terça-feira, setembro 30, 2008

Máquina do tempo


Onde estavam vocês há 34 anos?

39 Comentários:

Anonymous Anónimo said...

Na Praça do Império esperando que o imbecil do Spínola mandasse rebentar com as barricadas e permitisse a manifestação.

1:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Apanhado com a família, vindo de férias, numa barricada comuna às portas de Lisboa. Chegámos a casa a desoras.

2:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Nos arredores de Sintra, atento às notícias da Rádio e entretido com os recortes do Diário de Lisboa e do República (que ainda não tinha sido tirado ao Raúl Rego...). Para mais tarde recordar.
Pode parecer estranho, mas muitos de nós sabiam de antemão o que vinha aí...

2:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ver Blog:
abrilprisoesmil
"PELA CALADA DA NOITE"
JS

9:08 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Lá dizia Sila: «Na Praça do Império esperando que o imbecil do Spínola mandasse rebentar com as barricadas e permitisse a manifestação».

Na minha modesta opinião, não mandou rebentar com as barricadas porque não podia rebentar com elas sózinho, uma vez que não dispunha nem das forças armadas de forma segura (estavam subvertidas pelo MFA), nem -- mais importante ainda porque qualquer confronto nacional não-suicida teria de passar por ele -- do apoio das inteligências políticas dessa época que aplaudiam a violência contra a dita manifestação com entusiasmo, baptizando-a de «intentona» (partidos dos drs. Barreirinhas, Bochecholas e Sá Ovelha na própria ocasião, e CDS na sua manifestação de apoio à vitória do PCP-PS-PPD no dia seguinte).

A pergunta do Sila é como perguntar porque é que o imperador Hirohito não mandou atomizar São Francisco. Seria só porque não tinha a junta do gen. Kaúlza de Arriaga ás suas ordens, ou existiriam ainda maiores impedimentos?

12:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Claro que não pretendo dizer no meu comentário acima que o então presidente Spínola deveria ter ficado à espera de algum apoio por parte do PCP (!), mas sim que sem nenhum amparo político que o escorasse e sem forças armadas para comandar, pouco poderia ter feito para o marginalizar, excepto recusar-se a colaborar com a situação imposta pelas forças conjuntas do PCP, PS e PPD, que foi o que fez.

1:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo com o Mário, a maré estava toda contra o Spínola e os partidos "de direita" todos alinhados com a esquerda e com os MFAs. E que mais forças anticomunistas organizadas havia? Meia-dúzia de gajos com armas?

1:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Quando falo na «pergunta do Sila» refiro-me, é claro, à questão que ele implicitamente levanta: «por que razão não mandou o Spínola rebentar com as barricadas, já que procurava apoios e a manifestação procurava congregá-los à sua volta?»

A resposta parece-me óbvia: porque se se sentisse em posição de o fazer não teria sequer precisado de manifestação nenhuma!

O problema que os detractores do Spínola geralmente não consideram é que não basta «dar ordens aos militares», é preciso ter quem as siga.

Em última análise, talvez tenha sido a demissão do Spínola da presidência que criou as próprias condições que viriam a determinar a derrota do PC. Enquanto a sua presença fosse politicamente relevante, existiria um polo de congregação da esquerda.

Uma vez vitoriosos sobre a falsa «intentona spínolista» e levada a cabo a destruição violenta dos partidos que a tinham apoiado -- do Progresso, Liberal e Trabalhista, todos eles embrionários, mas legalmente constituidos -- os partidos do arco socialista ficaram com mais tempo para se dedicarem uns aos outros, e o povo português para compreender um pouco melhor o que lhe estavam a preparar.

É curioso notar que o ódio ao Spínola parte de dois grupos muito diferentes: por um lado os ex-compagnons de route do PCP que, à esquerda, não lhe perdoam ter visto mais longe e mais cedo do que eles próprios viam nos verdes anos da sua ingenuidade; e por outro, à direita, os que não lhe perdoam a sua contribuição para a queda do antigo regime e a independência das colónias.

3:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O Spínola deixou-se "comer" à esquerda e à direita, era um nabo político.

3:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu ainda era muito miúdo, não me recordo de nada!

3:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Disse um anónimo: «O Spínola deixou-se "comer" à esquerda e à direita, era um nabo político».

Fez o que pode nas circunstâncias que prevaleciam na horta de 1974. O facto de ter derrubado (e bem) um regime não o coloca de modo algum no topo da hierarquia leguminífera. E se por sabedoria política se entende aquela imponderabilidade característica do outro, então ainda bem que não tivemos muitos mais «bons políticos»...

4:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Isto aqui é só fascistas, vão-se catar todos, fachos!!!!!

5:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É o faxismo pá! É o faxismo. O Hilter tá de volta, caneco

5:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este tipo de intervenções inqualificáveis devem ser submetidas a exame prévio de uma polícia internáutica contra o racismo, o fascismo e a xenofobia

5:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gozem, gozem, seus putos fascistas, nazizóides da treta, skinheads racistas, hãode-se lixar umm dia!

5:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro alcoólico anónimo antifascista:

Este blogue é para pessoas que redigem correctamente português e não para "guinorantes"
que escrevem "hãode-se lixar".

Volte para a escola da Buraca, aprenda a escrever e, depois, regresse.

6:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A aliança do povo trabalhador com os imigrantes explorados e humilhados há-de triunfar sobre este regime podre e os exploradores do governo PS vendido e do capital e os fascistas de toda a nota, pagarão pelos seus actos! Viva a revolução global, abaixo o capital e os que o servem!

6:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mas este anónimo, nos tempos do nosso Presidente Médici, já estaria, agorinha mesmo, com sete palmos de terra em cima e formiga saindo de sua boca

6:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ah grande brazuka, assim é que é, taca fogo no comuna!

6:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nóis vai tratar dessi subversivo...

6:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu ainda era moço, mas recordo-me dos meus pais muito preocupados por poder haver tiroteio e mais confusão da que já começava a haver. O meu pai, um bom salazarista, xingava toda a gente, do Spínola aos comunas e aos MFA, e a minha mãe, simpatizante do então PPD, tentava sossegá-lo. E depois, veio o 11 de Março...

8:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há uma série de factos acima narrados sobre o 28 de Setembro que não estão correctos

1º. O Nosso General Spínola perdeu todos os apoios próprios nos regimentos, com o levantamento das Caldas ( o Major Bruno, Monge e muitos outros foram presos), passando os camaradas afectos à esquerda e ao centro-esquerda a tomar conta do movimento dos capitães. Ora o general Spínola foi imprudente em dar o seu nome a um movimento que nunca controlou desde o primeiro minuto e cujas intenções em relação ao Ultramar conhecia pelo protocolo secreto com a futura Junta de Salvação Nacional que a coordenadora do MFA lhe fez chegar dias antes do 25 de Abril.

2º. Já na Presidência, o nosso General Spínola não se preocupou em colocar os oficiais que lhe eram afectos em quartéis importantes em volta e Lisboa. Deixou que o Prof. Palma Carlos que queria eleições presidenciais antecipadas para reforçar o Presidente da República se demitisse e com ele os ministros moderados.Permitiu também que para o novo Governo fosse o Coronel Vasco Gonçalves, um oficial comunista de engenharia, em vez de impor a solução Firmino Miguel.

3º. O Presidente Spínola perdeu rapidamente o controlo da situação da tropa no Ultramar mostrando-se incapaz de impor o seu plano federalista perante uma coordenadora do MFA aliada aos socialistas e comunistas que apenas queriam entregar os territórios, rapidamente às guerrilhas. Com a sua incapacidade de controlar uma revolução que legitimou com o seu impensado livro, o General Spínola viu ruir, uma a uma, todas as suas ideias de uma verdadeira autodeterminação do Ultramar, mediante uma decisão democrática das suas populações as quais foram entregues pelo Movimento das Forças armadas a regimes comunistas.

4º Finalmente o General Spínola aceitou o plano estúpido do General Galvão de Melo de fazer a manifestação da maioria silenciosa com um grupo de partidos de direita, sem ter meios policiais e militares em estado de prontidão para proteger os manifestantes. Quando na véspera da manifestação o nosso General Diogo Neto quis, em Belém, prender o Major Otelo e o Coronel Vasco Gonçalves ( que estam quase detidos no Palácio) e recorrer à GNR, aos paraquedistas e a cavalaria para dissolver pela força as barricadas,foi confrontado com as hesitações do Presidente.

Este, deixou-se convencer pelo Coronel Firmino Miguel no sentido de não agir, pois ficaria responsável por um banho de sangue, que, a bem da verdade, nunca ocorreria na escala que prognosticavam. Como se viu no 25 de Novembro. Julgo que foi um erro grave porque, ter-se-ia evitado o PREC e o desastre de Angola, que poderia ter tido uma independência muito diferente.

O nosso General Spínola era um bom militar táctico mas um ingénuo e, politicamente, um Chefe de Estado inábil, impreparado, vaidoso e desastrado. Pagou amargamente as suas faltas com sucessivas humilhações no 11 de Março ( tendo fugido para Espanha com uma barba postiça) e na França e Espanha de onde foi sendo expulso.
Regressou ao País, também humilhado, sob prisão e apenas porque nós fizemos o 25 de Novembro, pondo termo a um caos que ele deixou grassar e que se antevia, desde que publicou aquele livro desastroso que foi a bandeira traída de uma revolução sequestrada por comunistas e elementos da extrema-esquerda.

Fez muito mal ao País.

Apesar de tudo, Paz à sua Alma.

1:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Isto não vos lembra qualquer coisa, bravas gentes?

TV russa: o mais popular

Aceitam-se apostas sobre «o eleito do país real», como dizia já nem sei quem no fadinho da saudade...

;^D

2:01 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Justos Céus ! Não é que a moda do Senhor Doutor Salazar contagiou as gentes para lá da Transcarpátia ?

2:22 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Safa! Parece um mau filme russo de zombies!

2:27 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

[Dito do Coronel em negrito]

Há uma série de factos acima narrados sobre o 28 de Setembro que não estão correctos


Obrigado. Vamos ao esclarecimento.

1º. O Nosso General Spínola perdeu todos os apoios próprios nos regimentos, com o levantamento das Caldas ( o Major Bruno, Monge e muitos outros foram presos), passando os camaradas afectos à esquerda e ao centro-esquerda a tomar conta do movimento dos capitães.

Nem mais. O que em nada diminui o mérito e a importância histórica do «Vosso General» e seus apoiantes militares da época. Pelo contrário.

Ora o general Spínola foi imprudente em dar o seu nome a um movimento que nunca controlou desde o primeiro minuto e cujas intenções em relação ao Ultramar conhecia pelo protocolo secreto com a futura Junta de Salvação Nacional que a coordenadora do MFA lhe fez chegar dias antes do 25 de Abril.

Se tiver a bondade de transcrever o documento que invoca poderá verificar que ele nunca incluiu a entrega do poder sem eleições ao MPLA comunista. Isso foi obra dos vencedores do 28 de Setembro (MFA «purgado», PCP, PS, PPD).

Parece-me aliás óbvio que o Spínola evoluiu positivamente no sentido de desistir do seu quimérico plano de uma federação pluricontinental (que, em regime democrático, colocaria a metrópole, tarde ou cedo, na dependência política das ex-colónias), aceitando a ideia da independência completa como resultado de um processo de consulta às populações em que o resultado da sua auto-determinação fosse esse, e exprimindo claramente essa aceitação num discurso.

Longe de pactuar com obscuras intenções em relação ao Ultramar que não passassem pela sua auto-determinação, e impossibilitado de a assegurar em termos democráticos (sem os «apoios próprios» no seio do MFA, como muito bem diz, podendo até acrescentar «nem nos partidos vencedores do 28 de Setembro»), preferiu demitir-se.

A minha única objecção a essa ideia antiga de auto-determinação das colónias, com resultados possíveis que incluíssem não só o da independência, mas também o da continuação de ligação à metrópole, reside apenas na sua exclusão de auto-determinação para a metrópole, uma vez que não se reconhecia o direito de Portugal dizer não à sua africanização política.

Mas se for essa a medida de alguma inegável «ingenuidade», como classificaremos então, por exemplo, os projectos de manutenção eterna de colónias? E como se conseguiria esse resultado? Com a guerra, a censura prévia e as fantochadas eleitorais do salazarismo-caetanismo até ao dia do juízo final?...

Bom, o juízo final chegou e afinal houve mais vida depois dele. Devemos lamentar o facto?

2º. Já na Presidência, o nosso General Spínola não se preocupou em colocar os oficiais que lhe eram afectos em quartéis importantes em volta e Lisboa.

O vosso general não controlava o MFA pós-revolucionário que os partidos civis incensavam sem cessar, nem tinha os meios de o fazer. Era impossível recusar «o heróico movimento» sem entrar em luta aberta contra o eixo PCP-PS-PPD.

E o problema dos oficias que lhe eram afectos -- como o seu próprio! -- é que não desejavam lançar-se em lutas fratricidas. Derrubado o regime, tudo o que ambicionavam era uma rápida transição e a criação de um poder civil. Claro que houve um erro de avaliação de personalidades como os socialistas (de vários matizes) Gonçalves, Otelo ou Antunes, e sem dúvida também -- ossos do ofício! -- das fracas hipóteses de predominância última do espírito de corpo militar sobre a autonomia ideológica. Obviamente que as reuniões operacionais no teatro de guerra da Guiné com gente como o Otelo ou o Fabião não devem ter constítuido a melhor preparação para prever o seu comportamento posterior, e nessa medida concordo que houve ingenuidade. Mas, se bem me recordo, os partidos, na fase-pré-gonçalvista do assalto pan-socialista ao poder gostavam muito do Gonçalves, de modo que a avaliação das ingenuidades é muito relativa. Em minha opinião, a do Spínola não sai muito mal do confronto com as dos restantes protagonistas.

Deixou que o Prof. Palma Carlos que queria eleições presidenciais antecipadas para reforçar o Presidente da República se demitisse

Pois. E como é que o impediria? Sequestrando-o em Belém? Ou talvez decretando mesmo as eleições presidenciais, antes das constituintes e contra o programa do MFA, e fazendo passar os partidos da hostilidade surda para a guerra aberta contra si próprio e o seu «golpe de estado»?

e com ele os ministros moderados.Permitiu também que para o novo Governo fosse o Coronel Vasco Gonçalves, um oficial comunista de engenharia, em vez de impor a solução Firmino Miguel.

Se bem me lembro, a antiguidade da ligação do Gonçalves ao PCP constituiu uma surpresa quando foi descoberta. E de qualquer modo, as inépcias dessa ave rara foram uma ajuda preciosa para finalmente lançar os outros dois partidos do «eixo» em oposição aberta à comunização do país...

3º. O Presidente Spínola perdeu rapidamente o controlo da situação da tropa no Ultramar mostrando-se incapaz de impor o seu plano federalista perante uma coordenadora do MFA aliada aos socialistas e comunistas que apenas queriam entregar os territórios, rapidamente às guerrilhas.

E como é que ele imporia o seu controlo aos que ocupavam o terreno no ultramar, se não o tinha sequer na metrópole? Quanto ao tal «plano federalista», estamos conversados. O facto de se ter apercebido do seu irrealismo, só abona em seu favor.

Com a sua incapacidade de controlar uma revolução que legitimou com o seu impensado livro, o General Spínola viu ruir, uma a uma, todas as suas ideias de uma verdadeira autodeterminação do Ultramar, mediante uma decisão democrática das suas populações as quais foram entregues pelo Movimento das Forças armadas a regimes comunistas.

Não só pelo MFA, mas pelo MFA com o apoio dos partidos socialistas portugueses. Se duvida releia os comunicados da época do Alvor etc.

4º Finalmente o General Spínola aceitou o plano estúpido do General Galvão de Melo de fazer a manifestação da maioria silenciosa com um grupo de partidos de direita, sem ter meios policiais e militares em estado de prontidão para proteger os manifestantes.

Certo. Parece até que chegou a dar ordens a unidades para se deslocarem para determinados locais e não foi sequer obedecido. Mas a manifestação não foi um capricho tresloucado numa situação de controlo fácil da situação. Foi antes uma jogada de póquer em situação desfavorável que se degradava rapidamente. E a principal razão por que esse bluff destinado a moderar os ímpetos do MFA falhou, não foi essa. Foi a surpreendente prontidão com que as hostes do PCP e do PS, com o apoio moral do PPD, saltaram para a rua. No dia seguinte todos os «não-ingénuos» embandeiraram em arco, e se depois da jornada das barricadas não passearam em triunfo o Barreirinhas, foi só porque estavam cansadíssimos da «luta contra a reacção»...

Quando na véspera da manifestação o nosso General Diogo Neto quis, em Belém, prender o Major Otelo e o Coronel Vasco Gonçalves ( que estam quase detidos no Palácio) e recorrer à GNR, aos paraquedistas e a cavalaria para dissolver pela força as barricadas,foi confrontado com as hesitações do Presidente.

Parece-me que no seu «recorrer à GNR, aos paraquedistas e à cavalaria» está implícito que teríamos inaugurado um combate de facto -- e não só de bastidores -- de parte das forças armadas contra as restantes e o eixo PCP-PS-PPD. Não sei o que teria dado e concordo que teria sido, numa situação extrema, desejável. Mas não podemos esquecer que, apesar de tudo, a retirada do Spínola não representava imediatamente uma tomada de poder comunista, mas tão só uma responsabilização dos outros dois partidos anti-spinolistas. Ao retirar-se desimpediu o caminho, é verdade, à descolonização em catástrofe, mas teria sido melhor se tivesse ido à luta, prendido o Cunhal e o Soares, e transmitido mensagens de reinício da luta armada anti-independentista aos MFAs do ultramar? Teriam os resultados sido brilhantes? O que é que lhe chamariam hoje?...

Este, deixou-se convencer pelo Coronel Firmino Miguel no sentido de não agir, pois ficaria responsável por um banho de sangue, que, a bem da verdade, nunca ocorreria na escala que prognosticavam. Como se viu no 25 de Novembro.

Não está a esquecer o pequeno pormenor de o 25 de Novembro ter ocorrido num clima totalmente diferente, ou seja, em plena guerra entre praticamente o país não-comunista inteiro e o PCP?

Julgo que foi um erro grave porque, ter-se-ia evitado o PREC e o desastre de Angola, que poderia ter tido uma independência muito diferente.

Na altura também pensei isso. Hoje tenho as minhas dúvidas quanto a essa possibilidade. O que se devia ter tentado era uma evolução atempada rumo à auto-determinação de todas as populações. Em que medida é que a impotência do Spínola é mais culpada que a casmurrice do Salazar ou do Caetano é coisa que deixo ao seu juízo.

O nosso General Spínola era um bom militar táctico mas um ingénuo e, politicamente, um Chefe de Estado inábil, impreparado, vaidoso e desastrado.

Em minha opinião, o que lhe vale esse tipo de epítetos são duas características que não costumam granjear grande popularidade: a de ter sido um homem com princípios e a de ter possuído a honestidade intelectual necessária para alterar as suas posições ideológicas e políticas.

