Com um estalar de dedos
Anda a passar nas televisões um anúncio a preto e branco «artístico», no qual vários pequenos e médios «famosos», e alguns cidadãos anónimos, estalam os dedos. A intenção da publicidade, segundo proclama o «famoso» Diogo Infante no final, é «pressionar o governo para ajudar a acabar com a pobreza» nos países subdesenvolvidos, no âmbito de uma campanha internacional baptizada «Pobreza Zero». Nunca ocorreu aos descomunalmente cândidos que concebem, executam, promovem ou dão a cara por campanhas destas, que seria consideravelmente mais eficaz pressionar os governos corruptos, cleptocráticos, falidos e canibais dos países do Terceiro Mundo, e de África muito em especial; ou então exigir ao nosso governo que o faça por nós. Não, isso seria «racismo» e «paternalismo». Afinal esses poderes vendidos e sanguinários mais não são do que o resultado natural de anos e anos de exploração e de opressão colonial. A culpa não é deles, é nossa. Flagelemo-nos, portanto, façamos o nosso acto de contrição, usemos orgulhosamente as nossas causas na lapela para nos sentirmos muito justos, sigamos o exemplo dos «famosos» e vamos lá acabar com a pobreza no Terceiro Mundo. Afinal, basta apenas um estalar de dedos para acabar com a miséria obscena na Libéria, com a bancarrota e a prepotência estatal no Zimbabué, com a fome e a seca escancaradas na Somália, ou com a anarquia famélica no Sudão, não é? E então se o Bono também estalar os dedos connosco, o leite, o mel e o petróleo começam a correr em jacto contínuo.
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