Sandra do Heroísmo

Na já quente alvorada do dia 7 de Agosto de 2006, acabo de ouvir, às 07.40, no boletim metereológico, em voz feminina fesca, luminosa e quase cristalina: "(...) nos Açores, em Sandra do Heroísmo, 27 graus".
Ignoro o nome da gentil locutora mas imagino-a, por exemplo, Sandra Carmina. E porque não? Sandra, em dádiva onomástica liberal àquela calheta que acoitou, em 1829, as incipientes forças de D. Pedro de Alcântara que, qual Sandro-Alexandre, se preparava já para a heróica expedição que derrotaria o Miguelismo em Portugal.
Por outro lado, Carmina - apesar de vir do latim "Carmen", que significa canção e, por extensão, quem tem voz agradável - está em voga em Inglaterra e seria, assim, homenagem ao país que deu apoio necessário e substancial, sobretudo naval e financeiro, ao empreendimento libertador que partiu da tal calheta, ou Angra, açoriana.
De qualquer forma, registo e saúdo mais um caso de ilustração dos media portugueses pois, o que aqui pode ter sido um mero "lapsus linguae", não exclui a avalancha diária de disparates ditos por pessoal de serviço, sem sanções negativas ou, sequer, reparos que se notem. Isto numa "antena", a "dois", que se pretende civilizada e culta (e despede, ou afasta, como recentemente sucedeu, um dos seus melhores elementos, o extraordinário Joel Costa - programa "Questões de Moral"), é preciso, no apuradíssimo estádio da cultura em Portugal, de facto, muita coragem, muito heroísmo.