Pagou amargamente as suas faltas com sucessivas humilhações no 11 de Março ( tendo fugido para Espanha com uma barba postiça)

Usar barbas postiças para não se ser capturado é uma humilhação, mesmo quando nem sequer se é capturado? Essa é boa. Nunca me tinha ocorrido. Então o que é que devia ter feito? Devia-se ter ido entregar ao COPCON?...

e na França e Espanha de onde foi sendo expulso.

Desde quando é que indo sendo expulso vai sendo uma humilhação? Parece-me detectar um certo ódio recalcado à procura de argumentos. Alguma promoção indeferida?

:^)

Regressou ao País, também humilhado, sob prisão e apenas porque nós fizemos o 25 de Novembro,

«Nós» quem? O MFA antuno-eanista? Eu sei lá com quem estou a falar...

pondo termo a um caos que ele deixou grassar e que se antevia, desde que publicou aquele livro desastroso que foi a bandeira traída de uma revolução sequestrada por comunistas e elementos da extrema-esquerda.

Mas que grande confusão. O livro foi «desastroso», mas pelos vistos a revolução já não foi e até nos queixamos das «traições» e dos «sequestros». Em que é que ficamos, só para eu captar o posicionamento político do meu prezado interlocutor?

Fez muito mal ao País.

Seria estulto da minha parte pedir-lhe uma pequena amostragem de personalidades credoras dos seus agradecimentos? Só para fixar ideias.

Apesar de tudo, Paz à sua Alma.

Paz a todas as almas.

6:13 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

com 2 anos apenas, mas já a sonhar com um Portugal decente e grande do Minho a Timor.

sonhos....

cumps

Rui Santos

11:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

VOU COMENTAR APENAS UM PASSO DOS “ESCLARECIMENTOS DE “MÁRIO” JÀ QUE OS MESMO EXIGEM ALGUM DETALHE

NOTA: NOSSOS COMENTÁRIOS ORIGINÁRIOS SÂO FEITOS A “BOLD”, ESCLARECIMENTOS DE “MARIO” EM LETRA COMUM E MINHAS ANOTAÇÕES AOS SEUS ESCLARECIMENTOS EM MAIÚSCULA

PARTE I. A AMBIÇÃO E A FALTA DE PRUDÊNCIA DO GENERAL SPÍNOLA


1º. O Nosso General Spínola perdeu todos os apoios próprios nos regimentos, com o levantamento das Caldas ( o Major Bruno, Monge e muitos outros foram presos), passando os camaradas afectos à esquerda e ao centro-esquerda a tomar conta do movimento dos capitães.

Mário: Nem mais. O que em nada diminui o mérito e a importância histórica do «Vosso General» e seus apoiantes militares da época. Pelo contrário.

ANOTAÇÃO: SEM OFENSA PARA A MEMÓRIA DO GENERAL SPÍNOLA, DA FRASE DE “MARIO” ASSINALADA ACIMA PODERIA RETIRAR-SE, EM PARALELO, PARA A REVOLUÇÃO RUSSA, A IDEIA IDÊNTICA DE QUE “EM NADA DIMINUI A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DO KERENSKY E DOS SEUS APOIANTES MENCHEVIQUES À ÉPOCA”. FIXE, E DAÍ? FORAM IDIOTAS ÚTEIS, PERDERAM E LEGITIMARAM OS QUE DEPOIS MERGULHARAM A RUSSIA NUMA TIRANIA DE QUASE UM SÈCULO.

FALA TAMBÉM EM MÉRITO. “MÈRITO” TÊM AQUELES QUE SABEM ANTEVER O FUTURO E DOMINAR OS FACTOS DO PRESENTE E NÂO, CERTAMENTE, OS QUE DEPOIS DE TEREM ESPATIFADO O PRÓPRIO CARRO ( NA ESTRADA PARA AS CALDAS), ENTRAM DEPOIS NUM OUTRO VEÍCULO EM ANDAMENTO, CONDUZIDO POR TERCEIROS PARA DESTINO DESCONHECIDO OU, PIOR, PARA UM DESTINO SUSPEITO, COMO OS FACTOS EXPRESSOS NO nº 2 DESTA SECÇÃO VIERAM A PROVAR.

O GENERAL SPÍNOLA AO FALHAR O GOLPE DAS CALDAS E AO FICAR SEM UNHAS PARA TOCAR GUITARRA DEVERIA TER TIDO A INTELIGÊNCIA E A PRUDÊNCIA DE NÃO EMPRESTAR O SEU BOM NOME A UM MOVIMENTO MILITAR CONTROLADO POR GENTE QUE ELE SABIA QUE JÁ NÃO ERA A SUA E EM QUEM NÃO TINHA CONFIANÇA (CONVÉM NÃO ESQUECER QUE FORA COSTA GOMES, E NÃO SPÍNOLA O GENERAL MAIS VOTADO PELOS CAPITÃES NA REUNIÃO DE 5 DE MARÇO).

COMO O NOSSO GENERAL TEVE MAIS OLHOS QUE BARRIGA, ABRIU UMA CAIXA DE PANDORA DE CUJOS DEMÓNIOS ACABOU POR SER A PRIMEIRA VÌTIMA POLÍTICA. E AS COISAS DERAM NO QUE DERAM.

2º Ora o general Spínola foi imprudente em dar o seu nome a um movimento que nunca controlou desde o primeiro minuto e cujas intenções em relação ao Ultramar conhecia pelo protocolo secreto com a futura Junta de Salvação Nacional que a coordenadora do MFA lhe fez chegar dias antes do 25 de Abril.

MÀRIO: Se tiver a bondade de transcrever o documento que invoca poderá verificar que ele nunca incluiu a entrega do poder sem eleições ao MPLA comunista. Isso foi obra dos vencedores do 28 de Setembro (MFA «purgado», PCP, PS,

ANOTAÇÂO: O GENERAL SPÍNOLA SABIA DAS INTENÇÕES DA ESQUERDA MILITAR QUE CONTROLAVA O MFA, NO SENTIDO DE SE PRETENDER NOMEAR PARA UM GOVERNO REVOLUCIONÁRIO, GENTE DE ESQUERDA QUE DEFENDIA A ENTREGA DO ULTRAMAR AOS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO:. PODE CONFIRMAR ISTO NOS DADOS DO INSUSPEITO CENTRO DE DOCUMENTAÇÂO 25 DE ABRIL (http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=PulsarAbril74), NOMEADAMENTE QUANDO SE RECORDA: “

“13 de Abril
•Carlos de Morais contacta de novo António de Spínola, a quem entrega a segunda versão do Programa do Movimento, já com as suas sugestões, com excepção da constituição de um Governo Militar. Carlos de Morais informa ainda que é intenção do Movimento, em caso de vitória, entregar a Presidência da República a Costa Gomes e a António de Spínola a chefia do Estado Maior General das Forças Armadas. Finalmente comunica-lhe que é também intenção do Movimento indicar os nomes de Pereira de Moura, Miller Guerra ou Raul Rego para Primeiro Ministro.António de Spínola informa Carlos de Morais que irá submeter o documento à apreciação de Costa Gomes.

Ou

22 de Abril
• •Reunião do Movimento em casa de Simões Teles. Presentes Vasco Gonçalves, Vítor Alves, Almada Contreiras, Franco Charais, Cunha Lauret e Vítor Crespo. Objectivo: concertar as sugestões da última lista de nomes para o Governo com António de Spínola. Decidiu-se pressionar este último, no sentido de aceitar aos nomes sugeridos pelo Movimento: Raul Rego, Miller Guerra e Pereira de Moura, propostos respectivamente por Vasco Gonçalves, Vítor Crespo e Almada Contreiras”.

QUANTO AO DOCUMENTO DO MFA INVOCADO, ESTE CONSTITUÍA UM PROTOCOLO SECRETO QUE NÃO CHEGOU A SER ASSINADO PELA JUNTA E QUE CONTINHA PARTE DA VERSÃO ORIGINÁRIA DE OUTRO ESCRITO CONSTANTE DO PROGRAMA “OS MILITARES AS FORÇAS ARMADAS E A NAÇÃO” ELABORADO NO DIA 5 DE MARÇO PELO MAJOR MELO ANTUNES (EXEMPLAR NA ASSOC. 25 DE ABRIL). NESTE TEXTO, CONDENAVA-SE A POLÍTICA COLONIAL E DIZIA-SE QUE A SOLUÇÃO DA GUERRA ERA POLÌTICA E NÃO MILITAR, ABRINDO-SE O CAMINHO À INDEPENDÊNCIA DO ULTRAMAR.

COMO REFERE A HISTORIADORA MARIA INACIA REZZOLA NO SEU LIVRO ”25 DE ABRIL - MITOS DE UMA REVOLUÇÃO”, O CONTEÚDO DO PROGRAMA ”ASSUSTAVA MUITOS DOS PRESENTES” E UM “DOS GRUPOS MAIS INQUIETOS FOI O DOS SPINOLISTAS” ( p. 49).

SPINOLA TINHA CONSCIÊNCIA DO QUE AÍ VINHA. E A PROVA DISSO É QUE ESCREVEU NO SEU LIVRO “PAÍS SEM RUMO” ( P.103) : “LI IMEDIATAMENTE O CITADO PROGRAMA E, APESAR DA SUPERFICIALIDADE COM QUE O FIZ, DETECTEI A SUA INSPIRAÇÃO COMUNISTA, PONDO, POR ISSO RESERVAS Á MINHA EVENTUAL COLABORAÇÃO, QUE ACABEI POR DAR NA CONVICÇÃO DE QUE, COM O APOIO DO GENERAL COSTA GOMES, CONSEGUIRIA EVITAR QUE O MOVIMENTO FOSSE DOMINADO PELOS COMUNISTAS”

SEGUNDO REZZOLA O “VAI E VEM” DE CORRECÇÔES AO PROGRAMA ACABOU NA VERSÂO DIVULGADA PELO PRÓPRIO SPÍNOLA NA NOITE DO 25 DE ABRIL.

EU PRÓPRIO, EM ANGOLA, LI UMA VERSÂO DO DOCUMENTO E ALERTEI OS CAMARADAS DE ARMAS PARA A NECESSIDADE DE SE CONTER AQUELE PERIGO: INFELIZMENTE ESTAVA NO LESTE QUANDO REBENTOU A BERNARDA.

EM CONCLUSÃO:

1º. ATÉ UM CEGUINHO VIA QUE O PROGRAMA DOS CAPITÃES TINHA UMA RAIZ COMUNISTA OU MARXISTA E, COMO É ÓBVIO, OS COMUNISTAS QUERIAM ENTREGAR O ULTRAMAR AOS MOVIMENTOS DE GUERRILHA PRÓ-SOVIÉTICOS COMO ALIÁS O VIERAM A FAZER, FALANDO OS FACTOS POR SI;

2ª: O NOSSO GENERAL SPÍNOLA SABIA DISSO, COMO ELE PRÒPRIO RECONHECE NO CITADO LIVRO E CONTENTOU-SE A EMENDAR O PROGRAMA ORIGINÁRIO, COMO SE AS EMENDAS APAGASSEM TAMBÈM OS HOMENS QUE O TINHAM ESCRITO, ASSIM COMO AS SUAS IDEIAS E AS SUAS MAIS DO QUE EVIDENTES INTENÇÕES, SENDO ESTA OPÇÃO TANTO MAIS GRAVE, QUANTO O FACTO DE SABER QUE ERA ESSA GENTE, E NÃO OS SEUS HOMENS PRESOS COM A COISA DAS CALDAS, A DOMINAR OS QUARTÉIS;

3ª. A “SUPERFICIALIDADE” COM QUE CONFESSA TER LIDO O TEXTO DE MELO ANTUNES FOI A MESMA COM QUE ENCAROU UMA PROPOSTA DE GOVERNO PROVISÒRIO DOMINADA PELA ESQUERDA; COM QUE DEPOIS NOMEOU ALMEIDA SANTOS DOS FRELIMISTAS “DEMOCRATAS DE MOÇAMBIQUE” PARA MINISTRO DA COORDENAÇÂO INTERTERRITORIAL ( A RAPOSA FOI PARA O GALINHEIRO); E COM QUE CAUCIONOU A REVOLUÇÂO, LEGITIMANDO COM O SEU NOME UMA AVENTURA RADICAL QUE NÃO CONTROLAVA ;

4ª: O GENERAL SPINOLA, AO INVÉS DE TER AJUDADO O REGIME A MUDAR POR DENTRO, ELIMINANDO PRIMEIRO OS CONSPIRADORES MARXISTAS, PREFERIU CAVALGAR O CAVALO ERRADO E FOI POR ELE RAPIDAMENTE DERRUBADO. NÃO ENTREGOU ANGOLA AO MPLA PORQUE ANTES SE DEMITIU: MAS ENTREGOU A GUINÉ AO PAIGC ( E ASSISTIU IMPOTENTE À ENTREGA E MASSACRE DOS EX COMANDOS AFRICANOS); S: TOMÉ AO MLSTP ( TERRITÓRIO ONDE NÃO HAVIA LUTA ARMADA); E MOÇAMBIQUE À FRELIMO (DEPOIS DE ASSISTIR APARVALHADO Á VERGONHA DE SOLDADOS PORTUGUESES DISPARAREM CONTRA CIVIS PORTUGUESES NA REVOLTA DO / DE SETEMBRO).

TODOS ESTES FACTORES REVELAM A TOTAL INÉPCIA DO GENERAL. E O RESULTADO DA SUA HERANÇA É O PAÍS ARRUINADO DOS DIAS DE HOJE. SE O MEU AMIGO ESTÁ SATISFEITO E ACHA QUE VALEU A PENA ( E SUSPEITO QUE ESTÁ QUANDO AFIRMA “ Bom, o juízo final chegou e afinal houve mais vida depois dele. Devemos lamentar o facto?”…OLHE, O QUE QUER QUE LHE DIGA? TANTO MELHOR PARA SI. SIRVA-SE E QUE LHE FAÇA MUITO BOM PROVEITO.

2:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

ESCLARECIMENTO: O BOLD NÂO PASSOU PARA O TEXTO COMO FORA ANTECIPADO. MAS ENTENDE-SE: CORRESPONDE AO PRIMEIRO TEXTO SEQUENTE AOS NÚMEROS 1º e 2º INICIAIS

2:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

25/11 disse: «Esclarecimento: O bold não passou para o texto como fora antecipado. mas entende-se: corresponde ao primeiro texto sequente aos números 1º e 2º iniciais.»

Sem prejuízo de posterior resposta às suas considerações, deixe-me para já indicar-lhe a forma de fazer passar o negrito e o itálico para os textos que o blog afixa, porque as maiuscúlas são bastante incómodas de ler e dificultam a percepção de períodos.

Use os seguintes delimitadores...

< b >
< /b >
< i >
< /i >

... retirando os brancos que só estou a usar para que os possa ver. Exemplo:

-- Neste texto < b >isto fica em negrito< /b > e, se quiser itálico, < i >isto fica em itálico< /i >.

Retirando os brancos:

-- Neste texto isto fica em negrito e isto fica em itálico.

Resposta logo à noite.

7:34 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Correcção (o segundo texto estava diferente do primeiro!):

Retirando os brancos:

-- Neste texto isto fica em negrito e, se quiser itálico, isto fica em itálico.

7:41 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

[Coronel 28/11 em negrito. Tomei a liberdade de reformatar partes do seu texto em minúsculas para facilitar a leitura e resposta]

Anotação: sem ofensa para a memória do general Spínola, da frase de "Mário" assinalada acima poderia retirar-se, em paralelo, para a revolução russa, a ideia idêntica de que "em nada diminui a importância histórica do Kerensky e dos seus apoiantes mencheviques à época". Fixe, e daí? Foram idiotas úteis, perderam e legitimaram os que depois mergulharam a Russia numa tirania de quase um século.


Algumas objecções ao seu paralelo:

Em primeiro lugar, o papel de Kerensky e seus aliados políticos, ao acusarem falsamente de golpista e demitirem (entre a abdicação do czar e a revolução de Outubro) o gen. Kornilov que teria sido talvez um dos poucos capazes de preservar o exército russo da dissolução se -- um se muito importante -- os políticos civis anti-bolcheviques o tivessem apoiado em vez de sabotado, parece-me muito mais sugestivo do papel do PS, PPD e respectivos líderes que do Spínola. E com isto fica sugerido também um paralelo para este último.

Em segundo lugar, mesmo aceitando o seu paralelo que não me parece adequado, há diferenças importantes que quase os transformam em casos opostos: Kerensky insistiu na guerra exterior e não evitou nem o descalabro nessa guerra, nem uma sangrenta guerra civil na Rússia e a vitória final dos bolcheviques. Spínola não insistiu nas guerras do Ultramar (e infelizmente não conseguiu -- como provavelmente ninguém teria conseguido -- conduzir uma retirada em boa ordem dessas guerras sem resolução possível) mas evitou a guerra civil em Portugal em Setembro de 74 e o resultado foi a derrota dos cunhalistas + cliques apaniguadas espalhadas um pouco por toda a esquerda, e especialmente pelo PS, chamado à pedra pelo povo português durante o «verão quente» de 75.

A diferença entre o 28 de Setembro e o 25 de Novembro é que, em 74, Spínola não dispunha das forças armadas e a generalidade dos portugueses não comunistas -- políticamente ignorantes até à medula, graças a décadas consecutivas de salazarismo -- se encontrava na dependência de líderes como Soares e Carneiro, ao passo que, em 75, muitos olhos se tinham aberto (a aprendizagem pela experiência directa pode ser rápida) e eram os partidos dos Soares e dos Carneiros que tinham de se atrelar aos sentimentos populares. Last but not least, os militares novembristas já se ocupavam muito menos com as subtilezas doutrinárias da luta de classes, e muito mais com a situação das forças armadas frente à sua instrumentalização pelo PCP que lhes trataria da saúde a todos. Lá encontraram o seu Yeltsin disposto a dar uns tiros, e lá salvaram o país, porque o país lhes consentiu a jogada e já se estava a salvar a si mesmo em ritmo acelerado. Chegou mesmo a ver-se muitos dos que apelaram às barricadas do 28 de Setembro a apelarem à sua demolição violenta no 25 de Novembro, tal era o ritmo das conversões ao «anti-comunismo primário», como soía dizer-se...

Fala também em mérito. "mérito" têm aqueles que sabem antever o futuro e dominar os factos do presente e não, certamente, os que depois de terem espatifado o próprio carro (na estrada para as Caldas), entram depois num outro veículo em andamento, conduzido por terceiros para destino desconhecido ou, pior, para um destino suspeito, como os factos expressos no nº 2 desta secção vieram a provar.

Para evitar confusões, usemos a palavra «mérito» como julgo que a está a usar, no sentido neutro de eficácia, de sucesso, de «saber antever o futuro e dominar os factos do presente», como diz, independentemente de como apreciarmos a mudança de regime que teve lugar.

