domingo, abril 29, 2007

«Quando a Liberdade Encheu as Prisões»

As celebrações do 25 Abril são oportunidade para múltiplas entrevistas e declarações a propósito. Mas há anos que os protagonistas são praticamente “os mesmos”, numa cerimónia convencional em que a vulgaridade e o 'politicamente correcto’ se desdobram placidamente numa rotina previsível, das declarações solenes de Vasco Lourenço às acrisoladas manifestações de uma fé laica, revolucionária e socialista por parte de consagrados 'antifascistas' históricos e outros ‘notáveis’ indiscutíveis. É história feita, já sabida de cor, mas tão incansavelmente repetida que mais arrisca parecer ser uma tentativa de justificar o passado de forma a nunca ser questionável pelas interrogações do presente...
Porém, há uma outra história, não menos verdadeira, que nunca é contada – se bem que tenha sido registada, embora parcialmente, num Relatório tão espantoso como sinistro. É a crónica das prisões políticas depois do 25 de Abril – estranha e insólita. E se há momentos ideais para ser ‘politicamente incorrecto’ este bem pode ser um deles.


Sejamos claros: que um regime autoritário e repressivo tivesse presos políticos não é de estranhar, dada a sua natureza, a legalidade então vigente e o tipo de acção dos seus inimigos. Mas que a ‘jovem democracia’ de Abril também se tivesse revelado um poder repressor ao serviço de uma espécie de «pensamento único», apenas meses depois do 25 de Abril, pode ser uma alegação incómoda mas é a pura verdade. Uma vez desvendada essa página negra saltam à evidência as contradições e os abusos de um «poder revolucionário» nada inocente que perseguiu portugueses livres e dignos com métodos tão condenáveis como os do passado, aproveitando denúncias sectárias e «inventonas» ardilosamente criadas para justificar as prisões em massa de opositores políticos ao «PREC» na sua grande maioria, e até alguns da esquerda ‘maoísta’. E todos foram presos sem qualquer ‘garantia’, sem outra ‘culpa formada’ que não a simples «Suspeita de Associação de Malfeitores» que valia para tudo, sem direito a defesa e julgamento. Se esses presos não foram vítimas de arbitrariedade, então o que é a arbitrariedade? E torturas, também as houve? Claro que sim. Não é por acaso que o ‘Relatório da Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos sujeitos às Autoridades Militares’ é também conhecido como «Relatório das Sevícias»!...
Um novo site pela verdade histórica
das prisões depois de «Abril»
Talvez se possa agora, mais de trinta anos passados, revisitar com alguma distância esse passado recente em que «A Liberdade encheu as prisões», como se pode ler num site recentemente criado por «um grupo de ex-presos políticos depois do «25/04». «Abril...Prisões Mil!» (*) é um desafio em nome da verdade histórica, um teste à liberdade de expressão e à liberdade política nos dias de hoje. Arriscamos considerar que uma entrevista com alguns desses presos políticos ‘depois de Abril’ teria o maior interesse. Não só como testemunho vivo da história recente de Portugal mas também como uma oportunidade para a Comunicação Social «renovar as caras». E, «last but not least», para nos oferecer também uma Informação muito mais actual do que a «do costume»...
VL
(*) abrilprisoesmil.googlepages.com

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7 Comentários:

Blogger Flávio Gonçalves said...

Muito interessante.

11:27 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Não deixa de ser ostensivo.
Linguagem planfetária a imitar a esquerda
Quando a Liberdade apareceu as prisões foram cheias de PIDES, LPs
e só mais tarde é que as prisões tiveram clientes de direita e esquerda!!!!!!!!!!!

1:14 da tarde  
Blogger Vítor Luís said...

A esquerda não tem só «linguagem panfetária». «Ostensivo», claro,
mas muito calmo, se comparado com a «fúria revolucionária» - e já tardava. Panfleto? Não. apenas a verdade, muito incómoda. Estamos num 'blog dinâmico'. Textos curtos, portanto...

Poderia até dizer-se «antes tarde do que nunca», não é «anónimo»?
A partir de 27 de Setembro, «mais tarde», pois, começaram as prisões arbirtrárias. Centenas delas, com o pretexto da «inventona». «Mais tarde, mas tiveram».
E tudo o mais, só resolvido depois do 25 de Novembro. É bom não esquecer que estivemos à beira de uma guerra civil.

1:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

assunto com tão poucos post talvez seja da forma como é apresentado Quando a Liberdade enche as prisões.....

10:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nada disso. Parece-me que a forma é excelente. Penso é que não sejam precisos mais nenhuns comentários.
Já tenho uns anos e lembro-me do «PREC». Para quê dizer mais?
JM (ex-militante do PSD)

3:03 da tarde  
Blogger Catarina Matos Correia e Inês Amaral said...

Quero, antes de mais, congratulá-lo pelo seu blog, reforçando ainda este post com mais alguns números: desde o 28 de Setembro foram presas 5 mil pessoas, sem culpa formada, quando, à data do 25 de Abril, 150 pessoas encontravam-se presas por motivos políticos...

1:03 da tarde  
Blogger Vítor Luís said...

Inês e Catarina:
Agradeço vossa a referência. Aproveito para esclarecer que o site «Abril...Prisões mil!» é, e será, o resultado do trabalho de um grupo de homens e mulheres ex-presos políticos, «sem culpa formada», de que sou apenas um dos colaboradores, e não exactamente o «meu blog». Um blog próprio é outra 'aventura' que iniciarei em breve, sem deixar de estar presente no «Jantar das Quartas»,
na boa companhia dos colaboradores «afixados» na lista.
VL

7:04 da tarde  

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