Coisas que ficam
Vivemos num mundo em que tudo é cada vez mais descartável, dos produtos às ideias, das marcas à cultura. Um computador fica ultrapassado em poucas semanas, a vedeta do momento cai no esquecimento num abrir e fechar de olhos, o modelo de sapatos que nos habituámos a usar deixa de ser fabricado de repente, a loja que frequentávamos regularmente aparece fechada uma bela manhã. Tudo dura cada vez menos e cada vez mais as coisas são feitas para terem vida curta. Mas hoje entrei num grande centro comercial de Lisboa e fiquei emocionado e satisfeito por encontrar, na secção de brinquedos, e entre dezenas de outros, os jogos da Majora. Quando eu era pequeno, jogos eram sinónimo de Majora, tal como carrinhos eram sinónimo de Matchbox, Dinky e Corgi Toys, comboios-minatura de Marklin, ou aviões para montar de Revell. Muitas, muitas marcas, objectos e produtos da minha infância e juventude desapareceram para sempre, desde comestíveis a remédios, passando por brinquedos (e como mudaram os brinquedos!) e por modestas e úteis coisas do quotidiano que deixaram de ter uso ou de fazer sentido - isto segundo quem fabrica e promove as coisas que as substituiram, claro. Por isso, foi reconfortante saber que os jogos da Majora continuam a existir, que ainda há quem os compre para os filhos, sobrinhos e netos, que são jogados e apreciados de geração em geração. Neste mundo em que tudo fica obsoleto a toda a velocidade, e em que cada vez há mais variedades de um mesmo produto para escolhermos, sabe bem ver que certas coisas e marcas insistem em ficar, em contrariar a cultura do usa-e-esquece, a civilização do descartável. E se elas foram importantes nos nossos anos descuidados, se cresceram connosco, se participaram da nossa formação, sabe ainda melhor. Ah: e o logótipo da Majora é exactamente o mesmo do tempo em que os meus pais e avós me davam jogos de tabuleiro de presente.
11 Comentários:
Pelo que sei, a Majora (empresa portuense com mais de 60 anos) vai bem e faz-me recordar os 'tempos descuidados', já com saudade.
Um link para os nostálgicos
Belo «link». Vê-se que é uma empresa que preserva a memória. Talvez seja também por isso que se tem mantido.
Quando comecei a comprar brinquedos para os meus pequenos foi com grande satisfação que constatei que a Majora continuava no mercado com a qualidade de sempre.
Eu insisto em comprar jogos da Majora aos meus miúdos, continuam a ser excelentes, com uma vertente tradicional. É uma marca portuguesa, com certeza. E boa!
Brinquedos... Havia autênticos reinos mágicos. Lembra-se do Biagio Flora na R. do Ouro? Ou da outra casa de que me não lembro o nome ao lado do Lourenço & Santos, nos baixos do Palace? E uma outra, magnífica, nas arcadas do Estoril?
Se me lembro! Não sei se existem ainda as lojas do Estoril que menciona, tenho que perguntar a um amigo mais velho, que ia lá muito mais do que eu, e com maior regularidade.
Je Maintiendrai, era a mítica Quermesse de Paris.
A loja no Estoril fechou há anos... Cresci a ver aqueles cavaleiros, soldados e jogos atrás das montras.
Então já fecharam todas: Biagio, Quermesse e a do Estoril. Tristeza!
Não são brinquedos mas são do meu tempo:
http://www.umacasaportuguesa.com/
Best regards from NY! » »
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