Não subestime a influência da saída do RI5, em 16 de Março, no aumento de confiança que redundou num 25 de Abril coordenado, quase unânime e bem sucedido. Essa saída impulsiva, no dia seguinte ao da demissão de Spínola e Costa Gomes, patenteou a intensidade da insatisfação militar a toda a gente, incluindo até muitos militares apolíticos ou indiferentes, «por fora» do MFA mas conscientes da extensão do que se preparava e da forma quase universal como se encarava a partir da prisão de cerca de 200 militares, a inevitabilidade, com forte probabilidade de sucesso, de nova tentativa depois da primeira «sonda».

Em sua opinião, se bem o estou a entender, os que saíram primeiro foram patetas sem mérito algum e Spínola foi o seu mentor. Julgo que não foi e que até procurou dissuadi-los dessa saída apressada, mas admitamos que tivesse sido. Não estamos aqui a falar de 1905 e 1917, ou de 1891 e 1910. Estamos a falar de Março e Abril de 1974 e de um intervalo de pouco mais de um mês. Em que medida é que se pode considerar que a saída do RI5 foi mal sucedida se um mês depois o regime estava feito em cacos?

Um carro espatifou-se e o outro não? Em minha opinião, o que se espatifou foi a carripana do regime cessante. Um melhor paralelo a lembrar a Grande Guerra seria com o primeiro que faz soar o apito e salta da trincheira, e os que o seguem, mesmo que alguns deles com intenções de lhe dar um tiro nas costas. Mas se a trincheira adversa for conquistada de forma decisiva poder-se-á falar em insucesso do que saltou em primeiro lugar? O certo é que a intenção, tanto dos spínolistas como dos esquerdistas, foi derrubar o regime, e o regime caiu como um castelo de cartas.

O que se seguiu não é muito relevante para o mérito dos que avançaram no 16 de Março, mas se quisermos estabelecer balanços finais, sempre lhe lembro que o Spínola morreu em Portugal, sob um regime do tipo que pretendia instaurar e que os «vencedores» do 28 de Setembro desprezavam sobre todas as coisas apelidando-o de «democracia burguesa».

Não sabiar «antever o futuro e dominar os factos do presente»? Bom, pelo menos tentou e enganou-se menos que muitos. Mais parece um lamento sobre as guerras ultramarinas do Salazar que se resumiam a aguentar enquanto fosse possível, ou do assalto ao poder do Cunhal que acabou por despoletar o primeiro levantamento anti-comunista bem sucedido da Europa, numa época em que até a Itália parecia prestes a soçobrar. Se são essas as antevisões e os domínios dos factos dos «bem sucedidos», vou ali e já volto...

Em conclusão:

1º. Até um ceguinho via que o programa dos capitães tinha uma raiz comunista ou marxista e, como é óbvio, os comunistas queriam entregar o Ultramar aos movimentos de guerrilha pró-soviéticos como aliás o vieram a fazer, falando os factos por si;


Certo. Mas ninguém pretende, e muito menos o próprio, que não tivesse visto a influência desses ideólogos do MFA com quem tinha contactos directos ou indirectos. O que não contava é com o grau de apodrecimento das forças armadas de alto a baixo, e com a dificuldade de as controlar, e a eles através delas. Para quem seguiu o psicodrama revolucionário da época isso parece compreensível, porque atingia por vezes dimensões surrealistas e felizmente não durou para sempre.

O problema do Spínola é que precisava de uma base de apoio mínima para poder agir, se quisesse ter uma hipótese remota de sucesso numa confrontação decisiva com os esquerdistas do MFA, e não a conseguiu obter, e não necessariamente por sua culpa.

2ª: O nosso general Spínola sabia disso, como ele próprio reconhece no citado livro e contentou-se a emendar o programa originário, como se as emendas apagassem também os homens que o tinham escrito, assim como as suas ideias e as suas mais do que evidentes intenções, sendo esta opção tanto mais grave, quanto o facto de saber que era essa gente, e não os seus homens presos com a coisa das Caldas, a dominar os quartéis;

As emendas não apagavam os homens, mas definiam os compromissos. E não podemos perder de vista que o objectivo imediato dos spínolistas não consistia apenas em neutralizar o sector esquerdista do MFA, mas também e sobretudo em derrubar o regime e resolver o problema ultramarino da melhor forma possível.

3ª. A "superficialidade" com que confessa ter lido o texto de Melo Antunes foi a mesma com que encarou uma proposta de governo provisório dominada pela esquerda; com que depois nomeou Almeida Santos dos frelimistas “Democratas de Moçambique” para Ministro da Coordenaçâo Interterritorial ( a raposa foi para o galinheiro); e com que caucionou a revoluçâo, legitimando com o seu nome uma aventura radical que não controlava;

É verdade, mas coloco igualmente uma outra questão que nunca obtém resposta: como é que, no contexto dos tempos modernos, teria sido possível acabar com o «estado de emergência» contínuo baseado na polícia, na censura e na ausência de eleições minimamente sérias em que o país vivia há décadas consecutivas, e simultaneamente manter a sua identidade como nação pluricontinental sem a africanização política da metrópole a curto prazo? Por outras palavras, como é que se resolveria a equação «um homem, um voto» sem diminuir um dos membros («os homens são só estes, ou o voto é só neste partido»)?

4ª: O general Spínola, ao invés de ter ajudado o regime a mudar por dentro, eliminando primeiro os conspiradores marxistas, preferiu cavalgar o cavalo errado e foi por ele rapidamente derrubado. não entregou Angola ao MPLA porque antes se demitiu: mas entregou a Guiné ao PAIGC ( e assistiu impotente à entrega e massacre dos ex comandos africanos); S. Tomé ao MLSTP (território onde não havia luta armada); e Moçambique à Frelimo (depois de assistir aparvalhado à vergonha de soldados portugueses dispararem contra civis portugueses na revolta do / de Setembro).

Pois, Também eu preferia que a descolonização tivesse sido planeada num tempo mais recuado e em condições de serem melhor defendidos os interesses dos portugueses que lá estavam.

Mas, em boa verdade, o direito que os movimentos de libertação assumiam de falar pelas populações que diziam representar (e em cujo nome combatiam) não me choca muito mais do que a pretensão de me representar que o regime português se arrogava, depois de me presentear com farsas eleitorais que envergonhariam muitos países africanos (onde se permitia ao menos a existência de boletins de voto nas assembleias de voto, contrariamente ao Portugal do liberal Caetano onde essa estranhíssima prática era interdita e as chamadas Comissões Eleitorais, espécie de partidos instantâneos, se dissolviam instantaneamente após a chapelada).

De modo que já que somos tão lestos a apontar os benefícios da civilização que levámos aos quatro cantos do mundo, talvez devessemos reconhecer que também não fomos os melhores exemplos em tudo.

Não menciono as sinistras patifarias de alguns portugueses e do PAIGC na Guiné porque, do nosso lado, me parecem mais resultantes da anarquia e indisciplina local vigente nessa fase que de planos concebidos e encomendados a partir da metrópole (mas posso estar enganado)

O encontro de Argel entre os representantes portugueses e o MLSTP de que resultou a independência de S. Tomé só se realizou em Novembro de 74. Não sei onde vai buscar a responsabilidade do Spínola, mas também não investiguei e não recuso que possa haver alguma. Mas também não aceito que não se possa conceder a independência a quem a deseja e justifica em termos históricos, culturais, étnicos etc., só porque não houve luta armada.

Os acordos de Lusaka que conduziram à independência de Moçambique foram assinados 3 semanas antes do 28 de Setembro e podem ter sido a gota que entornou o vaso. Os do Alvor já foram assinados sem o Spínola na presidência.

Não há muito mais a dizer sobre tudo isto. Pode parecer cínico, mas para lá de todas os dramas humanos, o país verdadeiro ficou a ganhar com o regresso dessa excelente gente «retornada» que soube adaptar-se de forma tão extraordinária e nem perdeu tempo a queixar-se, embora não lhe faltassem razões.

E do ponto de vista das populações africanas lamento todas as calamidades de que foram vítimas durante tanto tempo depois da nossa partida, mas francamente nunca suportei muito bem o mito da colonização opressora de sentido único, cheia de vícios e sem faceta redentora alguma, e não estou agora muito predisposto para o choradinho do mea culpa português pelas guerras, crimes e abusos dos movimentos locais na era pós-colonização.

Pessoalmente não quero mais integração europeia, mas francamente sinto-me muito mais grego ou espanhol do que bijagó ou bacongo...

Todos estes factores revelam a total inépcia do general. E o resultado da sua herança é o país arruinado dos dias de hoje. Se o meu amigo está satisfeito e acha que valeu a pena (e suspeito que está quando afirma "bom, o juízo final chegou e afinal houve mais vida depois dele. Devemos lamentar o facto?"… olhe, o que quer que lhe diga? Tanto melhor para si. Sirva-se e que lhe faça muito bom proveito.

Há mais vida não quer dizer ausência de problemas e dificuldades, senão é que era mesmo o rigor mortis do condado.

Isto de certidões de óbito a ideias está a tornar-se uma mania. Mas deve ser um bocado como a história do Fukuyama a quem alguém dizia que o fim do fim da história tinha sido o 11 de Setembro...

7:05 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Sem prejuízo de um ulterior pósfacio ou esclarecimento pontual, julgo que fica razoavelmente tratada a questão da hipotética inépcia e das responsabilidades históricas do General António de Spínola. Como não me ajeito com o bold, envio em maiúscula o texto de Mário.

I.
Mário: EM PRIMEIRO LUGAR, O PAPEL DE KERENSKY E SEUS ALIADOS POLÍTICOS, AO ACUSAREM FALSAMENTE DE GOLPISTA E DEMITIREM (ENTRE A ABDICAÇÃO DO CZAR E A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO) O GEN. KORNILOV QUE TERIA SIDO TALVEZ UM DOS POUCOS CAPAZES DE PRESERVAR O EXÉRCITO RUSSO DA DISSOLUÇÃO SE -- UM SE MUITO IMPORTANTE -- OS POLÍTICOS CIVIS ANTI-BOLCHEVIQUES O TIVESSEM APOIADO EM VEZ DE SABOTADO, PARECE-ME MUITO MAIS SUGESTIVO DO PAPEL DO PS, PPD E RESPECTIVOS LÍDERES QUE DO SPÍNOLA. E COM ISTO FICA SUGERIDO TAMBÉM UM PARALELO PARA ESTE ÚLTIMO.

EM SEGUNDO LUGAR, MESMO ACEITANDO O SEU PARALELO QUE NÃO ME PARECE ADEQUADO, HÁ DIFERENÇAS IMPORTANTES QUE QUASE OS TRANSFORMAM EM CASOS OPOSTOS: KERENSKY INSISTIU NA GUERRA EXTERIOR E NÃO EVITOU NEM O DESCALABRO NESSA GUERRA, NEM UMA SANGRENTA GUERRA CIVIL NA RÚSSIA E A VITÓRIA FINAL DOS BOLCHEVIQUES. SPÍNOLA NÃO INSISTIU NAS GUERRAS DO ULTRAMAR (E INFELIZMENTE NÃO CONSEGUIU -- COMO PROVAVELMENTE NINGUÉM TERIA CONSEGUIDO -- CONDUZIR UMA RETIRADA EM BOA ORDEM DESSAS GUERRAS SEM RESOLUÇÃO POSSÍVEL) MAS EVITOU A GUERRA CIVIL EM PORTUGAL EM SETEMBRO DE 74 E O RESULTADO FOI A DERROTA DOS CUNHALISTAS + CLIQUES APANIGUADAS ESPALHADAS UM POUCO POR TODA A ESQUERDA, E ESPECIALMENTE PELO PS, CHAMADO À PEDRA PELO POVO PORTUGUÊS DURANTE O «VERÃO QUENTE» DE 75.

A DIFERENÇA ENTRE O 28 DE SETEMBRO E O 25 DE NOVEMBRO É QUE, EM 74, SPÍNOLA NÃO DISPUNHA DAS FORÇAS ARMADAS E A GENERALIDADE DOS PORTUGUESES NÃO COMUNISTAS -- POLÍTICAMENTE IGNORANTES ATÉ À MEDULA, GRAÇAS A DÉCADAS CONSECUTIVAS DE SALAZARISMO -- SE ENCONTRAVA NA DEPENDÊNCIA DE LÍDERES COMO SOARES E CARNEIRO, AO PASSO QUE, EM 75, MUITOS OLHOS SE TINHAM ABERTO (A APRENDIZAGEM PELA EXPERIÊNCIA DIRECTA PODE SER RÁPIDA) E ERAM OS PARTIDOS DOS SOARES E DOS CARNEIROS QUE TINHAM DE SE ATRELAR AOS SENTIMENTOS POPULARES. LAST BUT NOT LEAST, OS MILITARES NOVEMBRISTAS JÁ SE OCUPAVAM MUITO MENOS COM AS SUBTILEZAS DOUTRINÁRIAS DA LUTA DE CLASSES, E MUITO MAIS COM A SITUAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS FRENTE À SUA INSTRUMENTALIZAÇÃO PELO PCP QUE LHES TRATARIA DA SAÚDE A TODOS. LÁ ENCONTRARAM O SEU YELTSIN DISPOSTO A DAR UNS TIROS, E LÁ SALVARAM O PAÍS, PORQUE O PAÍS LHES CONSENTIU A JOGADA E JÁ SE ESTAVA A SALVAR A SI MESMO EM RITMO ACELERADO. CHEGOU MESMO A VER-SE MUITOS DOS QUE APELARAM ÀS BARRICADAS DO 28 DE SETEMBRO A APELAREM À SUA DEMOLIÇÃO VIOLENTA NO 25 DE NOVEMBRO, TAL ERA O RITMO DAS CONVERSÕES AO «ANTI-COMUNISMO PRIMÁRIO», COMO SOÍA DIZER-SE...

Comentário:

a) Não concordo com o paralelo. Kerensky foi o líder político que dirigia o País e que facilitou por fraqueza e inépcia, a revolução bolchevique, através de uma aliança contra natura. A sua posição era idêntica à de Spínola, que independentemente de ser ou não general, era o Presidente da República e, como tal, o líder político do País. Líder que, também como Kerensky, se aliou com uma coordenadora do MFA que, como ele próprio admitiu no livro “País sem Rumo” já aqui citado, continha elementos comunistas ou marxistas. Mas aqui também houve os Generais Kornilov. Veja o caso de Kaúlza que se pretendeu aproximar do Spínola ( reunindo-se por várias vezes com este em casa do MProf. Lumbralles) e que o ex Comandante em Chefe da Guiné traiu e fez sacrificar, denunciando-o ao próprio Regime através do Major Fabião.

Mas o paralelo da posição política de Spínola à época pode ser, também, feito com outros karenskys do pós segunda guerra mundial, que foram os partidos moderados ou sociais-democratas que integraram frentes populares ou frentes amplas nos países do Leste e Centro da Europa. Essas frentes, por vezes lideradas por chefes do Governo não comunistas serviram para legitimar a entrada dos comunistas no poder, poder esse de que rapidamente se apropriaram. Um pouco, portanto, como fez Spínola ao aceitar integrar a CDE e o PCP no 1º e 2º Governos provisórios e ao aceitar nomear para o 2º Governo, Vasco Gonçalves como Primeiro-Ministro.

Curiosamente, Vasco Gonçalves era consabidamente um homem de esquerda radical, e a única dívida na altura era saber se alinhava com a CDE, o PCP ou a extrema-esquerda. Soube na altura dos alinhamentos políticos do Coronel Gonçalves, curiosamente, não através dos meus camaradas nos quartéis, mas por um mestre de obras com quem falei em Angola e que com ele trabalhou numa obra de engenharia antes do 25 de Abril. Se o nosso general Spínola não sabia isto, então não sabia também sequer o que andava a fazer neste mundo.

b) Julgo, em segundo lugar, que ao contrário do que afirma, não teria havido guerra civil no 28 de Setembro. Se umas barricadas fossem pelos ares e os lideres comunistas militares fossem também presos ou neutralizados ( como chegaram a estar em Belém), haveria confrontos limitados entre camaradas de armas e alguns civis, talvez maiores do que o 25 de Novembro, mas não uma guerra civil. Correria sangue, talvez de muita gente, mas este país é, para mal e para bem obra de soldados. Na História o sangue teve de correr muitas vezes para o País continuar. A Espanha teve uma guerra civil para se desembaraçar da parte má. E nós também, para correr com os miguelistas. Porque teria de ser diferente em 1974 quando se jogava a defesa da liberdade e do Portugal pluricontinental?

c) Dizer que o Spínola “evitou a guerra civil em Portugal em Setembro de 74 e o resultado foi a derrota dos cunhalistas + cliques apaniguadas” não corresponde, muito simplesmente, à verdade.

A Spínola faltou determinação para usar a força no 28 de Setembro quando a podia usar na Posição de Presidente da República, tendo preferido usá-la posteriormente num golpe militar desastrado do 11 de Março, onde caiu estupidamente numa esparrela, fugiu do País de barbas postiças e deixou o poder nas mãos de comunistas e extremistas de esquerda. Lembra-se do que gerou o golpe falhado do 11 de Março: Nada mais do que o Conselho da Revolução, o II, IV e V, Governos, as nacionalizações e ocupações, as prisões, as torturas em quartéis, as proibições de jornais e as perseguições a partidos.

Face ao ambiente que se vivia, mesmo se o 11 de Março tivesse ganho em Lisboa pelos spinolistas, teria sido muito mais evidente a hipótese de uma guerra civil nesse cenário, do que no 28 de Setembro, data em que Spínola, então Presidente, tinha muito mais apoios no exército e no povo.

Foi, pois, o 11 de Março que potenciou uma tomada de poder transitória dos marxistas e que criou riscos de uma verdadeira guerra civil. E se esta não ocorreu, foi devido ao 25 de Novembro, em que conseguimos pôr termo àquela pangaiada e não foi precisa muita tropa para a resolver.

Todavia, o 25 de Novembro nada teve a ver com o General Spínola e se aí conseguimos repor a normalidade democrática, tal não foi graças ao nosso general que, com o MDLP ( que não tinha tropa) e as suas alianças com o movimento Maria da Fonte e usando uma rede bombista “partilhada” com outros dois movimentos, apostava claramente numa guerra civil.

d) Lamento, mas não concordo nada com a sua concepção do 25 de Novembro em que estive profundamente envolvido. E o mal que aí terá ocorrido foi de não termos ido mais longe como queria o nosso camarada Jaime Neves. Mas quem mandava na altura era o Tenente-coronel Eanes que, contudo, foi mais do que um Ieltsin ( como o senhor chegou a Insinuar), porque comandou as tropas no terreno, não se limitando a pular para um blindado em frente das câmaras de TV.


