o conhecimento filosófico e histórico, que é grande, lhe aparasse as asas da imaginação.
Escrevo este bilhete e vem-me à ideia que, de certo modo, o destino dos amantes é como o dos piratas: o esplendor que cega o mito, a luz do impossível. Sabem que não podem viver se desfizerem radicalmente o pacto com o mundo, mas só sentem que vivem quando atravessam essa fronteira de fogo e respiram o último sopro do instinto de sobrevivência.
É esse, creio, o sentido de uma ária da “Tosca” de que muito gosto: “Vissi d’art, Vissi d’amore”.
Ao deixar, mais uma vez, a tórrida Lisboa, passando antes de ontem pela Fnac do Chiado, dei com “Os Piratas”, de Gilles Lapouge, em tradução portuguesa acompanhada de gravuras, editado pela Antígona.
Lembro-me quantas vezes, pelos meus doze anos, me entusiasmei e sonhei com as façanhas e aventuras dos piratas, tanto por variadas leituras que fazia, como pelos filmes que via, quase todos de origem anglo-saxónica. Barcos, combates, saques, o brilho dos tesouros, a ética que podia até chegar a código de honra, dos fora-da-lei, e, sobretudo, a liberdade selvagem que se escondia na garra dessas imagens.
Desta feita, agradou-me agora ver o magnífico livro de La Pouge — que, aliás, conheci em Paris, apresentado por um colega brasileiro, o Fernando Dil, e em casa de quem estive nos anos 80 — ilustrado e vertido para português.
Li-o quando saiu em França, exactamente naquela década de 80, e impressionou-me muito, ajudando-me a compreender melhor o que havia no fundo dessa sacudidela: a sombra desesperada do fulgor dos incêndios, o sabor a sal e o cheiro a enxofre das violações, o sonho abrasado de glória, a liberdade do Inferno, o fascínio da Destruição.
Tudo descrito por um francês bem educado, que não deixou que as boas maneiras lhe embaciassem o fulgor do estilo, nem que o conhecimento filosófico e histórico, que é grande, lhe aparasse as asas da imaginação.
Escrevo este bilhete e vem-me à ideia que, de certo modo, o destino dos amantes é como o dos piratas: o esplendor que cega o mito, a luz do impossível. Sabem que não podem viver se desfizerem radicalmente o pacto com o mundo, mas só sentem que vivem quando atravessam essa fronteira de fogo e respiram o último sopro do instinto de sobrevivência.
É esse, creio, o sentido de uma ária da “Tosca” de que muito gosto: “Vissi d’art, Vissi d’amore”.
1 Comentários:
Um texto assim dá-nos força para resistir a estes tempos de miserável vulgaridade.
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