quarta-feira, março 15, 2006

Desprezo e amor

O refúgio na solidão, o enroscar-se inteiramente em si próprio por desprezo dos outros, é raramente sinal de força ou de grandeza, constituindo amiúde, marca de indolência ou arrogância.
Por outro lado, prezar o amor entre os homens está frequentemente bem longe de ser prova de bondade ou de sabedoria; a maior parte das vezes não passa de pieguice ou, mesmo, de fraqueza de espírito, quando não é pura e simples hipocrisia, podendo até esta ser mero produto de um processo íntimo de tentativa de encobrimento das duas primeiras.
Em lugar de desprezar ou amar tudo e todos, seria talvez mais digno e útil para a comunidade que cada um começasse por tomar consciência da sua pertença a um todo — que, aliás, deve ser fruto de um longo, orgânico e profundo processo de identificação — ditada pela própria natureza, agindo depois em consequência e consonância, assumindo os deveres que daí advêm.