II.Mário:

NÃO SUBESTIME A INFLUÊNCIA DA SAÍDA DO RI5, EM 16 DE MARÇO, NO AUMENTO DE CONFIANÇA QUE REDUNDOU NUM 25 DE ABRIL COORDENADO, QUASE UNÂNIME E BEM SUCEDIDO. ESSA SAÍDA IMPULSIVA, NO DIA SEGUINTE AO DA DEMISSÃO DE SPÍNOLA E COSTA GOMES, PATENTEOU A INTENSIDADE DA INSATISFAÇÃO MILITAR A TODA A GENTE, INCLUINDO ATÉ MUITOS MILITARES APOLÍTICOS OU INDIFERENTES, «POR FORA» DO MFA MAS CONSCIENTES DA EXTENSÃO DO QUE SE PREPARAVA E DA FORMA QUASE UNIVERSAL COMO SE ENCARAVA A PARTIR DA PRISÃO DE CERCA DE 200 MILITARES, A INEVITABILIDADE, COM FORTE PROBABILIDADE DE SUCESSO, DE NOVA TENTATIVA DEPOIS DA PRIMEIRA «SONDA».

EM SUA OPINIÃO, SE BEM O ESTOU A ENTENDER, OS QUE SAÍRAM PRIMEIRO FORAM PATETAS SEM MÉRITO ALGUM E SPÍNOLA FOI O SEU MENTOR. JULGO QUE NÃO FOI E QUE ATÉ PROCUROU DISSUADI-LOS DESSA SAÍDA APRESSADA, MAS ADMITAMOS QUE TIVESSE SIDO. NÃO ESTAMOS AQUI A FALAR DE 1905 E 1917, OU DE 1891 E 1910. ESTAMOS A FALAR DE MARÇO E ABRIL DE 1974 E DE UM INTERVALO DE POUCO MAIS DE UM MÊS. EM QUE MEDIDA É QUE SE PODE CONSIDERAR QUE A SAÍDA DO RI5 FOI MAL SUCEDIDA SE UM MÊS DEPOIS O REGIME ESTAVA FEITO EM CACOS?

UM CARRO ESPATIFOU-SE E O OUTRO NÃO? EM MINHA OPINIÃO, O QUE SE ESPATIFOU FOI A CARRIPANA DO REGIME CESSANTE. UM MELHOR PARALELO A LEMBRAR A GRANDE GUERRA SERIA COM O PRIMEIRO QUE FAZ SOAR O APITO E SALTA DA TRINCHEIRA, E OS QUE O SEGUEM, MESMO QUE ALGUNS DELES COM INTENÇÕES DE LHE DAR UM TIRO NAS COSTAS. MAS SE A TRINCHEIRA ADVERSA FOR CONQUISTADA DE FORMA DECISIVA PODER-SE-Á FALAR EM INSUCESSO DO QUE SALTOU EM PRIMEIRO LUGAR? O CERTO É QUE A INTENÇÃO, TANTO DOS SPÍNOLISTAS COMO DOS ESQUERDISTAS, FOI DERRUBAR O REGIME, E O REGIME CAIU COMO UM CASTELO DE CARTAS.

O QUE SE SEGUIU NÃO É MUITO RELEVANTE PARA O MÉRITO DOS QUE AVANÇARAM NO 16 DE MARÇO, MAS SE QUISERMOS ESTABELECER BALANÇOS FINAIS, SEMPRE LHE LEMBRO QUE O SPÍNOLA MORREU EM PORTUGAL, SOB UM REGIME DO TIPO QUE PRETENDIA INSTAURAR E QUE OS «VENCEDORES» DO 28 DE SETEMBRO DESPREZAVAM SOBRE TODAS AS COISAS APELIDANDO-O DE «DEMOCRACIA BURGUESA».


Comentário:
a) Eu não subestimo o 16 de Março. De modo algum. Foi com ele que os spinolistas foram purgados e que a coordenadora esquerdista do MFA fez um balão de ensaio sobre a prontidão da tropa leal ao Governo, ficando com o campo livre para um 25 de Abril radical bem sucedido e “branqueado” pelo nome do General Spínola.

Foi pois um sucesso! Não para o nosso General Spínola ( que poucos meses depois implodiu), para as forças políticas de direita e moderadas que timidamente se formaram ( e imploravam para não ser ilegalizadas) ou para Portugal ( que acabou como o conheceramos), mas para o MFA, os movimentos de guerrilha africanos pró-soviéticos e os partidos comunista e socialista.


b) Refere que “O certo é que a intenção, tanto dos spínolistas como dos esquerdistas, foi derrubar o regime, e o regime caiu como um castelo de cartas.”.

Bom, mas isso é uma constatação lapaliciana. O importante é saber se, ponderados os custos que o derrube teve ( uma descolonização catastrófica, atropelos às liberdades públicas durante dois anos, democracia vigiada até 1982, perdas de recursos públicos num valor de um bilião de contos até 1991 sem contar com as perdas económicas no Ultramar e a evaporação de qualquer importância política, económica e estratégica de um Portugal hoje arruinado e exposto ao domínio económico do País vizinho), com os benefícios ( uma democracia que se transformou, presentemente, num teatro de robertos) terá valido a pena derrubá-lo! Eu acho que não.

E o que importa, também, saber é se o nosso General Spínola, caso tivesse tido a capacidade intelectual (que não teve) para antever esses custos e benefícios, teria derrubado o regime. E eu acho, uma vez mais que não, e para isso basta atentar no seu patético discurso de demissão e nos livros chorosos, amargurados e arrependidos que depois publicou.

A democracia, e sobretudo a democracia ao jeito de pudim instantâneo “Flan Mandarim” não é um bem que valha todos os custos. E o facto é que a ideia repetida até à sociedade de que o regime só poderia cair com uma revolução como a que houve é uma falácia. A transição espanhola fala por si e creia-me que a direita política e militar espanhola era mais dura do que a portuguesa e mesmo assim cedeu numa transição.

Se o general Spínola tivesse tido mais serenidade e lucidez e menos ambição pessoal, teria detectado o tipo de gente com quem conspirava ( o Documento originário do Movimento era elucidativo para o próprio general) e teria preferido juntar-se ao movimento dos Generais Deslandes, Luz Cunha e Kaúlza de Arriaga. O resultado poderia ter sido o afastamento do Chefe do Governo ( que já tinha por duas vezes pedido a demissão) e depois do Presidente da república, gerando-se uma transição política gradual para a democracia e uma autodeterminação controlada. Mas não! O General Spínola, inchado de vaidade e prosápia e acicatado pelos capitães de esquerda preferiu cortar com o General Kaúlza num já aqui falado jantar em casa do Prof. Lumbralles e mandar o Major Fabião fazer aquela denúncia pulha e canalha do “Golpe Kaulzista” que nada mais era do que um processo em que os dois generais se encontravam originariamente envolvidos ( Kaúlza foi o terceiro General mais votado pelos próprios capitães do MFA).

Em suma, o 25 e Abril não era a última alternativa para derrubar o regime, e, dentro das alternativas, os resultados demonstraram que não era seguramente a melhor.

II. Mário:

CERTO. MAS NINGUÉM PRETENDE, E MUITO MENOS O PRÓPRIO, QUE NÃO TIVESSE VISTO A INFLUÊNCIA DESSES IDEÓLOGOS DO MFA COM QUEM TINHA CONTACTOS DIRECTOS OU INDIRECTOS. O QUE NÃO CONTAVA É COM O GRAU DE APODRECIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS DE ALTO A BAIXO, E COM A DIFICULDADE DE AS CONTROLAR, E A ELES ATRAVÉS DELAS. PARA QUEM SEGUIU O PSICODRAMA REVOLUCIONÁRIO DA ÉPOCA ISSO PARECE COMPREENSÍVEL, PORQUE ATINGIA POR VEZES DIMENSÕES SURREALISTAS E FELIZMENTE NÃO DUROU PARA SEMPRE.

O PROBLEMA DO SPÍNOLA É QUE PRECISAVA DE UMA BASE DE APOIO MÍNIMA PARA PODER AGIR, SE QUISESSE TER UMA HIPÓTESE REMOTA DE SUCESSO NUMA CONFRONTAÇÃO DECISIVA COM OS ESQUERDISTAS DO MFA, E NÃO A CONSEGUIU OBTER, E NÃO NECESSARIAMENTE POR SUA CULPA.

Comentário: Mas se viu a influência desses ideólogos, porque é que se aliou a eles? E se perdera a influência nos quartéis com o 16 de Março, porque é que persistiu nessa aliança, numa posição ainda mais enfraquecida e sabendo que Costa Gomes tinha a preferência dos capitães para a Presidência da República?
Se tudo era assim, como poderia ter a veleidade de querer controlar as Forças Armadas?

Se precisava de uma base de apoio mínima porque é que não a criou consistentemente antes de dar o seu aval a um golpe aventureiro que sabia liderado por esquerdistas e preferiu negociar até ao último minuto a composição do futuro do Governo, onde as melhores ofertas da Coordenadora do MFA para primeiro Ministro eram Pereira de Moura e Raul Rego?

Alguém com um mínimo de caco se vai aliar, e ainda por cima numa posição enfraquecida, a gente que considera infiltrada ou dominada por comunistas para derrubar um autoritarismo de brandos costumes? Isso parece a lógica do tipo que quis fugir do inferno acompanhado do diabo!

E com semelhante incapacidade de prever, avaliar e antecipar ( porque todas as suas previsões, avaliações e antecipações sairiam erradas e deram no que deram) o senhor ainda diz que o general Spínola não teve culpa?

MÁRIO: É VERDADE, MAS COLOCO IGUALMENTE UMA OUTRA QUESTÃO QUE NUNCA OBTÉM RESPOSTA: COMO É QUE, NO CONTEXTO DOS TEMPOS MODERNOS, TERIA SIDO POSSÍVEL ACABAR COM O «ESTADO DE EMERGÊNCIA» CONTÍNUO BASEADO NA POLÍCIA, NA CENSURA E NA AUSÊNCIA DE ELEIÇÕES MINIMAMENTE SÉRIAS EM QUE O PAÍS VIVIA HÁ DÉCADAS CONSECUTIVAS, E SIMULTANEAMENTE MANTER A SUA IDENTIDADE COMO NAÇÃO PLURICONTINENTAL SEM A AFRICANIZAÇÃO POLÍTICA DA METRÓPOLE A CURTO PRAZO? POR OUTRAS PALAVRAS, COMO É QUE SE RESOLVERIA A EQUAÇÃO «UM HOMEM, UM VOTO» SEM DIMINUIR UM DOS MEMBROS («OS HOMENS SÃO SÓ ESTES, OU O VOTO É SÓ NESTE PARTIDO»)?

Comentário
a) A tão difícil resposta que nunca obteve está dada na alínea a) da rubrica anterior.

b) Quanto à identidade pluricontinental do Estado é uma questão de modelo de País e de amor que se tem ou não pela Pátria onde se nasceu. Eu vivi, combati e sonhei um Portugal multiracial e pluricontinental e era a Pátria que defendia. Vi, que em Angola ( e com esforço, também em Moçambique) ela era possível e que a guerra aí poderia se mantida vitoriosamente. E que no futuro stodos esses territórios e poderiam unir numa federação ou confederação. Nela acreditavam muitos milhões pretos e brancos que viviam sob a nossa bandeira e tinham por garantida a protecção das nossas forças armadas.

O meu amigo, que não sei se combateu ou esteve nos territórios da África Austral ( presumo que não, pelo tipo de discurso) não acreditava nesse modelo de País. Talvez porque não goste de pretos ( “Pessoalmente não quero mais integração europeia, mas francamente sinto-me muito mais grego ou espanhol do que bijagó ou bacongo”)..e entende como repugnante a “africanização da metrópole”. Mas veja, o Brasil tem uma sociedade multiracial, é hoje uma potência emergente e não se dá assim tão mal. E muitos brasileiros de S. Paulo ou Curitiba sentem-se, também,, mais alemães, japoneses ou portugueses do que guaranis ou descendentes dos escravos dos quilombos, mas tem com eles um ponto de união fundamental: são brasileiros amam o Brasil e “They think big”.

Mas, Deus castiga sem pau nem pedra. Essa africanização do nosso País que o meu caro amigo tanto detesta não ocorrerá nos dias de hoje com dezenas de milhares de pretos, muitos dos quais da Nigéria ou do Gana, a acantonarem-se nos nossos bairros periféricos? Com o afluxo massivo e semanal dos “boat people “ do Norte de África, evitou-se alguma coisa do que queria evitar?

Achou, pois, preferível a debandada que teve lugar e que muito honrou a história militar portuguesa; o abandono das populações à fúria dos terroristas e das guerras civis que se seguiram; o regresso das doenças irradiadas antes da saída dos portugueses; e a indiferença relativista perante o facto de o nosso País ser independente ou uma região espanhola. Está, todavia, no seu pleníssimo direito em exercer essa preferência e contestar o Portugal Histórico e defender a descolonização! Assim como eu estarei em amar o meu País e ter defendido uma solução portuguesa para territórios que eram portugueses.


IV. Mário

MAS, EM BOA VERDADE, O DIREITO QUE OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO ASSUMIAM DE FALAR PELAS POPULAÇÕES QUE DIZIAM REPRESENTAR (E EM CUJO NOME COMBATIAM) NÃO ME CHOCA MUITO MAIS DO QUE A PRETENSÃO DE ME REPRESENTAR QUE O REGIME PORTUGUÊS SE ARROGAVA, DEPOIS DE ME PRESENTEAR COM FARSAS ELEITORAIS QUE ENVERGONHARIAM MUITOS PAÍSES AFRICANOS (ONDE SE PERMITIA AO MENOS A EXISTÊNCIA DE BOLETINS DE VOTO NAS ASSEMBLEIAS DE VOTO, CONTRARIAMENTE AO PORTUGAL DO LIBERAL CAETANO ONDE ESSA ESTRANHÍSSIMA PRÁTICA ERA INTERDITA E AS CHAMADAS COMISSÕES ELEITORAIS, ESPÉCIE DE PARTIDOS INSTANTÂNEOS, SE DISSOLVIAM INSTANTANEAMENTE APÓS A CHAPELADA).

Comentário: Certíssimo mas o General Spínola é que era o defensor da terceira via entre esses dois extremos e que consistia na autodeterminação, com as populações a decidirem democraticamente o seu futuro. E o facto é que falhou miseravelmente, depois de ter prometido que garantiria o seu exercício e de ter abusado da boa fé das pessoas que nele confiaram. Ora, o que estamos a discutir são os predicados do General Spínola.

V. MÁRIO:HÁ MAIS VIDA NÃO QUER DIZER AUSÊNCIA DE PROBLEMAS E DIFICULDADES, SENÃO É QUE ERA MESMO O RIGOR MORTIS DO CONDADO.

ISTO DE CERTIDÕES DE ÓBITO A IDEIAS ESTÁ A TORNAR-SE UMA MANIA. MAS DEVE SER UM BOCADO COMO A HISTÓRIA DO FUKUYAMA A QUEM ALGUÉM DIZIA QUE O FIM DO FIM DA HISTÓRIA TINHA SIDO O 11 DE SETEMBRO...

Nunca disse, que o 25 de Abril tenha sido o fim de Portugal. Foi todavia o fim do Portugal pluricontinental pelo qual muitos lutaram, com o sacrifício da vida, como lhes competia.

Passou-se a um melhor estádio: o estádio do Portugal Europeu, mas ignorado pela Europa, vivendo à custa das esmolas dos fundos europeus e com os piores índices de educação, desenvolvimento e competitividade na Europa ( antes do 25 de Abril, Portugal também estava na Europa (EFTA) e crescia a mais de 5%).

Portugal vive, sem dúvida, e continuará a viver em coma permanente, como um cadáver sempre adiado. Há muito países que assim vegetam há décadas. Trata-se, passo o pleonasmo, de um estranho modo de vida.

Cumprimentos

3:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Julgo, em segundo lugar, que ao contrário do que afirma, não teria havido guerra civil no 28 de Setembro. Se umas barricadas fossem pelos ares e os lideres comunistas militares fossem também presos ou neutralizados (como chegaram a estar em Belém), haveria confrontos limitados entre camaradas de armas e alguns civis, talvez maiores do que o 25 de Novembro, mas não uma guerra civil.

Para não entrarmos em considerações repetitivas sobre os paralelos históricos, sem proveito para ninguém, salto a questão do «melhor Kerensky», e passo a apontar-lhe onde penso que reside a nossa principal discordância sobre a época do 28 de Setembro.

É possível que estando em Angola por essa data, não se tenha apercebido que não se trataria apenas de meia dúzia de «lideres comunistas militares [...] presos ou neutralizados» mas, muito provavelmente de uma imensa maioria do povo português que teria igualmente de ser «neutralizada», dada a sua inocência política, a impopularidade que o regime derrubado tinha atingido, e o clima de euforia genuinamente popular em torno dos partidos de esquerda. Não tenho muitas dúvidas que, por exemplo, Soares e o PS nunca teriam alinhado com o que por essa altura chamavam «o golpismo da reacção» contra o partido comunista.

Correria sangue, talvez de muita gente, mas este país é, para mal e para bem obra de soldados. Na História o sangue teve de correr muitas vezes para o País continuar. A Espanha teve uma guerra civil para se desembaraçar da parte má. E nós também, para correr com os miguelistas. Porque teria de ser diferente em 1974 quando se jogava a defesa da liberdade e do Portugal pluricontinental?

E porquê a pergunta hipotética, quando a realidade nos oferece dados concretos? A pergunta não deveria ser antes: «porque foi diferente a revolução iniciada em 1974 quando se jogou a defesa da liberdade e do Portugal europeu, e ambos sobreviveram sem guerra civil de facto?».

Face ao ambiente que se vivia, mesmo se o 11 de Março tivesse ganho em Lisboa pelos spinolistas, teria sido muito mais evidente a hipótese de uma guerra civil nesse cenário, do que no 28 de Setembro, data em que Spínola, então Presidente, tinha muito mais apoios no exército e no povo.

Sublinho mais uma vez o que me parece o principal erro da sua análise: Spínola viu a sua popularidade inicial rapidamente reduzida entre Abril e Setembro de 74. O regresso dos exilados políticos como Cunhal e Soares e a guerra sem quartel que os respectivos partidos lhe moviam tinham-se encarregado disso. Estou convencido que, em Setembro de 74, os únicos apoios de que dispunha eram os de uma pequena parte, muito minoritária, da população, suficientemente educada do ponto de vista político para não se deixar embalar no canto das sereias esquerdistas, mais um pequeno núcleo de oficiais que lhe eram pessoalmente dedicados dentro das forças armadas, mas que já não detinham controlo algum sobre o MFA.

Foi, pois, o 11 de Março que potenciou uma tomada de poder transitória dos marxistas

Rotundo engano. O poder real estava nas mãos dos marxistas há muito, mas o conhecido tratamento «do salame» estava a ser aplicado com habilidade e sucesso pelo PCP aos seus aliados. Nessa conjuntura, o PCP cometeu um gravíssimo erro ao queimar etapas e saltar em frente, porque levantou contra si, a curto prazo, o PS e a massa dos seus apoiantes.

e que criou riscos de uma verdadeira guerra civil. E se esta não ocorreu, foi devido ao 25 de Novembro, em que conseguimos pôr termo àquela pangaiada e não foi precisa muita tropa para a resolver.

