quinta-feira, fevereiro 23, 2006

A poeira dos mortos

Trazemos os mortos connosco até morrermos também, e somos então transportados, a prazo, até que, por seu turno, caiam os que nos levavam consigo, que a seu tempo igualmente tombarão, e assim sem parar, por inimagináveis gerações.
Lembramo-nos de nossos pais, nossos filhos lembrar-se-ão de nós, até desaparecerem e serem, por sua vez, recordados pelos seus próprios filhos que se recordarão deles, embora já não tão bem de nós, e aí começará a nossa dissolução final.
É verdade que algumas coisas ficarão; velhas fotografias, quiçá filmes, registos de voz, um tufo de cabelos, sabe-se lá, impressões digitais aqui ou ali, borrifos de átomos a pairar no quarto onde tivermos dado o último suspiro. Mas nada disso será “nós”, o que somos e fomos, mas tão somente a poeira dos mortos.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo said...

Não sei se os filhos, os netos, bisnetos, trinetos, tetranetos, pentanetos, hexanetos, etc., se lembraram deles. Mas o mundo inteiro nunca os esquecerá pelas obras imortais que nos legaram. Os artistas, claro. Pintores, escritores, escultores. E temos também os pensadores. Somos todos gregos. Poeira dos mortos? Venham mais! No dia em que deixarmos de citar Galileu ou Platão, no momento em que olharmos para o tecto da Sistina sem sentirmos um arrepio na espinha, quando o Beijo de Rodin já não nos enternecer, ou a música de Chopin for banida, aí sim, nada seremos. Até lá, que a vida nos permita admirar a obra feita e deixarmos também a nossa semente!

Flower

2:48 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home