Belíssima canção impecàvelmente cantada por Peggy Lee, não sei mesmo se a sua melhor. O seu "Black Coffee", outra maravilha, deixou de ser tocada há dezenas d'anos, creio que nos últimos trinta só a ouvi uma vez na rádio e outra na televisão e isto há muito tempo! O sucesso de ambas, lá pelo fim dos anos cinquenta, ou por aí, foi estrondoso. Eu era novinha mas lembro-me desta canção ser tocada vezes sem conta nas várias estações radiofónicas. E o Eurico sabe o que foi feito dessoutra pequena maravilha dos anos sessenta, creio, "Brasilian Coffee" (não sei se o título era exactamente este) cantada por Frank Sinatra? Uma canção de uma ironia deliciosa absolutamente insuperável, com o 'café' novamente como tema central e que mais não visava senão brincar com as 'toneladas' de café que efectivamente os brasileiros bebem e interpretada como só o Sinatra sabia fazê-lo. Uma parte da letra 'rezava' assim: " A politician's daughter/ Was accused of drinking water/ And was found a fifty thousand dollar bill/... They drink an awful lot o'coffee in Brasil..." e continuava engraçadíssimo o poema, afirmando que os brasileiros não ligavam pêva às batatas fritas ou ao sumo de tomate (que os americanos adoram), o que eles realmente não dispensavam era o seu black café e em quantidades industriais! Acha isto criticável e/ou injurioso para alguém, para ter sido 'retirada' do mercado? E não me venham com a 'história' da letra da canção eufemìsticamente encobrir uma mensagem política mas que, sub-reptìciamente, estaria a transmitir outra (como cheguei a ouvir), porque me recuso a aceitar semelhante disparate, eu e os meus pais conhecemos pessoas muito próximas de Sinatra e de sua família e sei do que estou a falar, ele recusar-se-ia a manobras políticas (sujas) desta natureza. A verdade é que a letra desta canção, parece, terá provocado um certo 'sururu' político e desconfôrto diplomático entre os dois países, imagine-se... (já o polìticamente correcto começava a imperar pelo globo e de que maneira), por causa de uma inofensiva cançãozeca (o Black Coffee de P. Lee terá entrado neste rol mas no das semi-poibições, os motivos terão sido outros mais subtís e não tendo, embora, sido totalmente banida foi porém 'aconselhada' a não ser muito difundida ou tocada). Lembra-se desta canção do Sinatra? O que lhe terá acontecido que simplesmente se volatilizou no éter, terá sido banida por (será possível?) narrar a história de um pretenso 'vício' de uma hipotética filha de um hipotético político brasileiro 'gastar somas fabulosas' na compra de café (se a letra da canção afirmasse que a rapariga comprava droga em vez de café, então sim, é que teria sido considerada modernaça, descomplexada e ultra-progressista e o disco teria sido um best seller mundial, teria ganho todos os prémios existentes na altura e teria sido intitulada a melhor canção do século) provocando um rombo tremendo no orçamento de Estado..., grande 'crime' a letra desta canção! O certo é que se eclipsou e nunca mais foi tocada em Portugal desde há trinta e tal anos. Antes d'abrilada e pelas conotações políticas que este e outro tipo de poemas pudesse suscitar, eventualmente melindrando Estados amigos, é que, supostamente e por ser aquele um regime autoritário, seria admissível terem sido proibidas canções com este tipo de poemas e no entanto estávamos sempre a ouvi-las nas rádios..., estranho... veio a 'liberdade total' com a 'democracia' às cavalitas e as canções que não agradam ao sistema são proibidas há 32 anos, tal qual os livros incómodos para o regime e para certos políticos são retirados das livrarias, ou seja, temos (dizem eles) um 'regime democrático' mas acompanhado de uma censura férrea camuflada - muito pior do que a uma verdadeira ditadura onde ela se manifesta às claras - porque, sendo-o, hipòcritamente finge não o ser, como afinal parece existir igualmente há muito no auto-proclamado País mais liberal e democrático do mundo! Grandes liberdades