Pelos vistos, a história examinada com hindsight, não impede, apesar disso, algumas contradições: se bem o entendo, foi uma pena que não se tivesse, no 28 de Setembro, quando isso significaria uma confrontação directa com os apoiantes do PS e uma boa parte dos do PPD, avançado para o «derrame de sangue, talvez de muita gente, [já que] este país é, para mal e para bem, obra de soldados», mas o 11 de Março já foi terrível porque poderia ter redundado «numa verdadeira guerra civil»...


Todavia, o 25 de Novembro nada teve a ver com o General Spínola e se aí conseguimos repor a normalidade democrática, tal não foi graças ao nosso general que, com o MDLP ( que não tinha tropa) e as suas alianças com o movimento Maria da Fonte e usando uma rede bombista “partilhada” com outros dois movimentos, apostava claramente numa guerra civil.

A conjuntura é muito diferente. As acções localizadas contra o PCP e as suas sedes, visando instabilizar o seu controlo do país, iam objectivamente no mesmo sentido da luta do PS. Conviria talvez perceber que o chamado «verão quente» de 74 não caíu do céu, nem, que se saiba, entusiasmou grandemente os antunistas-eanistas. E também que o 25 de Novembro foi um golpe muito sui generis, levado a cabo pelos amigos do grupo dos nove e outros ex-revolucionários contra o PCP, visivelmente contrariados e para não perderem o comboio da «contra-revolução» a caminho da democracia constitucional e burguesa. Só quem não seguiu com atenção as impagáveis querelas ideológicas castrenses -- ou talvez nelas andasse mergulhado -- é que não entende as características do 25 de Novembro...

E se é verdade que existia uma situação de guerra civil latente, não se deve esquecer que essa guerra civil seria de quase todos contra o PCP e excrescências, e não de quase todos contra a Junta e a Presidência da República, como teria provavelmente acontecido em Setembro. A diferença é que desde Janeiro a clivagem entre o PCP e o PS se tinha iniciado com a questão da unicidade sindical, e a ingénua e despolitizada massa dos portugueses tinha começado a ver mais longe com o cerco do CDS no então Palácio de Cristal do Porto.

Lamento, mas não concordo nada com a sua concepção do 25 de Novembro em que estive profundamente envolvido. E o mal que aí terá ocorrido foi de não termos ido mais longe como queria o nosso camarada Jaime Neves. Mas quem mandava na altura era o Tenente-coronel Eanes que, contudo, foi mais do que um Ieltsin ( como o senhor chegou a Insinuar), porque comandou as tropas no terreno, não se limitando a pular para um blindado em frente das câmaras de TV.

Bom, o meu «Yeltsin» não era o Eanes, era o Neves.

O Eanes pode ter assumido o comando, zelando pela sua própria sobrevivência e dos seus amigos do grupo dos nove, que tantas responsabilidades -- pela sua acção directa, que não por omissão -- tinham tido na ruína de qualquer hipótese de retirada um pouco menos desastrosa do Ultramar -- mas eu tinha escolhido referir-me de preferência ao operacional apolítico disposto a dar uns tiros para o ar nessa conjuntura aliás favorável, com a esmagadora maioria da população ao lado dos golpistas e pronta a desmantelar as barricadas comunistas em vez de ajudar a erigi-las.

A ambiência do 28 de Setembro é a dos dirigentes do PS e, em larga medida, do PPD, a berrarem aos microfones das estações de rádio para o povo sair à rua e barrar o caminho á «reacção spinolista» constituída por meia dúzia de «silenciosos» convocados por um cartaz desastroso que parecia mostrar um mascarado. A do 25 de Novembro é a das mocas de Rio Maior ao lado dos punhos em riste soaristas e o PCP na defensiva por toda a parte. Não há comparação possível.

Bom, mas isso é uma constatação lapaliciana. O importante é saber se, ponderados os custos que o derrube teve (uma descolonização catastrófica,

Visto que essa é a questão essencial para si, muito agradeceria que me explicasse qual seria o seu projecto ideal não catastrófico:

1) Um Portugal democrático do Minho a Timor com os votos políticos angolanos e moçambicanos (por exemplo) iguais aos europeus?

2) Uma federação de autonomias (e talvez mais tarde independências) de tipo «rodesiano», i.e. implicando o domínio branco sobre as populações locais?

3) A manutenção do sistema colonial até ao dia do juízo final em que o poder poderia finalmente ser reentregue a Salazar ressuscitado, para ele resolver a questão com a sua proverbial e mui admirada sabedoria?

atropelos às liberdades públicas durante dois anos,

É verdade. Mas quem nos dera que as reformas necessárias à resintituição das liberdades públicas tivessem começado, já nem digo dois, mas vinte anos depois da instituição do Estado Novo...

democracia vigiada até 1982,

É verdade. Um resultado da falta de visão dos lideres civis e militares que desprezaram o alerta do gen. Spínola no seu histórico discurso de demissão. Felizmente, em matéria de vigilância castrense, triunfaram a 100% as pretensões spinolistas, e não as kaúlzistas, eanistas, antunistas, gonçalvistas, carvalhistas, gomistas etc..

perdas de recursos públicos num valor de um bilião de contos até 1991 sem contar com as perdas económicas no Ultramar e a evaporação de qualquer importância política, económica e estratégica de um Portugal hoje arruinado e exposto ao domínio económico do País vizinho),

Pois... realmente era melhor estarmos dependentes do Zé Eduardo & quejandos...

E o que importa, também, saber é se o nosso General Spínola, caso tivesse tido a capacidade intelectual (que não teve) para antever esses custos e benefícios, teria derrubado o regime. E eu acho, uma vez mais que não, e para isso basta atentar no seu patético discurso de demissão e nos livros chorosos, amargurados e arrependidos que depois publicou.

Convém ler tudo e ouvir as declarações do próprio depois da vitória da sua causa e do seu regresso ao país. A mim parece-me que amargurados e arrependidos estão os que adoptam o choradinho do fim dos tempos...

A democracia, e sobretudo a democracia ao jeito de pudim instantâneo “Flan Mandarim” não é um bem que valha todos os custos. E o facto é que a ideia repetida até à sociedade de que o regime só poderia cair com uma revolução como a que houve é uma falácia. A transição espanhola fala por si e creia-me que a direita política e militar espanhola era mais dura do que a portuguesa e mesmo assim cedeu numa transição.

A transição espanhola não tinha um problema ultramarino às costas como o nosso. Nunca tinha reparado nesse pormenor? E mesmo assim, julgo lembrar-me de um episódio picaresco que na altura alimentou as esperanças dos nacionalistas portugueses que já então não gostavam de pudins instantâneos, com cenas de tiro no parlamento e tudo...

Se o general Spínola tivesse tido mais serenidade e lucidez e menos ambição pessoal, teria detectado o tipo de gente com quem conspirava (o Documento originário do Movimento era elucidativo para o próprio general) e teria preferido juntar-se ao movimento dos Generais Deslandes, Luz Cunha e Kaúlza de Arriaga.

Cruzes, canhoto!

O resultado poderia ter sido o afastamento do Chefe do Governo (que já tinha por duas vezes pedido a demissão) e depois do Presidente da república, gerando-se uma transição política gradual para a democracia e uma autodeterminação controlada.

Muito comovente essa sua imagem da «autodeterminação controlada» dirigida por quem não queria autodeterminação nenhuma. Os desejos podem ser os melhores do mundo, e as lendas a posteriori também são por vezes muito interessantes, mas o que eu gostava de ter visto era essa gente toda a defender a autodeterminação em público quando essa defesa era difícil...

Mas não! O General Spínola, inchado de vaidade e prosápia e acicatado pelos capitães de esquerda preferiu cortar com o General Kaúlza

Penso que fez muito bem, mas duvido que o motivo tenha sido o «acicate de esquerda» que menciona. O Kaúlza no poder devia ter sido uma rica prenda...

num já aqui falado jantar em casa do Prof. Lumbralles e mandar o Major Fabião fazer aquela denúncia pulha e canalha do “Golpe Kaulzista” que nada mais era do que um processo em que os dois generais se encontravam originariamente envolvidos (Kaúlza foi o terceiro General mais votado pelos próprios capitães do MFA).

Não há dúvida que o MFA era uma desgraçada manta de retalhos. Enfim, está morto e enterrado e os militares afastados da política, como deve ser. Paz à sua alma.

E se perdera a influência nos quartéis com o 16 de Março, porque é que persistiu nessa aliança, numa posição ainda mais enfraquecida e sabendo que Costa Gomes tinha a preferência dos capitães para a Presidência da República?

Porque tentar fazer o possível em cada momento é melhor que não fazer nada sempre que não é possível fazer tudo. Ou está convencido que um regime encabeçado desde o início pelo Costa Gomes em sintonia com o MFA teria sido preferível?

Se tudo era assim, como poderia ter a veleidade de querer controlar as Forças Armadas?

Não me parece que tivesse andado muito iludido depois do 25 de Abril, e antes ninguém imaginava o psicodrama revolucionário que iria ocorrer no seio das forças armadas no seu conjunto. Pelo contrário, estava -- e com razão -- convencido de que esse controlo lhe escapava e não existia senão no papel. Qualquer um que tenha seguido a série de discursos que o Spínola fez nas sua deslocações às unidades -- e que a imprensa nunca publicava na íntegra -- se terá apercebido que essas movimentações constituiam justamente apelos a um cerrar de fileiras frente à ameaça do «novo totalitarismo» (como ele dizia) que se levantava. E os apelos eram sempre dirigidos ao «bom povo português».

Se precisava de uma base de apoio mínima porque é que não a criou consistentemente antes de dar o seu aval a um golpe aventureiro que sabia liderado por esquerdistas e preferiu negociar até ao último minuto a composição do futuro do Governo, onde as melhores ofertas da Coordenadora do MFA para primeiro Ministro eram Pereira de Moura e Raul Rego?

Resposta muito simples e que por esta altura já devia ser desnecessária: «não a criou» porque a que conseguiu criar não chegou, porque as revoluções não nascem pré-determinadas à partida e a cegueira dos políticos não comunistas que jogavam na aliança com o PCP não lho consentiu. Aliás, outra razão não houve para a entrada do Cunhal para o governo (por exigência de Soares).

Alguém com um mínimo de caco se vai aliar, e ainda por cima numa posição enfraquecida, a gente que considera infiltrada ou dominada por comunistas para derrubar um autoritarismo de brandos costumes?

Bem, essa dos «brandos costumes» não é falsa de todo, mas pessoalmente estou convencido que o comunismo cunhalista também não teria transformado Trás-os-Montes na Kolyma, nem as minas da Panasqueira no complexo de Karaganda, e não acho que isso seja caso para sobre ele nos enternecermos. Nesta vida tudo é relativo, os fascismos de trazer por casa como os comunismos ditto...

Isso parece a lógica do tipo que quis fugir do inferno acompanhado do diabo!

Quem? Nosso Senhor quando lá foi resgatar os antigos? Não sabia que tinha sido tão ambicioso...

E com semelhante incapacidade de prever, avaliar e antecipar ( porque todas as suas previsões, avaliações e antecipações sairiam erradas e deram no que deram) o senhor ainda diz que o general Spínola não teve culpa?

Culpa? Depende do que entender por «culpa». Se se refere ao facto de Portugal continuar a sua vida liberto das colónias, bem como de terem acabado a ignomínia da censura prévia, as guerras ultramarinas, e as vergonhosas farsas eleitorais, e ter sido derrotada a ameaça comunista, claro que tem uma boa parte da «culpa», mas não seria essa a palavra que eu utilizaria.

Quanto à identidade pluricontinental do Estado é uma questão de modelo de País e de amor que se tem ou não pela Pátria onde se nasceu. Eu vivi, combati e sonhei um Portugal multiracial e pluricontinental e era a Pátria que defendia. Vi, que em Angola ( e com esforço, também em Moçambique) ela era possível e que a guerra aí poderia ser mantida vitoriosamente.

Mas até quando, a que preço, e com que horizonte em vista?

O que seria o Portugal do futuro na sua visão? Uma nação de bacongos e fulas à mistura com ribatejanos e minhotos, tudo acampado, através de representantes democraticamente eleitos, em Lisboa (ou mais provavelmente Luanda) a definir políticas para uma população integrada de maioria negra com direitos políticos universais e movimentação livre dentro das fronteiras?

E que no futuro todos esses territórios se poderiam unir numa federação ou confederação. Nela acreditavam muitos milhões pretos e brancos que viviam sob a nossa bandeira e tinham por garantida a protecção das nossas forças armadas.

E para quando essa federação de «pseudo-brasis» mais ou menos instantâneos à moda dos pudins? Não sairia mais parecida com uma federação de «rodésias» a caminho de «zimbabués», com todos os problemas que daí decorreriam para a mãe-pátria entalada nessa engrenagem de decomposição colonial? Seria o seu esquema suficientemente generoso para permitir a secessão do velho condado & ilhas dessa salada política potencialmente desastrosa?

Porque se é de uma vaga comunidade nominal de luso-falantes que está a falar, bom, isso é justamente o que há...

O meu amigo, que não sei se combateu ou esteve nos territórios da África Austral ( presumo que não, pelo tipo de discurso) não acreditava nesse modelo de País. Talvez porque não goste de pretos ( “Pessoalmente não quero mais integração europeia, mas francamente sinto-me muito mais grego ou espanhol do que bijagó ou bacongo”)..

Não tem nada a ver com «não gostar» de pretos (ou brancos ou amarelos ou o que sejam). Claro que nada tenho contra os pretos (ou contra os brancos). Mas talvez tenha a ver com o facto de eu ser branco e europeu, não acha? Então o meu prezado interlocutor que mais acima pregava o amor para com a Pátria onde (acidentalmente) se nasce, não prega também o amor ao património genético que (deterministicamente) se herda?

e entende como repugnante a “africanização da metrópole”.

Com certeza, na medida em que significaria a prazo uma submersão da nação com mais de oito séculos de unidade e estabilidade cultural e étnica por interesses estranhos, a colocação do país europeu às ordens de maiorias alienígenas a ditar a lei a partir de Luanda (ou outra qualquer capital da «federação» luso-africana) ao sabor dos interesses maioritários. De certo modo, talvez fosse uma forma de «justiça poética», uma espécie de colonização ao contrário, com alguns efeitos positivos, mas no seu conjunto não me parece uma situação muito desejável para a metrópole.

Mas veja, o Brasil tem uma sociedade multiracial, é hoje uma potência emergente e não se dá assim tão mal. E muitos brasileiros de S. Paulo ou Curitiba sentem-se, também,, mais alemães, japoneses ou portugueses do que guaranis ou descendentes dos escravos dos quilombos, mas tem com eles um ponto de união fundamental: são brasileiros amam o Brasil e “They think big”.

Está a misturar coisas muito diferentes. No caso do Brasil, o povoamento era relativamente escasso e primitivo num primeiro tempo, e a colonização ao longo de vários séculos, seguida de imigração maçica mais recente, foi um processo muito diversificado. Ou seja, no Brasil, como nos Estados Unidos, apesar de existir uma língua comum, existem comunidades muito variadas que reflectem a imigração, e o sentimento nacional existe por cima dessas diferenças, como aglutinador do todo.

A situação de um Portugal multicontinental e democrático seria muito diferente: de um lado os brancos minoritários do condado cá de cima e as suas elites de tipo «rodesiano» estabelecidas nas colónias; e do outro a maioria longamente colonizada e finalmente de posse de direitos políticos integrais.

Fartamo-nos de falar nas «riquezas perdidas», como se elas fossem «nossas», mas acha que existiria alguma maneira prática de convencer os eleitorados ultramarinos dotados de livre organização política a continuar a enviar graciosamente as suas riquezas e matérias primas para a metrópole? E como é que se evitava que as «rodésias» descambassem directamente em «zimbabués» sem necessidade sequer de mais luta armada?

Mas, Deus castiga sem pau nem pedra. Essa africanização do nosso País que o meu caro amigo tanto detesta não ocorrerá nos dias de hoje com dezenas de milhares de pretos, muitos dos quais da Nigéria ou do Gana, a acantonarem-se nos nossos bairros periféricos? Com o afluxo massivo e semanal dos “boat people “ do Norte de África, evitou-se alguma coisa do que queria evitar?

Vamos lá ver se entendo o que me está a dizer: que o suícidio expedito e voluntário ao som da Portuguesa e dos tam-tans teria oferecido mais possibilidades de sobrevivência do que a doença prolongada que se pode combater e sobre a qual se detém algum grau de controlo? Não, francamente acho que não entendo...

Achou, pois, preferível a debandada que teve lugar e que muito honrou a história militar portuguesa; o abandono das populações à fúria dos terroristas e das guerras civis que se seguiram;

Mais white man's burden? Eu por mim, acho que tanto amor nacional aos «nossos protegidos» se devia ter manifestado há mais tempo e com mais hipóteses de concretização prática. Mas não é novidade, o amor babado é sempre o sucessor do trabalho forçado e do (nosso) napalm...

o regresso das doenças irradiadas antes da saída dos portugueses;

É um resultado infeliz mas normal. Deve-se fazer o possível por aliviar esses males, mas não á custa da criação de outros piores.

e a indiferença relativista perante o facto de o nosso País ser independente ou uma região espanhola.

De onde é que extraiu essa conclusão errada?

Está, todavia, no seu pleníssimo direito em exercer essa preferência e contestar o Portugal Histórico e defender a descolonização! Assim como eu estarei em amar o meu País e ter defendido uma solução portuguesa para territórios que eram portugueses.

Bem, a solução foi tipicamente portuguesa, mas já me esquecia que seu amor ao torrão natal lhe torna difícil essa constatação.

Comentário: Certíssimo mas o General Spínola é que era o defensor da terceira via entre esses dois extremos e que consistia na autodeterminação, com as populações a decidirem democraticamente o seu futuro. E o facto é que falhou miseravelmente, depois de ter prometido que garantiria o seu exercício e de ter abusado da boa fé das pessoas que nele confiaram. Ora, o que estamos a discutir são os predicados do General Spínola.

Não só, mas no contexto envolvente. O teste que se deve fazer é ler o que, não só o Spínola, mas todos os outros protagonistas diziam e escreviam na época dos acontecimentos de que falamos. Não leia o que os sobreviventes escrevem agora nas suas análises rectroactivas. Leia o que diziam então. Não conheço melhor teste para iluminar o abismo que separou o gen. Spínola dos ingénuos, arrivistas e imbecis que dominaram este país.

Nunca disse, que o 25 de Abril tenha sido o fim de Portugal. Foi todavia o fim do Portugal pluricontinental pelo qual muitos lutaram, com o sacrifício da vida, como lhes competia.

Aí discordamos ainda mais radicalmente e não tenho dúvida que o fantasma do Spínola o apoiará sem hesitação. A ideia de que nos compete colocar a vida ao serviço do estado conduz à escravatura mais abjecta que imaginar se pode: aquela que passa por virtuosa e ainda por cima pretende dar lições aos homens livres. Mas essa seria outra discussão muito diferente...

