quinta-feira, dezembro 14, 2006

Se eu fosse alemão

Se eu fosse alemão, oriundo dessa terra amiúde enovoada, pálida e fria, com seus horizontes indecisos, a obscuridade daquelas florestas incitar-me-ia a sonhar, e sonharia como ninguém neste mundo. Viajaria ousadamente pelo império nocturno da música, que se estende até aos limites desconhecidos do universo, e criaria devaneios metafísicos assombrosos cujas nuvens misturadas com meus fumos industriais planariam, ainda hoje, sobre o Ocidente. Para meu repouso inventaria contos terríveis que levariam as crianças a buscar apressadamente refúgio no sono. Teria espírito científico, de síntese, mas qual seria, de facto, o meu? O drama residiria em que, podendo ser tantas coisas, ficava sem saber quem, bem lá no fundo, sou. Um anjo melancólico e atormentado, dir-me-iam meus violinos schubertianos; um deus, murmurariam, ribombando, os dragões fechados em minhas tubas wagnerianas; uma Ideia com raízes mágicas na Floresta Negra? Um ogre de calções de couro e chapéu à tiroleza?
Bom. Melhor é deixar isso tudo, pois sou apenas português. Vivo num país de sonho, mas não sonho.
E sei quem sou.

Nótula: Dedico especialmente este bilhete ao meu amigo Bruno Oliveira Santos.

3 Comentários:

Anonymous Anónimo said...

e dizem-se nacionalistas?

que belo exemplo de amor à pátria.

10:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ó Miguelinho, vai passear para o parque na bicicleta com rodunhas, que isto aqui é para adultos.

11:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Ó Miguelinho, vai passear para o parque na bicicleta com rodunhas, que isto aqui é para adultos."

Além de baixo, é estúpido.

9:25 da tarde  

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