e grandes democracias, não haja dúvidas... Outra maravilhosa gravação de teor acentuadamente político mas com um poema belo e respeitoso, que é/era um pedido directo - quase um apelo plangente - ao dirigente soviético e uma crítica indirecta ao seu regime e de extrêma oportunidade pelo momento que se atravessava, aliás muito bem cantado por Sting e que se chamava "Mr. Gorbachov" (acho ser este o título). Sabe o que foi feito deste disco que parece também ter-se evaporado? Outro mistério, mas este de fácil deslindamento, talvez... Este é um dos mais inteligentes poemas de crítica política positiva de todos os tempos. E olhe que canções de acentuado teor político, com letra e música de excelência, sem a mínima ofensa para regimes e/ou políticos no poder, mas com mensagens explícitas e inteligentes atingindo os alvos como punhais, não há muitas feitas nos últimos 50 anos - esta de Sting é sem dúvida uma referência incontornável na musicografia mundial e ficará na história, por ser de uma criatividade e oportunidade inexcedíveis e èticamente irrepreensível. E tudo isto feito através de um poema simples quase sublime, bem cantado - quase falado - com um suporte musical perfeito, a par de uma dicção impecável, como deveríam ser todas mas raramente o são, fazendo lembrar pela beleza, inteligência, simplicidade e dicção ímpares, as composições musicais e poemas prodigiosos que brotam da pena e da mente desse genial Chico Buarque, mas igualmente muitos dos poemas cantados por Sinatra, Aznavour (outra maravilha), Nat K. Cole e alguns mais, cujo sucesso brutal da maioria dos seus discos se ficou a dever essêncialmente a três qualidades indissociáveis, inigualáveis e inesquecíveis que todos eles possuíam: poemas sublimes, suporte musical ou orquestrações de excelência e tonalidade de voz e dicção perfeitas, diria insuperáveis. Qual foi o 'pecado' de Sting, um pacifista avant-la-lettre, ao compôr este inofensivo poema para terem-no feito desaparecer da circulação? Terá sido por nele ter-se dirigido directamente ao dirigente soviético?! Talvez, mas, segundo me disseram, o próprio Gorbachov tê-lo-á escutado com benevolência e prestado alguma atenção à inteligente mensagem respeitosamente transmitida, que, de resto, o elogiava como dirigente político e como pessoa. Nunca o saberemos com precisão mas a culpa não é certamente dos autores (como não o é dos autores dos livros acima referidos, que mal postos à venda são imediatamente retirados a mando dos visados, por neles serem revelados não os seus pecadilhos mas os seus pecadões) e a dúvida subsistirá para sempre. Muitos parabéns Eurico, por aqui ter trazido esta inesquecível "Fever".
Não conhecia essa história incrível da canção da Peggy Lee, obrigado por a contar. E a canção do Sting de que fala chama-se 'Russians'. Também nunca mais a ouvi em parte nenhuma. Cumprimentos.
4 Comentários:
Yesssssssss!
Gostava de ouvir a Diana Krall cantar isto. Ai se gostava.
Belíssima canção impecàvelmente cantada por Peggy Lee, não sei mesmo se a sua melhor. O seu "Black Coffee", outra maravilha, deixou de ser tocada há dezenas d'anos, creio que nos últimos trinta só a ouvi uma vez na rádio e outra na televisão e isto há muito tempo! O sucesso de ambas, lá pelo fim dos anos cinquenta, ou por aí, foi estrondoso. Eu era novinha mas lembro-me desta canção ser tocada vezes sem conta nas várias estações radiofónicas.
E o Eurico sabe o que foi feito dessoutra pequena maravilha dos anos sessenta, creio, "Brasilian Coffee" (não sei se o título era exactamente este) cantada por Frank Sinatra? Uma canção de uma ironia deliciosa absolutamente insuperável, com o 'café' novamente como tema central e que mais não visava senão brincar com as 'toneladas' de café que efectivamente os brasileiros bebem e interpretada como só o Sinatra sabia fazê-lo. Uma parte da letra 'rezava' assim:
" A politician's daughter/
Was accused of drinking water/
And was found a fifty thousand dollar bill/...