Passou-se a um melhor estádio: o estádio do Portugal Europeu, mas ignorado pela Europa, vivendo à custa das esmolas dos fundos europeus e com os piores índices de educação, desenvolvimento e competitividade na Europa ( antes do 25 de Abril, Portugal também estava na Europa (EFTA) e crescia a mais de 5%).

É pior viver das «esmolas» colectivamente apropriadas e distribuídas entre os contribuintes que da apropriação forçada da riqueza alheia?

Portugal vive, sem dúvida, e continuará a viver em coma permanente, como um cadáver sempre adiado. Há muito países que assim vegetam há décadas. Trata-se, passo o pleonasmo, de um estranho modo de vida.

Se essa condição que decreve alastra de maneira tão chocante, pode ser talvez uma boa notícia. Pode ser que os tais países se tenham cansado da vibrante vida que levaram durante o século passado e tenham resolvido dar mais oportunidades de paz e sossego aos que os habitam.

2:08 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Respondendo à pregunta: Preso nessa madrugada e "instalado" no Reduto Norte do Forte de Caxias, na cela 5.

2:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Recomendava eu próprio ao prezado cor. 25/11: «Não leia o que os sobreviventes escrevem agora nas suas análises rectroactivas. Leia o que diziam então. Não conheço melhor teste para iluminar o abismo que separou o gen. Spínola dos ingénuos, arrivistas e imbecis que dominaram este país».

Completando este conselho que lhe dou -- porque lá por Angola talvez não dispusesse do melhor posto de observação para seguir o psicodrama que se desenrolava por cá entre o 25 de Abril e o 28 de Setembro -- sugiro-lhe que pesquise os comunicados e as tomadas de posição do seu amigo do 25 de Novembro, o então director de programas e presidente do conselho de administração da RTP António Ramalho Eanes, que, de resto, manteve o seu cargo posteriormente ao 28 de Setembro como justíssima paga pelos seus preciosos serviços (na óptica do MFA, como está bem de ver).

Tenha em conta que a actuação da RTP foi provavelmente o factor mais decisivo na sabotagem sistemática dos esforços de Spínola no sentido de conseguir alguma base de apoio popular e/ou militar que lhe permitisse uma posição de força contra o dito MFA, e isto chegando ao ponto de censurar os discursos do próprio Presidente da República. Será preciso dizer mais alguma coisa?

Se controlar o PDREC (Psicodrama Revolucionário Em Curso) era tão fácil como julga, de que estava à espera o senhor director de programas e presidente do conselho de administração? E se não era ele que mandava, por que razão se prestava a uma tal comédia e continuou -- solícito, atento e venerador do seu MFA «guardião da democracia» -- no poleiro, até à sua própria demissão forçada (por tabela e bem injusta) depois do 11 de Março?...

2:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Disse eu, lá mais acima: "Conviria talvez perceber que o chamado «verão quente» de 74 não caíu do céu, nem, que se saiba, entusiasmou grandemente os antunistas-eanistas."

Leia-se, é claro, «de 75».

9:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Para rematar a discussão, da minha parte, já que vou amanhã para fora durante doze dias, importa tecer meia dúzia de comentários finais em cinco áreas em aberto, ligadas à questão principal: o papel do General Spínola

Vejamos, pois:

- Apoios ao Spínola até ao 28 de Setembro
- Guerra Civil
- 25 de Novembro
- Responsabilidade histórica do General Spínola no 25 de Abril e na ulterior radicalização do processo
- O que teria sido um Portugal federal?


I. Apoios de Spínola até ao 28 de Setembro

1.Mário

“ SUBLINHO MAIS UMA VEZ O QUE ME PARECE O PRINCIPAL ERRO DA SUA ANÁLISE: SPÍNOLA VIU A SUA POPULARIDADE INICIAL RAPIDAMENTE REDUZIDA ENTRE ABRIL E SETEMBRO DE 74. O REGRESSO DOS EXILADOS POLÍTICOS COMO CUNHAL E SOARES E A GUERRA SEM QUARTEL QUE OS RESPECTIVOS PARTIDOS LHE MOVIAM TINHAM-SE ENCARREGADO DISSO. ESTOU CONVENCIDO QUE, EM SETEMBRO DE 74, OS ÚNICOS APOIOS DE QUE DISPUNHA ERAM OS DE UMA PEQUENA PARTE, MUITO MINORITÁRIA, DA POPULAÇÃO, SUFICIENTEMENTE EDUCADA DO PONTO DE VISTA POLÍTICO PARA NÃO SE DEIXAR EMBALAR NO CANTO DAS SEREIAS ESQUERDISTAS, MAIS UM PEQUENO NÚCLEO DE OFICIAIS QUE LHE ERAM PESSOALMENTE DEDICADOS DENTRO DAS FORÇAS ARMADAS, MAS QUE JÁ NÃO DETINHAM CONTROLO ALGUM SOBRE O MFA (…)”.

2. Comentário

Não corresponde minimamente aos factos a sua ideia de popularidade reduzida de Spínola desde a crise Palma Carlos ao 28 de Setembro.

(i) Em primeiro lugar, declarações do Vasco Lourenço à Rádio Renascença há dois anos atrás ( dia 25 de Abril) sublinharam que o Plano Palma Carlos era antecipar as eleições Presidenciais para legitimar o Spínola numa altura em que este era apoteoticamente recebido em vários pontos do País. Para o Coronel Vasco Lourenço tratava-se um “golpe sujo” pois era óbvio que sendo a primeira figura do Estado pós-revolucionário seria esmagadoramente plebiscitado e extinguiria, a seguir, a coordenadora do MFA.

(ii) Importa revisitar outras declarações de figuras da Revolução no sentido da necessidade de se chumbar o Plano Palma Carlos, para antecipar eleições presidenciais e um plebiscito constituinte já que tal constituía uma ameaça ao MFA.

Veja, p. exª entrevista de

-Vasco Gonçalves “Spínola começou a manobrar. Ora o que ele queria era ser plebiscitado, de modo a centralizar o poder nele próprio e em Palma Carlos. Os objectivos eram claros: plebiscito pessoal, adiamento por dois ou três anos das eleições para a Assembleia Constituinte, não perder as colónias. http://www.pcp.pt/publica/militant/239/p29.html

- Freitas do Amaral ( então conselheiro de Estado) em “O Antigo regime e a revolução ( p. 211): “(…) primeiro deveriam realizar-se eleições presidenciais ( a realizar em Outubro) aprovando-se em simultâneo uma Constituição provisória; seriam suprimidos a JSN e o Conselho de Chefes de estado maior das forças armadas)

Ora, se Spínola não tivesse popularidade, os militares da Coordenadora do MFA presentes no Conselho de Estado não teriam rejeitado o Plano Palma Carlos. Deixava-o ir para a frente, candidatavam alguém de esquerda ( Soares, Rui Luís Gomes, Miller Guerra) e derrotavam Spínola. Ora, como não o fizeram e davam por assente um perigo plebiscitário é porque tinham medo da sua popularidade.

(iii) Não é verdade que o apoio popular e partidário do General Spínola se confinasse a um pequeno sector educado e de direita.

Para além dos partidos de Direita ( Liberal e do Progresso) que conseguiram encher, de acordo com os relatos da época no “Tribuna Popular”, o campo pequeno com cerca de 10000 a 15000 pessoas, não esqueça que o PPD de Sá Carneiro estava com Spínola. Não apoiou a Manif da Maioria Silenciosa porque os americanos advertiram Sá Carneiro da perspectiva de uma contra-reacção comunista ( e daí o triste espectáculo oportunista de umas bandeiras do PSD em duas barricadas, sendo certo que era malta da linha Sá Borges). Isso não significava que Sá Carneiro e o eleitorado do PSD, bem como sectores rurais ligados ao clero do norte não apoiassem Spínola.

Recorde que foi Sá Carneiro o cérebro do Plano Palma Carlos e o autor material do documento.

Para que não haja dúvidas, leia o que disse o insuspeito Capitão Pinto Soares:

“A sua intervenção na crise que ditou o fim do I Governo Provisório, a que erradamente se associou prioritariamente o nome do Primeiro Ministro, é exemplar a esse respeito: de facto, o general Spínola e o dr. Sá Carneiro elaboraram um plano que feria gravemente o Programa do MFA pondo em causa dois dos seus princípios basilares: a realização das eleições para a Assembleia Constituinte e, consequentemente, para o Presidente da República no prazo marcado, e o processo de descolonização. Este último era, de facto, o grande alvo da manobra. Aí, a Comissão Coordenadora respondeu: nem pensar, há um Programa para cumprir. Spínola e Sá Carneiro é que conduziram o jogo. Palma Carlos limitou-se a aceitá-lo. Perdeu e retirou-se. http://www.pcp.pt/publica/militant/241/p27.html

(iV) Quanto ao isolamento militar, era óbvio que Spínola não controlava ao MFA. Mas isso não obstava a que as forças dos Comandos, dos Paraquedistas ( poucos na Metrópole na altura, após a ida do Almendra para Angola), da GNR, da PSP e de Cavalaria de Santarém tivessem capacidade para esventrar as barricadas e tomar as rádio e o Alto do Duque. Sobretudo com o Otelo e o Vasco Gonçalves virtualmente presos em Belém.

Os confrontos seriam sobretudo com civis, as forças da guarnição do Alto do Duque, EPAM, PM e o RAL 1. Poucas mais do que no 25 de Novembro. Se o Spínola controlasse rapidamente a situação, as restantes unidades do país acatavam passivamente ordens. E os comandantes militares territoriais eram-lhe leais.

Esclareço uma dúvida que o meu amigo colocou sobre o meu distanciamento dos factos por estar em Angola. Bom, estava em Angola, mas tinha cá camaradas de armas e familiares que me informavam. Recebia imprensa, ouvia rádio e via imagens da TV em diferido. Falava com camaradas vindos de Lisboa. E quando regressei poucos dias antes do 11 e Março, falei com muitos camaradas de armas de todos os quadrantes. Com o devido respeito estaria melhor informado do que o senhor.


II. Guerra Civil

1. Mário - “PELOS VISTOS, A HISTÓRIA EXAMINADA COM HINDSIGHT, NÃO IMPEDE, APESAR DISSO, ALGUMAS CONTRADIÇÕES: SE BEM O ENTENDO, FOI UMA PENA QUE NÃO SE TIVESSE, NO 28 DE SETEMBRO, QUANDO ISSO SIGNIFICARIA UMA CONFRONTAÇÃO DIRECTA COM OS APOIANTES DO PS E UMA BOA PARTE DOS DO PPD, AVANÇADO PARA O «DERRAME DE SANGUE, TALVEZ DE MUITA GENTE, [JÁ QUE] ESTE PAÍS É, PARA MAL E PARA BEM, OBRA DE SOLDADOS», MAS O 11 DE MARÇO JÁ FOI TERRÍVEL PORQUE PODERIA TER REDUNDADO «NUMA VERDADEIRA GUERRA CIVIL (…) “.

2. Comentário.

Não há qualquer contradição. O meu prezado amigo é que não soube ou não quis ler o que efectivamente escrevi.

Há três questões que cumpre elucidar e que devem ser distinguidas:

- Se a conduta do General Spínola potenciava ou não a guerra civil;

- se uma reacção spinolista no 28 de Setembro teria gerado uma guerra civil;

- Se eu, pessoalmente, acho que a eclosão de uma guerra civil seria ou não uma tragédia.

Observemo-las em separado.

(i) Que a conduta desastrada do General Spínola, depois do 28 de Setembro, potenciava a guerra civil era uma crua evidência.

O golpe do 11 de Março, com o País muito mais ao rubro que no 28 de Setembro é disso um exemplo. Tive um amigo e camarada comando na Amadora que testemunhou nesse dias como o Coronel Neves e o Almeida Bruno ficaram indignados e apavorados com aquela precipitação do General (que implorava de Tancos que o safassem e que não os avisou de nada). Recusaram-se a falar com ele pelo telefone. Vi também, quando andei pelas ruas, um PCP hiper-preparado e armado a rodear o quartel. Não sei onde é que o meu amigo estava e o que fazia, mas garanto-lhe como militar no terreno que se o Ralis tivesse ido pelos ares com o ataque aéreo e os comandos e paras tivessem tomado edifícios do Governo era a guerra civil.

Por outro lado, mais tarde, o MDLP não se limitava a assaltar sedes dos partidos de esquerda. Punha bombas. O MDLP e o Maria da Fonte queriam a guerra civil (que achavam inevitável) embora achassem que ela seria curta pois entendiam que as tropas do norte adeririam ao lado deles. Spínola e Alpoim Calvão apostavam num conflito civil com a mobilização das populações do Norte e Centro e achava que o iam ganhar.

(ii) Mantenho que no 28 de Setembro uma decapitação do Movimento e a eliminação das barricadas evitaria a Guerra Civil E em Angola, havia uma importante força em Luanda que poderia prender o Pezarat e os tipos da Coordenadora do MFA e mandar forças para a metrópole se necessário. Quem usasse efectivamente e em primeiro lugar a força e mostrasse que não estava a brincar, faria os outros gajos mijarem-se pelas pernas abaixo. Em Portugal foi sempre assim. Mas é óbvio que correria sangue, muito mais do que no 25 de Novembro e sobretudo em Lisboa.

(iii) Na minha modestíssima opinião, reitero, que a haver guerra civil, esta não seria, necessariamente uma má coisa se pudesse ser travada com vantagem no 28 de Setembro, antes de o País se ter radicalizado como se radicalizou no 11 de Março. Pessoalmente, acho que o País nunca esteve tão perto de cair nas mãos dos comunistas como no 11 de Março…graças a mais um dos golpes falhados do General Spínola.

III. 25 de Novembro

1. Mário:

- “BOM, O MEU «YELTSIN» NÃO ERA O EANES, ERA O NEVES”.

- A AMBIÊNCIA DO 28 DE SETEMBRO É A DOS DIRIGENTES DO PS E, EM LARGA MEDIDA, DO PPD, A BERRAREM AOS MICROFONES DAS ESTAÇÕES DE RÁDIO PARA O POVO SAIR À RUA E BARRAR O CAMINHO Á «REACÇÃO SPINOLISTA» CONSTITUÍDA POR MEIA DÚZIA DE «SILENCIOSOS» CONVOCADOS POR UM CARTAZ DESASTROSO QUE PARECIA MOSTRAR UM MASCARADO. A DO 25 DE NOVEMBRO É A DAS MOCAS DE RIO MAIOR AO LADO DOS PUNHOS EM RISTE SOARISTAS E O PCP NA DEFENSIVA POR TODA A PARTE. NÃO HÁ COMPARAÇÃO POSSÍVEL.

- SUGIRO-LHE QUE PESQUISE OS COMUNICADOS E AS TOMADAS DE POSIÇÃO DO SEU AMIGO DO 25 DE NOVEMBRO, O ENTÃO DIRECTOR DE PROGRAMAS E PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA RTP ANTÓNIO RAMALHO EANES, QUE, DE RESTO, MANTEVE O SEU CARGO POSTERIORMENTE AO 28 DE SETEMBRO COMO JUSTÍSSIMA PAGA PELOS SEUS PRECIOSOS SERVIÇOS (NA ÓPTICA DO MFA, COMO ESTÁ BEM DE VER).

2. Comentário

(i) Sejamos rigorosos nos paralelos históricos. O então tenente-coronel Eanes, como comandante operacional corresponde ao hoje obscuro General Gratchev ( o ministro da defesa que concebeu a eliminação do golpe comunista). O Major Jaime Neves corresponderá ao General Alexander Lebed, o homem dos tanques que atacaram o Parlamento e protegeram a Câmara de Moscovo. Quanto a Yeltsin ouve em Portugal vários, a começar no Soares e acabar nos nove, com a diferença de nenhum deles ter tido tomates para subir para um tanque e nem sequer para tirar a foto. Quando não há rigor com pequenos detalhes ilustrativos, o mesmo rigor faltará no resto.

(ii) Ninguém nega que no 25 de Novembro havia mais oposição ao PC e extrema-esquerda por parte da população, do que no 28 de Setembro. Os socialistas ( oportunistas que eram), só vieram berrar liberdade quando o PC/MFA fechou o República e impôs a unicidade sindical. E daí?

Isto significava, apenas, que no 28 de Setembro não se teria o PS do lado do Spínola, o que não se perdia nada. Só que, uma coisa era não ter o PS a apoiar o Presidente e outra era tê-lo a combater ao lado do PC. Nem um socialista, se tivesse havido sarrafusca viria para a rua morrer pelo MFA e Soares limitar-se-ia a lamentar a efusão de sangue, mas acabaria por acomodar-se ao vencedor. O Ps tinha, na altura uma organização incipiente e não era claro que contasse com mais apoiantes que o PPD. O crescimento eleitoral do PS deu-se, essencialmente, no contexto do 11 de Março, com a campanha do regime militar nos média em favor do voto em “partidos socialistas”, a intimidação dos partidos do Centro que temiam a ilegalização( o próprio PPD foi atacado num comício de Setúbal) e a longa doença do Sá Carneiro em Londres, com os Emídios Guerreiros e quejandos a liderar o PPD. Parte da burguesia votou útil no PS, por medo.

(iii) Há aqui um equívoco ou um reducionismo abusivo. Nunca fui eanista, nem sequer amigo do Eanes. Respeito-o militarmente mas conheço de ginjeira as suas vacilações, oportunismos e limitações.

Tal como uma andorinha não faz a Primavera, um militar do 25 de Novembro não tem de ser Eanista. Veja que muitos dos que operacionalmente fizeram o 25 de Novembro não seguiram o Eanes depois da sua ascensão a Chefe de Estado-Maior e a Presidente. Foi o caso de Soares Carneiro, que o enfrentou eleitoralmente e do Mário Firmino Miguel que teve com ele fortes desavenças. Atente, ainda, no exemplo do Jaime Neves que foi forçado a deixar os comandos durante o eanismo. Comigo, mais modestamente, foi o mesmo. Juntámo-nos no 25 de Novembro ( as tropas sob o meu comando vieram de fora de Lisboa, mas o QG era o Regimento da Amadora) para por termo a um golpe marxista e dar um mínimo de ordem ao país numa linha democrática. Ponto final. A partir daí os caminhos separaram-se. Eu, pessoalmente, passei à reserva em 1979 depois de exercer funções de comando num regimento, porque já mais nada havia a fazer na tropa e a tropa já mais nada podia fazer por Portugal ( a não ser voltar ás casernas). Fui tomar conta das empresas da família onde ainda estou, graças a Deus e escapei à miséria humilhante dos dias de hoje, em que não há pitrolino para fazer voar aviões e navegar vasos de guerra, nem dinheiro para pagar pensões decentes, nem consideração política e popular pelos militares, que são tratados como uma PSP melhorada. Umas vezes dá-me pena. Outras não ! No fundo, muitos têm o que merecem à conta da revolução pífia que fizeram e que estragou o País.

