Hemingway, o criminoso de guerra
Primeiro, foi o Prémio Nobel da Literatura alemão Günter Grass a revelar que tinha sido das SS no final da II Guerra Mundial, embora tenha jurado que nunca disparou um tiro. Agora, descobre-se que outro Prémio Nobel da Literatura, o americano Ernest Hemingway, não só matou prisioneiros de guerra alemães na II Guerra Mundial após a invasão da Normandia, como admitiu ter gostado da sensação. A notícia já veio no jornal argentino "El Clarín", no italiano "Corriere della Sera" e no brasileiro "Estado de S. Paulo": um jornalista alemão da revista "Focus", Rainer Schmitz, enquanto recolhia material para um livro de histórias pouco conhecidas, curiosidades e anedotas sobre escritores famosos, descobriu duas cartas escritas por Hemingway. Nelas, o autor de "Adeus às Armas" não só descreve como matou vários soldados alemães prisioneiros de guerra - um total de 122, segundo o próprio contabilizou em 1950 -, como se gaba de tais actos e salienta "sim, tive prazer em matar". Num dos episódios, Hemingway conta que alvejou um "jovem soldado alemão que tentava fugir numa bicicleta e que devia ter a idade do meu filho Patrick". Noutro ainda, quando um SS - referido como um "kraut" - o desafia e fala na Convenção de Genebra, o escritor alveja-o três vezes à queima-roupa, no estômago e na cabeça, e vê "os miolos sairem-lhe pela boca". Não se conhecem testemunhas destes actos e sabe-se que Ernest Hemingway gostava muito de se gabar, cultivava cuidadosamente uma imagem machista e tendia a exagerar histórias da sua vida e embelezar dados biográficos. Mas a verdade é que o escritor teve não só a oportunidade como também o poder para fazer o que disse nas cartas e obviamente, ficar impune. Além disso, sempre gostou de armas, sabia usá-las e tinha o prazer da caça. Num artigo publicado em Abril de 1936 na revista "Esquire", escreveu esta frase arrepiante: "Certamente nenhuma caça se pode comparar à caça ao homem, e quem caçou homens armado, por um longo período de tempo e com prazer, nunca mais se interessou por outra coisa depois dessa experiência". O correspondente de guerra Hemingway juntou-se ao exército americano em meados de 1944, por altura da invasão da Normandia, como oficial, estava com as primeiras tropas que entraram em Paris e trabalhou para a OSS, antecessora da CIA, podendo assim interrogar prisioneiros de guerra. Na segunda das duas cartas referidas, datada de 1950 e enviada ao seu amigo Arthur Mizener, professor de literatura na Universidade de Cornell, Ernest Hemingway escreve: "Fiz alguns cálculos e posso afirmar com exactidão que matei 122 alemães". Resta ver como reagem os indignados profissionais das "atrocidades" dos derrotados na II Guerra Mundial, a esta revelação de que um dos mais ilustres nomes literários da banda dos vencedores deste conflito foi um criminoso de guerra. Só que do lado dos "bons".