They drink an awful lot o'coffee in Brasil..." e continuava engraçadíssimo o poema, afirmando que os brasileiros não ligavam pêva às batatas fritas ou ao sumo de tomate (que os americanos adoram), o que eles realmente não dispensavam era o seu black café e em quantidades industriais! Acha isto criticável e/ou injurioso para alguém, para ter sido 'retirada' do mercado? E não me venham com a 'história' da letra da canção eufemìsticamente encobrir uma mensagem política mas que, sub-reptìciamente, estaria a transmitir outra (como cheguei a ouvir), porque me recuso a aceitar semelhante disparate, eu e os meus pais conhecemos pessoas muito próximas de Sinatra e de sua família e sei do que estou a falar, ele recusar-se-ia a manobras políticas (sujas) desta natureza. A verdade é que a letra desta canção, parece, terá provocado um certo 'sururu' político e desconfôrto diplomático entre os dois países, imagine-se... (já o polìticamente correcto começava a imperar pelo globo e de que maneira), por causa de uma inofensiva cançãozeca (o Black Coffee de P. Lee terá entrado neste rol mas no das semi-poibições, os motivos terão sido outros mais subtís e não tendo, embora, sido totalmente banida foi porém 'aconselhada' a não ser muito difundida ou tocada). Lembra-se desta canção do Sinatra? O que lhe terá acontecido que simplesmente se volatilizou no éter, terá sido banida por (será possível?) narrar a história de um pretenso 'vício' de uma hipotética filha de um hipotético político brasileiro 'gastar somas fabulosas' na compra de café (se a letra da canção afirmasse que a rapariga comprava droga em vez de café, então sim, é que teria sido considerada modernaça, descomplexada e ultra-progressista e o disco teria sido um best seller mundial, teria ganho todos os prémios existentes na altura e teria sido intitulada a melhor canção do século) provocando um rombo tremendo no orçamento de Estado..., grande 'crime' a letra desta canção! O certo é que se eclipsou e nunca mais foi tocada em Portugal desde há trinta e tal anos. Antes d'abrilada e pelas conotações políticas que este e outro tipo de poemas pudesse suscitar, eventualmente melindrando Estados amigos, é que, supostamente e por ser aquele um regime autoritário, seria admissível terem sido proibidas canções com este tipo de poemas e no entanto estávamos sempre a ouvi-las nas rádios..., estranho... veio a 'liberdade total' com a 'democracia' às cavalitas e as canções que não agradam ao sistema são proibidas há 32 anos, tal qual os livros incómodos para o regime e para certos políticos são retirados das livrarias, ou seja, temos (dizem eles) um 'regime democrático' mas acompanhado de uma censura férrea camuflada - muito pior do que a uma verdadeira ditadura onde ela se manifesta às claras - porque, sendo-o, hipòcritamente finge não o ser, como afinal parece existir igualmente há muito no auto-proclamado País mais liberal e democrático do mundo! Grandes liberdades e grandes democracias, não haja dúvidas...
Outra maravilhosa gravação de teor acentuadamente político mas com um poema belo e respeitoso, que é/era um pedido directo - quase um apelo plangente - ao dirigente soviético e uma crítica indirecta ao seu regime e de extrêma oportunidade pelo momento que se atravessava, aliás muito bem cantado por Sting e que se chamava "Mr. Gorbachov" (acho ser este o título). Sabe o que foi feito deste disco que parece também ter-se evaporado? Outro mistério, mas este de fácil deslindamento, talvez... Este é um dos mais inteligentes poemas de crítica política positiva de todos os tempos. E olhe que canções de acentuado teor político, com letra e música de excelência, sem a mínima ofensa para regimes e/ou políticos no poder, mas com mensagens explícitas e inteligentes atingindo os alvos como punhais, não há muitas feitas nos últimos 50 anos - esta de Sting é sem dúvida uma referência incontornável na musicografia mundial e ficará na história, por ser de uma criatividade e oportunidade inexcedíveis e èticamente irrepreensível. E tudo isto feito através de um poema simples quase sublime, bem cantado - quase falado - com um suporte musical perfeito, a par de uma dicção impecável, como deveríam ser todas mas raramente o são, fazendo lembrar pela beleza, inteligência, simplicidade e dicção ímpares, as composições musicais e poemas prodigiosos que brotam da pena e da mente desse genial Chico Buarque, mas igualmente muitos dos poemas cantados por Sinatra, Aznavour (outra maravilha), Nat K. Cole e alguns mais, cujo sucesso brutal da maioria dos seus discos se ficou a dever essêncialmente a três qualidades indissociáveis, inigualáveis e inesquecíveis que todos eles possuíam: poemas sublimes, suporte musical ou orquestrações de excelência e tonalidade de voz e dicção perfeitas, diria insuperáveis. Qual foi o 'pecado' de Sting, um pacifista avant-la-lettre, ao compôr este inofensivo poema para terem-no feito desaparecer da circulação? Terá sido por nele ter-se dirigido directamente ao dirigente soviético?! Talvez, mas, segundo me disseram, o próprio Gorbachov tê-lo-á escutado com benevolência e prestado alguma atenção à inteligente mensagem respeitosamente transmitida, que, de resto, o elogiava como dirigente político e como pessoa.
Nunca o saberemos com precisão mas a culpa não é certamente dos autores (como não o é dos autores dos livros acima referidos, que mal postos à venda são imediatamente retirados a mando dos visados, por neles serem revelados não os seus pecadilhos mas os seus pecadões) e a dúvida subsistirá para sempre.
Muitos parabéns Eurico, por aqui ter trazido esta inesquecível "Fever".
Maria
Não conhecia essa história incrível da canção da Peggy Lee, obrigado por a contar. E a canção do Sting de que fala chama-se 'Russians'. Também nunca mais a ouvi em parte nenhuma. Cumprimentos.
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