IV. Responsabilidade histórica do General Spínola no 25 de Abril e na ulterior radicalização do processo


a) MÁRIO
“- CRUZES, CANHOTO!” (…). MUITO COMOVENTE ESSA SUA IMAGEM DA «AUTODETERMINAÇÃO CONTROLADA» DIRIGIDA POR QUEM NÃO QUERIA AUTODETERMINAÇÃO NENHUMA. OS DESEJOS PODEM SER OS MELHORES DO MUNDO, E AS LENDAS A POSTERIORI TAMBÉM SÃO POR VEZES MUITO INTERESSANTES, MAS O QUE EU GOSTAVA DE TER VISTO ERA ESSA GENTE TODA A DEFENDER A AUTODETERMINAÇÃO EM PÚBLICO QUANDO ESSA DEFESA ERA DIFÍCIL ( plano Kaulza-Deslandes)

- PORQUE TENTAR FAZER O POSSÍVEL EM CADA MOMENTO É MELHOR QUE NÃO FAZER NADA SEMPRE QUE NÃO É POSSÍVEL FAZER TUDO.


b) Comentário

(i) A sua análise do movimento Kaulza- Deslandes- Silvério - Luz Cunha é muito superficial e revela desconhecimento das personagens. O General Deslandes foi demitido de Governador de Angola precisamente por causa de defender mais autonomia ( nomeadamente quando quis criar uma universidade em Luanda) sendo altamente popular junto de todos os habitantes do território. O General Silvério Marques, que serviu sob as ordens de Kaúlza, defendia uma federação e por isso foi enviado pelo Spínola para Governador de Angola depois da revolução, sendo depois saneado pelo MFA. O General Luz Cunha era um combatente e não tinha opinião sobre o assunto. O General Kaúlza era mais integracionista e queria continuar a guerra, mas era favorável a uma autonomia progressiva. Todavia, no plano interno, defendia um retorno da Constituição a um Presidente eleito por sufrágio universal e chegou a ser sondado pelo Balsemão para ser candidato à presidência pela ala liberal em 1972.

Os seus terrores nocturnos kaulzistas e os seus “cruzes canhotos” apenas demonstram que não conhecia as pessoas e que caiu no conto da lenda negra kaulzista.

Não acha que teria sido melhor o general Spínola ter-se juntado a este grupo e forçar a substituição de Caetano e depois do Almirante Thomaz?

Pelos vistos não! O meu amigo achou preferível que ele se tenha aliado ao Costa Gomes, Vasco Gonçalves, Otelo e toda aquela oficialidade comunista e de extrema-esquerda. Bela aliança ! Foi lindo o resultado!

(ii) Para não fazer uma coisa bem feita, por vezes o melhor é estar quieto, como se diz na minha terra. Cada cavadela do General Spínola, sua minhoca. Cada acto que praticava, era tão mal calculado dava sempre para o torto e redundava em desastre. Veja bem:

1º Lançou o livro que serviu de bandeira ao movimento dos capitães na sua ala esquerda, branqueando um golpe que encontraria seguramente resistência se não tivesse a legitimação spinolista e tiveswe no início usado aquela linguagem radical do documento Melo Antunes.

Veja o que dizem os historiadores de esquerda: “Se durante algum tempo (sobretudo na fase conspirativa), o apoio de Spínola foi decisivo, nomeadamente através da publicação do seu livro Portugal e o Futuro, que funcionou para os capitães como uma bandeira, mesmo que, em muitos casos, não se revissem nas teses federalistas do velho general”

Maria Manuela cruzeiro http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=th2


2º. O General Spínola não controlou o Monge, o Bruno, o Casanova e os outros precipitados que lançaram o golpe das Caldas e foram para a prisão, deixando de ter influência militar no golpe do dia 25.

Veja como rejubilam alguns dos tipos da esquerda militar com os efeitos do Golpe das Caldas:

“No 16 de Março, o Movimento só perde uma unidade, a das Caldas da Rainha. Mas o grupo spinolista foi praticamente neutralizado, ficam todos presos. E o Movimento obteve ainda outra vantagem (…)”

Vasco Lourenço: “http://kantoximpi.blogspot.com/2007/05/otelo-vtor-alves-e-vasco-loureno-os-trs.html

3º. Depois do Golpe é Spínola a nomear, por sua iniciativa, o Otelo para o COPCON .

O.S.C. - Primeiro, o Spínola ficou com um certo alívio, porque a responsabilidade era repartida. Mas a curto prazo, tudo se agudizou ainda mais. Isto passa-se em meado de Julho e, na mesma altura os oficiais do MFA espalhados por todo o país impõem a minha presença para comandar o Copcon, o Comando Operacional do Continente que é um órgão criado para defesa da revolução. Então, Spínola vem ao meu gabinete e, apenas com a presença do major Monge, começa por me dizer que vai promover-me general de quatro estrelas para eu assumir a chefia do Estado-Maior General das Forças Armadas. Havia aqui uma jogada notória do Spínola. Ele vê que cometeu um erro grave ao querer para ele a Presidência, ficando as Forças Armadas sob o comando do Costa Gomes. E pretende afastar o Costa Gomes com o argumento de que os militares do MFA só me aceitam a mim corno comandante. Eu sou um jovem que ele conheceu na Guiné, que está convencido de poder dominar, um jovem de trinta e sete anos que fica ali debaixo da mão dele. E eu digo-lhe: «Ó meu general, é evidente que não posso aceitar isso. Por várias razões: primeiro, porque não tenho a perspectiva global do que são as Forças Armadas, em termos técnicos, para poder comandá-las. Em segundo, e mais importante, é que há um compromisso entre nós, MFA, ao sairmos vitoriosos desta contenda, de não aceitarmos quaisquer privilégios, honrarias, distinções, que venham de cima para baixo. Portanto, não posso aceitar a promoção que o senhor me quer dar.» Mas ele insiste com uma data de argumentos: a hierarquia estava toda de pernas para o ar, tinha que se tentar repor a hierarquia nas Forças Armadas, e tal. Ao fim de muita discussão, o Monge propõe que eu fique sob o comando do general Costa Gomes, como comandante-adjunto do Copcon, assumindo o general Costa Gomes o comando do Copcon, que é mais uma divisão do EMGFA. E que eu seja graduado em brigadeiro para comandar o Copcon e a Região Militar de Lisboa. 0 Spínola aceita esta proposta e eu também concordo com ela.

Cfr. entrevista de Otelo à ASL, na ref anterior e , ainda, no site http://www.espoliadosultramar.com/ip21.html

Importante ver ainda nessa entrevista que foi iniciativa do nosso general Spínola mandar o Otelo para Lusaka para vigiar o Soares. E que redundou no Otelo ir mais longe do que o Soares e pretender entregar o poder à Frelimo de imediato.

4º. Perde o “Golpe Palma Carlos” e é forçado ao discurso de 27 de Julho, acabando o sonho federal. Perde aí a descolonização por via democrática que era a essência do seu livro.

5º. Depois do apelo à Maioria Silenciosa perde o 28 de Setembro, sai de Presidente e perde a descolonização de Angola em termos adequados, tal como combinara com Nixon no Sal.

6º Com o 11 de Março, perde a dignidade e faz mergulhar o País no Gonçalvismo.

7º. No exílio é endrominado como um miúdo pelo Gunther Walraff com o conto do vigário da venda de armas e é corrido de dois Países, em desgraça,

8º: Aposta na guerra civil através do MDLP mas acaba por ser superado pelo 25 de Novembro, regressando sem glória e sob prisão.

Curiosa é a forma como um ex-comunista inimigo de Spínola liga os golpes manhosos e desastrados do General a novos avanços do PCP e dos radicais do MFA. Nesse ponto, apenas factualmente, o Vital Moreira tem carradas de razão.
Leia-o:

“Importa corrigir e refutar algumas das suas observações.
Começo por asseverar que não tive nenhuma intenção malévola na minha referência a LA como representante da "nossa direita ideológica". É assim que o vejo, mas se ele faz questão disso, eu não insisto. Importam-me os factos e os argumentos e não as pessoas ou as suas filiações ideológicas.
Continuo a não perceber como é que se pode dizer, como diz LA, que não se sabia muito bem "o que pretendia Spínola" e simultaneamente prescindir de mencionar e analisar um episódio relevantíssimo, como foi o que ficou conhecido como "golpe Palma Carlos", de onde resulta claramente o que ele quis efectivamente.
Não comento o desvelo com que LA ensaia compreender o "ponto de vista" de Spínola. A única coisa que contestei foi a omissão de uma das suas atitudes, que revela o seu propósito de desvio do processo de transição democrática em favor de um projecto de poder pessoal. Não escrevi, nem penso, que Spínola queria reinstalar o "fascismo". O que quis dizer, disse-o. Falei, sim, em "autoritarismo plebiscitário". Não fica bem a LA imputar-me noções que eu não utilizei.
Contrariamente ao que, por sua vez, diz Rui A., Spínola não foi afastado. Manteve-se como Presidente mesmo depois de fracassado o projecto Palma Carlos (que levou à demissão deste, que ele aceitou), assinou pouco depois a lei constitucional que abriu caminho à descolonização (que ele rejeitava), convocou a manifestação da "maioria silenciosa" em Setembro e demitiu-se na sequência do seu fracasso; mais tarde, desencadeou e perdeu o golpe armado do 11 de Março de 1975. Todas as suas derrotas foram causadas por movimentações suas, tendo ainda por cima proporcionado à extrema-esquerda e ao PCP ocasiões de ouro para conquistarem posições. Verdadeiros tiros pela culatra. Spínola foi o principal fautor do falhanço do seu projecto de contenção da revolução V. Moreira http://causa-nossa.blogspot.com/2005/07/polmica-sobre-um-general-na-revoluo.html


Quer mais? Julgo que não é preciso dizer mais nada.

V. Modelos alternativos de País

1- Mário

- O QUE SERIA O PORTUGAL DO FUTURO NA SUA VISÃO? UMA NAÇÃO DE BACONGOS E FULAS À MISTURA COM RIBATEJANOS E MINHOTOS, TUDO ACAMPADO, ATRAVÉS DE REPRESENTANTES DEMOCRATICAMENTE ELEITOS, EM LISBOA (OU MAIS PROVAVELMENTE LUANDA) A DEFINIR POLÍTICAS PARA UMA POPULAÇÃO INTEGRADA DE MAIORIA NEGRA COM DIREITOS POLÍTICOS UNIVERSAIS E MOVIMENTAÇÃO LIVRE DENTRO DAS FRONTEIRAS?

- E PARA QUANDO ESSA FEDERAÇÃO DE «PSEUDO-BRASIS» MAIS OU MENOS INSTANTÂNEOS À MODA DOS PUDINS? NÃO SAIRIA MAIS PARECIDA COM UMA FEDERAÇÃO DE «RODÉSIAS» A CAMINHO DE «ZIMBABUÉS», COM TODOS OS PROBLEMAS QUE DAÍ DECORRERIAM PARA A MÃE-PÁTRIA ENTALADA NESSA ENGRENAGEM DE DECOMPOSIÇÃO COLONIAL? SERIA O SEU ESQUEMA SUFICIENTEMENTE GENEROSO PARA PERMITIR A SECESSÃO DO VELHO CONDADO & ILHAS DESSA SALADA POLÍTICA POTENCIALMENTE DESASTROSA?

- NÃO TEM NADA A VER COM «NÃO GOSTAR» DE PRETOS (OU BRANCOS OU AMARELOS OU O QUE SEJAM). CLARO QUE NADA TENHO CONTRA OS PRETOS (OU CONTRA OS BRANCOS). MAS TALVEZ TENHA A VER COM O FACTO DE EU SER BRANCO E EUROPEU, NÃO ACHA?

- VAMOS LÁ VER SE ENTENDO O QUE ME ESTÁ A DIZER: QUE O SUÍCIDIO EXPEDITO E VOLUNTÁRIO AO SOM DA PORTUGUESA E DOS TAM-TANS TERIA OFERECIDO MAIS POSSIBILIDADES DE SOBREVIVÊNCIA DO QUE A DOENÇA PROLONGADA QUE SE PODE COMBATER E SOBRE A QUAL SE DETÉM ALGUM GRAU DE CONTROLO? NÃO, FRANCAMENTE ACHO QUE NÃO ENTENDO...

2- Comentário

(i) O País era já uma mistura de ribatejanos, minhotos e fulas e vivia há séculos bem com isso. Quanto aos direitos políticos dos negros no contexto português, não vejo qualquer mal nisso. Elegeriam os seus governos próprios numa federação ou numa região autónoma. E elegeriam órgãos federais em Lisboa e haveria alguns ministros negros. È assim tão chocante para a sua sensibilidade branca? Se o é, está no País errado. Este é, historicamente, para bem ou para mal, o País que fez o mulato. E o Brasil está aí para o provar como exemplo de sucesso.

(ii) Veja. Ninguém tem ilusões de que, se se fizesse um referendo este seria apenas meio livre. E que os movimentos terroristas nunca seriam legalizados como partidos. E que a guerra continuaria. E que uma abertura democrática, com partidos limitados seria sempre restrita durante mais de década e meia. E ainda que, mesmo com mais negros nos poderes autónomos seriam os brancos a tocar a flauta. Tudo porém preferível à destruição desses territórios, aos milhares de mortos em guerras civis e às ditaduras marxistas que aí vigoraram por décadas.

A vantagem da autodeterminação, com guerra, era a de que um referendo serviria para legitimar a independência da Guiné e para concentrar o esforço de guerra nos outros territórios. Guerra que estava ganha em Angola e que poderia ser invertida a nosso favor em Moçambique com a albufeira de Cabora Bassa a vedar a penetração em Tete.

A sociedade multiracial Angolana era muito mais próxima de um proto-Brasil do que de qualquer Rodésia. O meu amigo se calhar não conhece, mas teria valido a pena ter conhecido.

Quanto tempo duraria a guerra? O tempo que tivesse que durar. A participação dos negros na política desmoralizaria a guerrilha e os efectivos militares deveriam, crescentemente, ser de recrutamento local. Se o conflito fosse bem conduzido até 1981 beneficiar-se-ia da lógica da guerra-fria e do apoio de Reagan.

(iii) Finalmente, acha que controla a imigração árabe e negra? Veja a França e a Inglaterra. Deve viver noutro mundo. Em breve terá algo parecido com a queda do Império Romano às mãos dos bárbaros a quem fora dada a cidadania. Seria preferível manter um Império português multiracial e com identidade própria. Mas isso é para quem gosta do seu País. Para niilistas, acredito que tanto se lhes dê.

Cumprimentos e até sempre.

12:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Não corresponde minimamente aos factos a sua ideia de popularidade reduzida de Spínola desde a crise Palma Carlos ao 28 de Setembro.

Não me referi em concreto à crise Palma Carlos que ocorreu em Julho. O que disse é que, em minha opinião, a popularidade inicial de Spínola tinha sido rapidamente reduzida entre o 25 de Abril e o 28 de Setembro, graças à guerra sem quartel que a «frente» PCP-PS-PPD lhe movia e à falta de cultura e percepção política por parte da população em geral. Como não temos sondagens do que teria sido de facto a opinião pública de Abril a Setembro, não adianta muito insistirmos nas nossas estimativas pessoais.

É evidente que o vértice mais activo dessa «frente» não era o PPD, mas as posições públicas do próprio Sá Carneiro eram sempre no sentido de garantir a colagem aos partidos à sua esquerda. De resto, os artigos e editoriais do «Povo Livre», orgão do partido, falarão por si a quem os quiser procurar. Esse esquerdismo colectivo à outrance pode parecer hoje estranho, mas repito o meu conselho: o que se deve fazer para compreender o espírito da época e as dificuldades inesperadas com que Spínola se defrontou, é procurar o que os protagonistas diziam e escreviam à época dos acontecimentos, e não as suas posteriores análises retrospectivas, e ainda menos as suas pretensas manobras secretas de bastidores cheias de sabedoria política que hoje são reivindicadas, quando na realidade o que passava para um público ainda politicamente indefeso era a denúncia ininterrupta das «manobras da reacção» pelo «trio democrático»...

Não quero levantar falsos testemunhos, e não tenho à mão referências precisas que lhe possa fornecer, mas julgo mesmo lembrar-me de um comício na sequência do 28 de Setembro e da «vitória sobre a reacção» que reuniu Cunhal, Soares e Carneiro, de mãos dadas, no antigo teatro da Feira Popular. E, é claro, no dia seguinte à jornada das barricadas, as bandeiras do PPD apareceram no Rossio em razoável profusão, ao lado das do PS e PCP. Deu-se até o interessante espectáculo de algumas bandeirolas do CDS que também queriam o seu lugar ao sol por lá terem aparecido e terem sido escorraçadas...

Em resumo: a única guerra em que o PPD -- e falo do partido visível e não de obscuras correntes minoritárias ou disfarçadas-- parecia estar apostado era a que disputava ao PS a vizinhança imediata do PCP, à sua direita. Se Sá Carneiro procedia maquiavelicamente, aparecendo em público na sua persona frentista e em privado numa outra de (hábil?!) manobrador de bastidores, não posso dizer, porque não sou bruxo. Só posso falar do que vi, mas ainda que tenha sido como afirma, não me ajuda nada a perceber por que razão se atribui a Spínola uma desmedida ingenuidade e aos seus «apoiantes» deste calibre uma rara intuição e sentido de oportunidade político...

Em relação aos comentários que cita dos MFAs Lourenço, Gonçalves e Pinto Soares, sobre a tentativa de antecipar eleições presidenciais para legitimar Spínola, é claro que isso não é novidade nenhuma e em nada contraria o que eu disse. A saber, que os esforços de Spínola foram constantemente sabotados por muitos dos que hoje o acusam de ingenuidade, sem aparentemente se incomodarem com os seus próprios papeis como compagnons de route do PCP e MFA dessa época (não será obviamente o seu caso pessoal, mas é o caso de muitos dos dirigentes partidários civis e militares responsáveis pelo 25 de Novembro).

No contexto Palma Carlos, teria sido praticamente impossível a Spínola inverter a ordem das eleições, (presidenciais antes de constituintes), porque teria de ter ignorado o parecer negativo do Conselho de Estado e enfrentado os partidos e suas acusações de «golpe de estado», acusações essas que aliás se concretizaram mesmo sem o «golpe», e que provavelmente teriam conduzido no terreno a uma confrontação entre alguns militares que o teriam apoiado e os restantes que teriam sido instrumentalizados pelo MFA e pela mobilização civil conduzida pelos dirigentes partidários.

não esqueça que o PPD de Sá Carneiro estava com Spínola.

Se estava, disfarçou muito bem, tanto em 27 como em 29 de Setembro...

Não apoiou a Manif da Maioria Silenciosa porque os americanos advertiram Sá Carneiro da perspectiva de uma contra-reacção comunista ( e daí o triste espectáculo oportunista de umas bandeiras do PSD em duas barricadas, sendo certo que era malta da linha Sá Borges). Isso não significava que Sá Carneiro e o eleitorado do PSD, bem como sectores rurais ligados ao clero do norte não apoiassem Spínola.

