quarta-feira, dezembro 27, 2006

O senhor do espelho

De vez em quando, vendo-me num espelho, acontece que me diga, a meia-voz: “Não pode ser!” Mas pode. Esse senhor que não reconheço e me olha, sou eu próprio. De resto, fica tão espantado quanto eu, pois eu sou o senhor que ele vê no espelho e o espelho sou eu.
Contudo, quando me perguntam se me dou conta da passagem do tempo, respondo que não, que nunca senti tal coisa. Experimento, isso sim, comparar e analisar os anos entre si e, o que me toca é, antes pelo contrário, que encontro sempre em mim algo bem lá no fundo, uma espécie de “eu” abissal, que permanece inalterável. Será, porventura, aquilo a que os cristãos (e outros) costumam apelidar de alma.
Além disso, acresce pensar que, em cada espelho, há um reflectir avoengo que contempla a sua descendência. “Zeitlos”, segundo os alemães, isto é, sem tempo. Também os antigos Gregos diziam que na composição de cada espelho há a traça de Perséfone.

7 Comentários:

Anonymous Anónimo said...

Ó Morais,confessa que,quando olhas para o espelho repetes a velha rábula:"espelho meu,ha alguem mais belo do que eu?"

3:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Belo texto, muito reflexivo - nem por acaso.

3:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Medique-se que isso passa......

6:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já é quási meia noite e o Morais ainda hoje não se declarou apaixonado(a não ser ao espelho)!Trálhará acontecido alguma coisa?

11:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Uma pessoa já não pode ser sensível e séria. O Morais teve a coragem de dizer aquilo que toda a malta que começa a entrar na idade crítica pensa, mas que recusa admitir. Por isso está a ser gozado. Oh Morais, manda-os à merda e deixa-os ficar sem tusa...

10:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O Morais está a entrar na idade crítica,como diz o anónimo.O pior é que o Morais parece incapaz de uma auto-crítica.

1:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tocante, Roberto! Achei notável essa coisa do "sem tempo":e claro, desde que o espelho não seja o das lentes. Já quanto a alguns dos post(ante)s, fazem-me lembrar o "Mathnawi", de Jalaluddin Rumi, quando chamava aos ouvintes "patos que estavam a ser criados por galinhas" e tentavam ser frangos. Por mim, também já tenho a minha conta de ter sido detestado: "Ser detestado pelos homens do mundo é ser, quase sempre, amante da verdadeira realidade" julgo que foi Lederer quem o disse.

5:09 da tarde  

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