Essa dos «americanos» a prevenir o Sá Carneiro cheira a justificação daquilo que se pressente como indicativo justamente do que se procura não admitir, a saber, as constante traições a Spínola. Por que razão é que «os americanos» haviam de ser melhores videntes que, digamos, Mme. Soleil, a astróloga que estava na moda? Ou está convencido que os planos das barricadas artesanais do 28 de Setembro foram estabelecidos pelos rapazes do Andropov, lá na longínqua Moscovo, e depois interceptados pela NSA que terá transmitido o grande segredo ao Sá Carneiro?...

Já agora: a história das bandeiras não foi só nas barricadas. Foi sobretudo no Rossio, no dia seguinte, no meio dos entusiásticos gritos de «abaixo a reacção!» etc....

Um autêntico carnaval.

Recorde que foi Sá Carneiro o cérebro do Plano Palma Carlos e o autor material do documento.

Não digo o contrário. Só aponto as «ingenuidades» relativas e o impacto que tinha o alinhamento público do que então se designava por «os partidos democráticos». É também o tempo do socialista Sottomayor Cardia a prometer sem rir «uma ampla democracia desde a extrema esquerda até ao centro»...

Esclareço uma dúvida que o meu amigo colocou sobre o meu distanciamento dos factos por estar em Angola. Bom, estava em Angola, mas tinha cá camaradas de armas e familiares que me informavam. Recebia imprensa, ouvia rádio e via imagens da TV em diferido. Falava com camaradas vindos de Lisboa. E quando regressei poucos dias antes do 11 e Março, falei com muitos camaradas de armas de todos os quadrantes. Com o devido respeito estaria melhor informado do que o senhor.

Também com o devido respeito, talvez não estivesse tanto como pensa, pelo menos no que respeita à evolução do clima político, porque não podia seguir o dia a dia em cima dos acontecimentos, respirando a atmosfera que se vivia. Receber recortes, ouvir impressões em segunda mão, e ver algumas emissões de TV em diferido sobre o funcionamento de um manicómio em auto-gestão não é a mesma coisa que vê-lo de perto.

O golpe do 11 de Março, com o País muito mais ao rubro que no 28 de Setembro é disso um exemplo. Tive um amigo e camarada comando na Amadora que testemunhou nesse dias como o Coronel Neves e o Almeida Bruno ficaram indignados e apavorados com aquela precipitação do General (que implorava de Tancos que o safassem e que não os avisou de nada). Recusaram-se a falar com ele pelo telefone.

Duas notas, para não ser mal interpretado:

1) Como já dei a entender, não considero o risco de conflito civil tão grave que não fosse justificado em determinadas condições. Mas deve-se, para isso, fazer uma estimativa correcta das condições e forças em presença. Em minha opinião, o que existia em Setembro de 74 era uma situação de clara preponderância das forças úteis de que o PCP e o MFA esquerdista podiam dispor no terreno, e de fraqueza do Spínola por razões que não lhe podem ser assacadas. E em 25 de Novembro, exactamente o contrário, com o PCP na defensiva, o MFA minado pelas suas contradições internas, e um posicionamento anti-comunista dos restantes partidos, fortalecido no decorrer do ano de 75. Logo, o risco de conflito civil podia existir em ambos os casos, mas os resultados prováveis de um tal confronto é que eram muito diferentes.

2) O 11 de Março é uma situação muito diferente das outras duas. Por um lado, já existia uma clivagem acentuada entre o PS e o PCP e portanto um terreno mais favorável no plano civil. E por outro, a ascendência comunista sobre o MFA, e deste último sobre as forças armadas, parecia imparável. É óbvio que foi uma iniciativa de grande risco para pôr cobro à progressão rumo a uma ditadura comunista, muito pior organizada que as outras duas. Mas não é preciso ser muito observador para se perceber porquê. O que me parece que sempre caracterizou os movimentos dos spinolistas foi a fraqueza dos seus efectivos -- não se ofenderá se lhe disser que os melhores, os que mais arriscam (como os do 16 de Março que tanta irrisão lhe merecem), não costumam ser os mais numerosos nem os mais visíveis -- e a dificuldade de planeamento adequado resultava do seu isolamento frente à penetração do MFA nas forças armadas.

Aqui ficam algumas considerações de Alpoim Calvão sobre o 11 de Março e o MDLP, que actuou no período decisivo entre Março e Novembro, para equilibrar as suas críticas:

Entrevista com Alpoim Calvão

Por outro lado, mais tarde, o MDLP não se limitava a assaltar sedes dos partidos de esquerda. Punha bombas.

Bem, uma bomba civil bem apontada será necessariamente mais imoral do que uma bomba militar, daquelas que se lançam sobre as palhotas alheias só porque chegou uma ordem?

O MDLP e o Maria da Fonte queriam a guerra civil (que achavam inevitável) embora achassem que ela seria curta pois entendiam que as tropas do norte adeririam ao lado deles. Spínola e Alpoim Calvão apostavam num conflito civil com a mobilização das populações do Norte e Centro e achava que o iam ganhar.

Se me permite a correcção, parece-me que ganharam mesmo, porque se não fosse o verão quente de 75 a que deram a sua notória contribuição, duvido que os novembristas tivessem sentido as costas suficientemente aquecidas pelo povo português quando a sua hora de glória soou e puderam fazer vingar durante algum tempo os ideais revolucionários antunistas e lourencistas, para já nem falar nos dos outro sete...

Ninguém nega que no 25 de Novembro havia mais oposição ao PC e extrema-esquerda por parte da população, do que no 28 de Setembro. Os socialistas ( oportunistas que eram), só vieram berrar liberdade quando o PC/MFA fechou o República e impôs a unicidade sindical. E daí?

E daí... a diferença entre uma contagem de espingardas civis favorável e outra desfavorável.

Isto significava, apenas, que no 28 de Setembro não se teria o PS do lado do Spínola, o que não se perdia nada.

O PS não ficava atrás do PCP em matéria de anti-spinolismo. A sua oposição teria sido extremamente activa e violenta, como aliás se viu nas barricadas.

Só que, uma coisa era não ter o PS a apoiar o Presidente e outra era tê-lo a combater ao lado do PC.

Desculpe, mas não sei que lhe diga, excepto que só pode duvidar da verosimilhança da segunda hipótese quem não faz ideia do que se passava em Portugal em 74. Pessoalmente estou convencido que, apesar dos efectivos e da organização do PCP, é muito possível que uma maioria dos ocupantes das barricadas fosse constituída por simpatizantes do PS. Assisti, por exemplo, ao saque da sede do partido liberal em Lisboa, para onde me tinha dirigido depois de ver cancelada a manifestação de Belém, e fiquei com a impressão de que muitos dos assaltantes exibiam orgulhosamente as suas insígnias do PS. E os mais importantes promotores públicos das barricadas foram igualmente dirigentes socialistas. O papel de António Reis, actual grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, por exemplo, foi paradigmático.

Nem um socialista, se tivesse havido sarrafusca viria para a rua morrer pelo MFA e Soares limitar-se-ia a lamentar a efusão de sangue, mas acabaria por acomodar-se ao vencedor.

É a sua opinião. A minha é que esteve demasiado longe do que se passou por cá para poder avaliar a situação anómala em toda a sua extensão.

Há aqui um equívoco ou um reducionismo abusivo. Nunca fui eanista, nem sequer amigo do Eanes. Respeito-o militarmente mas conheço de ginjeira as suas vacilações, oportunismos e limitações.

Não pretendi sugerir que houvesse alguma ligação pessoal. «Amigo» era simplesmente no sentido de co-conspirador (para empregar um termo muito usado em relação a Spínola)...

Tal como uma andorinha não faz a Primavera, um militar do 25 de Novembro não tem de ser Eanista.

É verdade. Tem pelo menos mais nove passarões por onde escolher.

Não acha que teria sido melhor o general Spínola ter-se juntado a este grupo [Kaulza - Deslandes - Silvério - Luz Cunha] e forçar a substituição de Caetano e depois do Almirante Thomaz?

Pelos vistos não! O meu amigo achou preferível que ele se tenha aliado ao Costa Gomes, Vasco Gonçalves, Otelo e toda aquela oficialidade comunista e de extrema-esquerda. Bela aliança ! Foi lindo o resultado!


Então e para forçar a substituição do Tomás não teria sido necessário um golpe de estado? Não nos podemos esquecer que, apesar da influência decisiva do livro de Spínola, o 25 de Abril foi levado a cabo por um MFA que nunca teria alinhado com um golpe direitista «de bastidores».

A sua alusão a uma aliança de Spínola com Vasco Gonçalves, Otelo e quejandos é absurda. Sabe muito bem que uma tal aliança nunca existiu. O que existiu, isso sim, foi a adesão entusiástica dos políticos civis que contavam com mais apoio popular a esse MFA, e a partir daí a constatação de Spínola que não estava em posição de entrar em conflito simultâneo com o MFA e os partidos civis.

Não vou responder em pormenor ao seu catálogo de erros de Spínola nas suas relações com o MFA porque seria andar em círculos, uma vez que para si a causa primeira e quase única que autorizou todas as traições ao programa do MFA apresentado em 25 de Abril foi uma enorme ingenuidade inerente ao próprio Spínola, enquanto que para mim, a responsabilidade deve com muito maior justiça ser atribuída aos que o rodearam, impediram de agir ou trairam a cada passo, e à recusa sistemática em ouvir os seus avisos por parte dos dirigentes partidários civis de cujo apoio não podia prescindir.

Agradeço os links que indica, em especial o da interessante entrevista conjunta do trio Otelo, Vítor Alves e Vasco Lourenço, que mostra o papel decisivo dos spinolistas no planeamento anterior ao 16 de Março, e até que ponto uma previsão do comportamento futuro de indivíduos como Otelo estava ausente de todas as mentes.

Quer mais? Julgo que não é preciso dizer mais nada.

Talvez seja interessante ouvir outras opiniões. Considere por exemplo estas linhas de Rui Ramos que me parecem bastante perspicazes:

"... na próspera indústria nacional de prosa sobre o 25 de Abril. é hoje regra maldizer-se Spínola. Da direita á esquerda, dos memorialistas aos estudiosos, dos despretensiosos aos bem pensantes, toda a gente parece disposta a rir-se boçalmente das suas opiniões, e a atribuir à sua «inépcia política» as piores reviravoltas da «revolução». É curioso, a este respeito, comparar o caso de Spínola com o do general Costa Gomes, seu sucessor na Presidência da República e recentemente beatificado como o homem que salvou Portugal da guerra civil. Tudo aquilo que é objecto de censura no caso de Spínola, é motivo de elogio no caso de Costa Gomes: as hesitações são admiradas como prova de habilidade, e a banalidade das opiniões como um sinal de sabedoria.

(...)

"Aparentemente, quase tudo correu mal a Spínola. Teve de aceder ao poder à boleia de uma revolução esquerdista, porque a hierarquia militar não o quis acompanhar numa aventura política. Os esquerdistas impediram-no de adquirir um mandato democrático. Não encontrou ninguém na nova oligarquia, para o ajudar a defender o direito dos guineenses ou dos angolanos a votar em eleições livres. Foi a decisão do general em agir apesar de tudo, em arriscar e dar a cara, que os comentadores mais superficiais tomaram como sinal de «inépcia». Spínola pode ter falhado. Em história, é sempre mais fácil descobrir virtudes nos vencedores. Mas aqueles para quem a história não é simplesmente um filme a que se deve assistir sentado e em silêncio, podiam talvez olhar para Spínola com o respeito que merece quem lutou abertamente, mesmo desesperadamente, por causas que, anos depois, uma maioria dos portugueses concluiu finalmente serem causas boas. Ninguém é obrigado a vencer."


Ninguém é obrigado a vencer, mas aqui fica outro extracto do mesmo autor:

"Álvaro Cunhal nunca o subestimou: «De todos os conspiradores contra-revolucionários, foi o que mais arriscou e mais deu a cara». Admitiu mesmo que «foi a sua acção [que] acabou por determinar o desenvolvimento e o êxito da contra-revolução». Sem a agitação e as conjuras conduzidas pelos spinolistas, e depois pela Igreja Católica, talvez Álvaro Cunhal não tivesse telefonado a Costa Gomes na noite de 24 para 25 de Novembro de 1975."

Quanto aos direitos políticos dos negros no contexto português, não vejo qualquer mal nisso. Elegeriam os seus governos próprios numa federação ou numa região autónoma.

E como é que seriam possíveis esses «governos próprios» étnicos em Angola (por exemplo) a partir do momento em que houvesse livre organização política e um voto por cabeça? Definir-se-iam bantustões separados? E para quem? Para a maioria preta ou para a minoria branca?

E elegeriam órgãos federais em Lisboa e haveria alguns ministros negros.

E qual seria o papel desses «orgãos federais»? Zelar pela democraticidade interna dos bantustões?

É assim tão chocante para a sua sensibilidade branca?

Parece-me algo chocante para a inteligência do possível, que não tem nenhuma coloração especial, e também para a sensibilidade negra que não me merece menor consideração.

Se o é, está no País errado. Este é, historicamente, para bem ou para mal, o País que fez o mulato. E o Brasil está aí para o provar como exemplo de sucesso.

Acho que quem está no país errado quando considera o caso brasileiro é o meu amigo. A evolução histórica do Brasil não tem nada a ver com esse seu sonho de um Portugal federativo e miscigenado. Aliás bastou o pequeno período do Reino Unido de Portugal e Brasil, durante a permanência da corte no Brasil depois das invasões francesas da metrópole, para criar não só uma enorme insatisfação em Portugal, como a própria declaração unilateral de independência do Brasil um pouco mais tarde. E no caso brasileiro, nem sequer se punha o problema da representação política de uma maioria étnica muito diferente da classe governante antes ou depois da independência, uma vez que os escravos negros não tinham direitos políticos. As oposições eram exclusivamente entre portugueses de aquém e além Atlântico e o Brasil dos nossos dias não é apenas o resultado dessa colonização, mas sim de uma enorme imigração de múltiplas origens, incluindo a italiana, espanhola, alemã, japonesa etc.

Qual é a semelhança de uma tal situação com o quadro da segunda metade do século XX, em que uma hipotética metrópole federativa -- homogénea dos pontos de vista étnico e cultural à partida -- coexistiria com os outros estados da federação repartidos entre, de um lado, os colonos e seus descendentes minoritários, e do outro, em vez de simples escravos, maiorias autóctones dotadas de direitos políticos e expectativas?

Veja. Ninguém tem ilusões de que, se se fizesse um referendo este seria apenas meio livre. E que os movimentos terroristas nunca seriam legalizados como partidos. E que a guerra continuaria.

A melhor hipótese de minorar os sofrimentos teria sido compreender que os famosos «ventos da história» que Salazar menosprezava não eram meras brisas mas tempestades irrresistíveis. E era preciso tê-lo reconhecido a tempo para conseguir descolonizações como a inglesa do Gana (ou até do Quénia, apesar dos Mau-mau e da sua violenta repressão).

E que uma abertura democrática, com partidos limitados seria sempre restrita durante mais de década e meia. E ainda que, mesmo com mais negros nos poderes autónomos seriam os brancos a tocar a flauta. Tudo porém preferível à destruição desses territórios, aos milhares de mortos em guerras civis e às ditaduras marxistas que aí vigoraram por décadas.

Começamos então a aproximar-nos da desmistificação do mito da colonização portuguesa de características únicas. Só que rematamos com o habitual «white man's burden» que justificaria o mirabolante projecto federal.

A vantagem da autodeterminação, com guerra, era a de que um referendo serviria para legitimar a independência da Guiné e para concentrar o esforço de guerra nos outros territórios. Guerra que estava ganha em Angola e que poderia ser invertida a nosso favor em Moçambique com a albufeira de Cabora Bassa a vedar a penetração em Tete.

Numa guerra de guerrilha de libertação nacional, o lado convencional que não ganha politicamente, perde; ao passo que os insurgentes que se limitam a não perder, ganham. Mas acho que a lição ainda não foi assimilada pelos militares. Os franceses também dizem que tinham ganho na Argélia e que só perderam depois disso por artes mágicas. Mas o exemplo clássico e praticamente único de alguma vez uma potência ocidental ter «ganho» uma guerra desse tipo, foi o dos ingleses na Malásia, por terem conseguido suprimir a sublevação comunista, evacuado as ex-colónias malaias em boa ordem, e entregue o poder aos locais de sua escolha. É um palmarés muito pobre, mas o cliché da «facada nas costas» continua a sua carreira...

A sociedade multiracial Angolana era muito mais próxima de um proto-Brasil do que de qualquer Rodésia. O meu amigo se calhar não conhece, mas teria valido a pena ter conhecido.

A fantasia do paralelismo afro-americano é de tal ordem que até faz esquecer aquele pormenor da UDI brasileira de 1822 pelo Ian Smith local, não é verdade?...

Quanto tempo duraria a guerra? O tempo que tivesse que durar.

A guerra estava ganha porque a eternidade não tem fim?

A participação dos negros na política desmoralizaria a guerrilha

Sim, claro. Tudo o que seria preciso seria dizer «participem na política!» e os negros diriam «sim, patrão» e participariam na política, dançando alegremente o vira do Minho.

e os efectivos militares deveriam, crescentemente, ser de recrutamento local. Se o conflito fosse bem conduzido até 1981 beneficiar-se-ia da lógica da guerra-fria e do apoio de Reagan.

Efectivos leais recrutados localmente a crescer, apoio americano e, com um bocado de sorte, ajuda da fada madrinha.

Finalmente, acha que controla a imigração árabe e negra? Veja a França e a Inglaterra.

Claro que são situações absurdas, mas desde quando é que um tipo de disparate deixa de o ser só porque outro tipo de disparate se manifesta? Só se me disser que considera a imigração problemática desmedida como única alternativa ao tal modelo de «federação miscigenada»...

Abro aqui um breve parentesis para explicar que não me passa pela cabeça admitir sob qualquer pretexto que seja que se impeça cada indivíduo de se reproduzir como muito bem entenda. As minhas objecções não são de carácter racista. Dizem respeito simplesmente ao fomento de perturbações maciças que introduzem perturbações graves em sociedades multisecularmente estáveis. E no caso da federação multiracial portuguesa, a ideia parece-me, não só utópica do ponto de vista prático, como comprometedora dos interesses da metrópole.

Deve viver noutro mundo. Em breve terá algo parecido com a queda do Império Romano às mãos dos bárbaros a quem fora dada a cidadania. Seria preferível manter um Império português multiracial e com identidade própria.

A ver vamos. Compreendo melhor as suas ansiedades (que em certa medida partilho) do que as suas tranquilidades utópicas. De um modo geral, não sou tão pessimista nem tão sonhador.

Mas isso é para quem gosta do seu País. Para niilistas, acredito que tanto se lhes dê.

Não exageremos nem a falta de gosto, nem o desgosto. O fim da história ainda vem longe.

Cumprimentos e até sempre.

Cumprimentos e, por este caminho, até breve...

3:54 da tarde  

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